Abro os olhos lentamente, ainda atordoada por não lembrar precisamente onde estou. A primeira imagem que a minha visão foca é o rosto de Henrique. Ele sorri. O momento parece um sonho gerado pelo meu subconsciente. Seu dedo desliza cuidadosamente pelo meu rosto e repousa em meu queixo. Inclino minha cabeça um pouco e recebo um doce beijo.
Ele é real.
_Você acabou dormindo. - Ele me esclarece, assim que nota minha incompreensão.
Levanto-me sobressaltada.
_Oh, eu não devia. Quanto tempo dormi? Essa altura já estão a minha procura.
Olho envolta para me localizar, contudo não reconheço o local em que me encontro.
_Eu a trouxe para o quartinho que existe atrás do estábulo, eu o uso para guardar algumas ferramentas. Quase ninguém entra neste lugar. Estamos seguros. Disse a Timothy que iria ao ferreiro fazer algumas encomendas para justificar minha ausência. E então a carreguei até aqui.
_Você devia ter me acordado, Henrique.
_Eu bem que tentei. - Diz, soltando um riso alegre. - Mas você parecia cansada demais para me ouvir.
Omito o fato de ter passado a noite acordada remoendo os conselhos de Kate e buscando dentro de mim força suficiente para vir atrás dele.
_Duvido muito. - Retruco. Tento me ajeitar, parecer menos desmazelada. - Que horas são?
_Mal passa das dez. Você é quem acordou mais cedo do que o normal. Sem dúvidas, sua família ainda deve estar dormindo.
_É um terrível hábito que possuo. - Sorrio, lembrando de que era isso que Elga sempre me dizia quando menina.
_Eu me acostumo. - Ouço-o dizer, com a voz ligeiramente baixa.
De repente, a sensação de vida saindo do eixo arrepia todo meu corpo. Olho para ele, antes impossível e agora ao alcance do meu braço. Para que Henrique caiba no meu destino eu preciso abandonar o mundo opressor dentro do qual nasci, o único que conheço. A coragem é um sentimento deveras oscilante, em um momento nos impulsiona e no minuto seguinte nos deixa. Porém o amor é o mais sólido dos sentimentos, ao menos o que reside em meu coração. É como a raiz que sustenta o meu corpo. Eu me pergunto de onde vem essa certeza. Mas eu mesma desconheço a origem.
_E quais são os aspectos a seu respeito a que deverei me acostumar? - Me anima a chance de conhecer mais sobre ele. - Espero que não seja nada que me desestimule a querê-lo, pois eu praticamente me vi obrigada a rastejar aos seus pés quase agora. Seria, no mínimo, grosseiro de sua parte.
Consigo fazê-lo rir, mesmo com o cenho franzido.
_Você esteve bem distante de ter que se rastejar. - Ele replica, tentando soar ofendido.
_Oh, é mesmo? Só faltou que você empunhasse uma faca e me pedisse um pacto de sangue para garantir minha palavra. - Coloco minha mão na cintura, desafiando-o a contestar.
Ele fica quieto e pensativo por um instante. E eu imediatamente me arrependo da torpe brincadeira.
_É difícil confiar. - Assume Henrique, colocando-se em pé. - E sorte sua que eu não carrego uma faca comigo.
Eu rio, sentindo-me aliviada, quando começo a escutar sua risada. Henrique parece alguns anos mais jovem agora. Com menos preocupações e permitindo-se ser apenas um homem que flerta com uma moça que lhe agrada.
_Então, péssimo humor sarcástico. - Gracejo, fingindo estar tomando nota com as mãos. - Quais os seus defeitos terei que aguentar? Quero me sentir preparada.
Ele arqueia a sobrancelha, e depois pisca, lançando-me um sorriso imoral. Uma sensação de quentura cobre meu rosto, que certamente está carmesim, pois vejo como Henrique diverte-se ao perceber o efeito que me causa.
