Permitindo

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E o que eu penso
Um amor, duas bocas
Um amor, uma casa
Sem camisa, sem blusa

Porque está muito frio
Para você aqui e agora
Então me deixe segurar
Suas duas mãos nos bolsos do meu suéter

--Sweater Weather, The Neighbourhood

Depois das primeiras horas turbulentas de sono, Samanta conseguiu dormir todo o resto da noite sem mais despertar ofegante em meio a pesadelos que a perturbavam quase como se partissem seus ossos em pedaços.

Acordou sozinha na cama do loiro e respirou fundo sentando-se, puxou o lençol para cobrir até sua cintura e colocou os braços a frente dos seios sentindo os cabelos negros escorrerem em desordem sobre seus ombros causando leves cócegas pela umidade do banho no meio da madrugada.

Por um momento pensou que Victor havia ido para o trabalho e arrumado uma desculpa educada de dispensar sua companhia, mas logo descartou aquele pensamento. Victor não era covarde, se sua presença não fosse desejada ele a diria e não usaria aquele meio baixo para tal coisa.

Olhou para o relógio e constatou ser muito cedo para o Ruiz ter ido para a Space, faltavam duas horas para o início do seu funcionamento e mesmo os seguranças que rendiam os colegas que ficavam durante a noite chegariam na próxima hora, não faria sentido o loiro ter ido tão cedo.

Ele havia molhado suas roupas íntimas a levando ainda vestida para o chuveiro, então seguiu para o closet e pegou uma segunda camisa dele, daquela vez uma preta de mangas que parecia ser muito usada pelo mesmo e que ficou no comprimento do início das suas coxas.

Saiu da suíte passando os dedos através das mechas e atravessou um curto corredor antes de adentrar a cumprida sala do apartamento. Passou as pontas dos dedos através dos encostos das cadeiras da luxuosa mesa de jantar e admirou o lustre de cristal sobre a mesma, toda a sala tinha tapetes macios entre o preto e o azul mais claro causando um colorido suave contrastando com os móveis em sua maioria de madeira escura.

Chegou ao painel em uma das paredes e ligou a tevê buscando por qualquer canal para se distrair, com os dedos dos pés brincava com a maciez do tapete enquanto decidia entre um reality show entediante de socialites americanas e um filme que já assistira quatro vezes.

Sentou-se no sofá cor de terra tão macio que a lembrou da sua antiga cama com travesseiros egípcios na mansão Braga. Depois de alguns minutos o programa começou a lhe causar um familiar desconforto no estomago. Retratava a vida de pessoas tão fúteis e artificiais, com discussões rasas, problemas ridiculamente simples e diálogos tão notoriamente falsos e ensaiados que a lembrou da sua triste vida como herdeira Braga.

Suas preocupações com a aparência, suas amigas fúteis e interesseiras e suas conversas tão insignificantes, sua busca por atenção masculina e sua ridícula insistência em se manter no topo da hierarquia de popularidade do seu convívio não se importando com os meios que trouxessem aquele resultado. Seu tempo gasto com festas, jantares e spás, sua parca visão do futuro que envolvia um casamento bilionário e plásticas para alimentar sua vaidade.

Aquela imersão a deixou tão desanimada que tirou o som do aparelho, lembrar-se de sua vida e de quem era no passado só lhe trazia a certeza do vazio e da solidão e de artifícios podres para preencher espaços com prazeres a curto prazo. Não sentia falta do que fingiu ser nos últimos anos, mas queria poder desaparecer com as lembranças.

A campainha tocou e ela prendeu o lábio entre os dentes e se colocou de pé, não queria dá a impressão errada às visitas de Victor, tão pouco leva-lo a pensar que queria ocupar algum espaço ali. Seria melhor fingir que não ouviu e deixar que a pessoa o reportasse em outro momento, mas a campainha voltou a soar com certa insistência.

Série Os irmãos Backar - Amor por preconceito (Victor Ruiz) - livro 4.1Onde histórias criam vida. Descubra agora