Metáforas

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Eu não pertenço a esse mundo
As coisas são como são
Algo me separa das outras pessoas
Para onde quer que eu vire
Há algo bloqueando minha fuga

13 Beaches, Lana Del Rey

O iPhone de Samanta vibrou sobre a bolsa e a Braga suspirou fechando o gloss labial e arrumando seu uniforme, que se resumia em um vestido preto justo e sem decote preto, luvas e touca já que trabalharia ajudando nas refeições da boate. Prendeu os longos cabelos negros em um coque contrariadamente, não gostava de prendê-los, mas era necessário.

Como maquiagem havia apenas destacado os olhos e um corretivo para esconder as olheiras, havia até mesmo cortado as unhas e tirado o esmalte, era uma exigência de Roger também. Tudo pronto guardou sua nécessaire e sua roupa na mochila, assim como a carteira, os óculos e a maquiagem, guardou a mesma no armário e fez o mesmo com a bolsa, para só então pegar o celular e sair do vestiário feminino.

— Bom dia, queridinha. – Mariah tomou a sua frente apoiando os braços nas duas paredes, como a outra também vestia o uniforme e a touca. – Deu uma pequena crescidinha, não foi? Embora temo que não foi tão relevante, afinal continua na cozinha e recebendo ordens.

— Por que você realmente está muito acima, não é, gata? – rebateu já cansada da implicação que a outra insistia em ter com ela.

— A irmã mais velha de uma das diretoras limpando mesas e cortando cebolas. – Mariah continuou sua provocação, propositalmente ignorando sua resposta. – O que ela queria aquele dia, hein? Aposto que lhe deu essa subidinha de reles lavadora de prato para empregadinha faz tudo para te recompensar por ser tão obediente. – juntou as mãos batendo palmas debochadas. – Parabéns, queridinha, continue obediente assim e logo estará sendo promovida a lavadora dos banheiros dos funcionários.

— No dia que tiver algo de proveitoso para dizer, algo que não se restrinja a inveja, então aí sim te darei alguma relevância. – afastou a outra e marchou pelo corredor irritada. – Ridícula, se quer ganhar atenção pisando em alguém encontrou a pessoa errada. Sonsa. – empurrou as portas da cozinha e adentrou a mesma.

— Bom dia, menina. – Wanda a recebeu com um sorriso largo e orgulhoso. – Você hoje começará observando como é feita as refeições, a partir de amanhã você passa a ser ajudante, não se preocupe há mais três, tudo bem? Você não precisa ser perfeita, é perfeitamente aceitável errar algumas vezes no começo.

— Estudei os pratos preferidos da diretoria principal e dos subalternos o fim de semana todo, fiz da minha cozinha um laboratório, eu não posso errar. – declarou firme e olhou para Rosangela, uma mulher de uns quarenta e seis anos rechonchuda de grandes bochechas rosadas e mãos de fada para a cozinha, ela era carinhosamente chamada de D. Rô. – Eu não posso ser motivo de reclamações, Wanda, não que eu não esteja agradecida a minha irmã, mas não nasci para lavar pratos, quero crescer.

— É claro que não nasceu para lavar pratos, ora essa, olha para você. – a senhora negra ergueu seu rosto – Tão linda assim, estudada, menina criada para ser gente importante, lavar prato ficou para pessoas que não têm maiores oportunidades, menina. Você só está passando por uma fase, isso aqui é um degrau para você, a vida só está te mostrando que pode ser muito melhor como pessoa e por isso está atravessando isso.

— Você é a única pessoa que acredita em mim, Wanda.

— Oh, menina, é claro que não sou. – a abraçou e Samanta fechou os olhos aceitando aquele abraço apertado como um conforto, pois receber um afago, um carinho, palavras de incentivo, tudo isso sem ser uma encenação e sem intenção, apenas por ser ela, aquilo era como receber o maior presente que já recebera.

Série Os irmãos Backar - Amor por preconceito (Victor Ruiz) - livro 4.1Onde histórias criam vida. Descubra agora