_Você não prefere descobri-los por conta própria? - Ele sugere e começa a aproximar-se. - Tenho falhas facilmente identificáveis, lhe asseguro.
Minha respiração se abala quando Henrique deixa o rosto a centímetros do meu.
_É uma boa ideia. - Consigo dizer.
_Agora. - Seu olhar intenso prende minha atenção. - deixe-me que te mostre algumas de minhas qualidades.
É sedenta e urgente a forma como me beija, despertando partes de mim que eu nunca imaginei possível. Sua mão atrevidamente cobre meu seio, mas eu não o afasto. Eu careço senti-lo, tocá-lo, ser marcada como sua. Ele se entrega a mim da mesma forma que estou rendida a suas carícias. A sua língua toca a pele nua do meu pescoço, fazendo com que minhas inibições caiam por terra. Minhas mãos passam a explorá-lo, correndo pelos seus ombros largos, e deslizando por toda a extensão de seus braços. Dando luz aos meus pensamentos, eu escorrego minha mão por sob sua camisa e toco seu peito nu. Um grunhido rouco é o som que me estimula a continuar dedilhando cada canto da sua pele. Risco um rastro com as unhas em suas costas enquanto Henrique parece saber exatamente onde me beijar. A sua boca encontra minha nuca, deixando pequenas mordidas que incendeiam-me de desejo. Antes que eu perceba, os dedos habilidosos de Henrique se apressam em destrançar meu espartilho e baixá-lo. Eu sequer notei que ele havia feito o mesmo com o vestido.
_Eu preciso de mais... - Seu pedido soa desesperado.
Eu concordo com a cabeça, incapaz de encontrar minha voz.
_Meu amor - As forquilhas do meu cabelo são tiradas uma a uma. - Eu preciso de você.
Em algum lugar dentro de mim eu tento encontrar a voz que responda com a mesma intensidade que eu também preciso dele, mas não há uma maneira. Minha voz é embargada por uma emoção que me comprime o peito, trazendo lágrimas aos meus olhos.
_Não chore. - Henrique para de me tocar ao sentir as lágrimas que descem. - Não precisa ter medo de mim. Eu não faria nada para machucá-la, minha vida.
Minha vida.
_Eu não tenho medo. Eu confio em você. - Respondo, sem conter a emoção.
_Então por que o choro?
Eu não saberia explicar, apenas o beijo, e nos concentramos em demonstrar o que sentimos ao invés de dizê-lo. Henrique me deita sobre uma mesa de madeira e cobre meu seio desnudado com a boca, sugando levemente enquanto o outro seio é acalentado pela sua mão. A carícia causa pequena explosões dentro do meu corpo. Pequenos gemidos involuntários saem dos meus lábios. O que sinto é uma mistura de constrangimento por estar com uma parte do corpo nua na frente de um homem e um anseio incontrolável de pedir por mais.
_Henrique...
Com muita delicadeza sua mão áspera começa a alisar a seda que cobre minha perna e vai subindo. Vai subindo... Quando me acaricia na parte interior da coxa, meu corpo reage por vontade própria se contorcendo. Como pode existir sensações como essa? Inebriada, eu perco os sentidos. Ele beija meu ventre e entrelaça uma mão à minha, ao mesmo tempo que a outra se põe a retirar a minha meia. Balanço os braços, surpreendida quando sou tocada no cerne da minha feminilidade. O movimento acaba derrubando uma pequena lata de metal que estava próxima à minha cabeça, causando um pequeno estrondo. Henrique ergue a cabeça sem compreender o que se passa.
_Desculpa. - Me apresso em pedir. - Foi acidente. Não se preocupe, eu juntarei todos de novo na lata.
Olho para o chão e vejo pregos espalhados por toda parte. Quando volto a olhar para Henrique, noto a feição de seu rosto diferente. Preocupada. E até possivelmente com raiva.
_Eu posso catá-los agora mesmo.
Tento me mexer, apesar da pressão do corpo de Henrique sobre o meu, disposta a me levantar e colocar a lata com os pregos no mesmo lugar de onde a derrubei, ao ver como ele ficou aborrecido.
_Não seja boba. - Ele sorri, desanuviando sua expressão. - Não é necessário. Depois eu cuido disso.
Um rápido beijo me tranquiliza.
_Huum. - O encaro, tentando entender. - É que você pareceu me irritado.
_Não com isso, minha vida. - Ele retira seu peso de sobre mim. - Estou irritado comigo mesmo por perder o controle. Eu quase a arruino em um lugar feio e empoeirado como esse. Não está certo.
_Eu não me importo. - comento sem medir o que digo.
_Mas eu sim. - Ele sorri e começa a me vestir. - Eu a quero, por Deus... A desejo mais que tudo, mas não desta forma. Parece profano. Você é tão linda, quando eu estiver dentro de você, quero que seja em um lugar limpo e com uma cama.
Me assusto com o que acabei de ouvir.
_Dentro?
Ele sorri quando percebe minha confusão. Suas mãos seguram a minha.
_Ninguém nunca conversou com você sobre o que ocorre entre um homem e uma mulher?
Eu nego com a cabeça. Eu já li sobre beijos abrasadores em algumas novelas publicadas, porém nada comparado ao que ocorreu aqui.
_Eu prometo que em breve lhe explicarei. - Ele me concede um sorriso sedutor, assim que estou devidamente vestida. - E demonstrarei. Mas hoje não é apropriado que falemos sobre isso. Ou não serei capaz de me conter.
_Apenas os bebês ficam dentro da barriga de suas mães - pondero, pensando em voz alta. - Não vejo como é possível que um homem adulto consiga estar dentro de outro corpo.
Ele cobre meu rosto.
_Eu posso pensar em algumas distintas formas de fazer ser possível. - Ele deixa um beijo na ponta do meu nariz. - Anote: imaginação fértil e imoral. É o meu defeito mais corriqueiro, desde o dia em que você chegou a Londres.
Eu rio.
_Anotado mentalmente. Mas creio que posso perdoar essa espécie de falha.
_Eu deveria pedir para você me listar seus defeitos, pois essa seria a única forma de manter minhas mãos afastadas de você e a mente em outra coisa.
_Tudo bem. Deixe-me ver...
_Você é perfeita. - Ele anuncia simplesmente.
_Óbvio que não sou. - respondo. - Ninguém é.
_Pra mim, você é.
Seus dedos escorregam pelos fios dos meus cabelos castanhos, que estão soltos em cascatas de grossos cachos até a minha cintura.
_Eu encontrarei um jeito para que fiquemos juntos. Eu prometo.
Esse pequeno espaço fechado, e escondido da vista de todos, acabou me fazendo momentaneamente esquecer do anel de noivado em meu dedo, acorrentando-me como um grilhão a um casamento com Lorde Hadwerty.
_O contrato entre meu pai e o Duque foi assinado. Seria ilegal me casar com outro homem sem que antes esse contrato seja rompido.
_Nós não poderemos nos casar.
O semblante derrotado de Henrique parte meu coração. Para um homem, o casamento é a confirmação que a mulher desposada verdadeiramente pertence a ele. Enquanto um silêncio constrangedor nos cerca, meu coração dói por saber que nunca poderei ser sua esposa.
_Encontre comigo hoje a meia noite próximo a ponte do lago. - Uma ideia repentina me sobrevém. - Nós nos casaremos antes do raiar do novo dia.
_Você sabe que isso não é possível, Isadora. - Sua voz soa ferida.
_Você confia em mim? - Ele assente em silêncio. - Então esteja lá.
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[COMPLETO] A dama e o cavalariço
Historical FictionUma paixão proibida transformada em um amor que não pôde ser impedido. Quando Lady Isadora Pwenlly chegou a Londres para a temporada de 1826 estava resignada com o que o futuro lhe oferecia: um casamento por conveniência. O que a dama não previa é q...