Confie em mim

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Pare de lutar, Samanta, apenas viva o momento.

Era o que a estonteante morena de lindos olhos verdes repetia-se durante o banho no banheiro do seu pequeno escritório. Era menos complicado quando tinha os braços de Victor a circulando, lhe transmitindo segurança e com um sorriso libertino que espantava qualquer dúvida que lhe inquietasse.

Entretanto o loiro era o Diretor de Políticas Públicas da Space e não dispunha de todo o tempo do mundo para gastar a convencendo de algo. O adorava, mas simplesmente não lhe entrava na cabeça que ele pudesse entende-la por completo, não a fundo, não inteiramente.

Ele podia conscientizar-se das suas dores a partir do que ela lhe apresentava e do que ele conseguia pescar superficialmente das suas lembranças, mas ir além para quem não tinha experimentado nada parecido era esperar demais.

Victor tivera uma excelente educação, a prova disso era a forma quase natural com que apresentava seu ponto e sua postura confiante que intimidava qualquer um menos seguro. Também era um bom homem, salvo oito dias antes quando lhe apresentou cruéis palavras sobre sua índole, ele nunca a tratou de forma grosseira ou vil mesmo sendo ela quem era.

Mas era um homem crescido em berço de ouro. Com um pai presente até a morte, uma mãe amorosa e firme quando necessária, um irmão caçula que o tinha como exemplo e uma vida relativamente fácil. Boas escolas, cobranças normais para um aluno comum, atleta, bonito, bom com as pessoas desde jovem, comunicativo, sempre fez sucesso com o sexo feminino, persuasivo, boa faculdade, talento nato para se impor e o orgulho da família.

Para Samanta somente aquela razão os colocava em polos opostos. Enquanto ela tinha uma cobrança e uma pressão absurda para ser perfeita em tudo apenas para representar um papel perante a sociedade, tinha pais carrascos e ausentes, nenhuma amizade verdadeira e o medo de falhar e perder o pouco que ainda possuía. Fora as coisas sujas que sua mãe a forçava a fazer e todos na casa, salvo talvez Edna, sabiam e faziam vista grossa.

Ainda naquele momento tinha certeza que as pessoas do meio em que havia sido precocemente inserida a julgavam. Como era ingrata, deixar sua família amorosa e perfeita para trás sem qualquer consideração? Desconsiderar todos os planos que os atenciosos papai e mamãe traçaram para seu futuro para ser uma simples funcionária? Bela egoísta.

Bom, nunca conseguiria disseminar a forma com que a maioria das pessoas a enxergavam, para elas não passava de uma problemática e egocêntrica mimada que não dava valor a tudo o que os pais haviam lhe feito. O fato era, enquanto Daniela e Marcos fossem exemplos honrosos da sociedade paulistana, ela não seria capaz de ser enxergada como quem era de verdade.

De qualquer forma deixara sua mente viajar enquanto queria apenas exterminar uma questão interna: como se entregar sem medo? Como confiar? Como acreditar que significava mais para um homem que um corpo bonito?

Seria Samanta capaz de superar aquilo e investir em uma relação ou aquelas questões sempre residiriam no fundo do seu inconsciente sabotando qualquer pequena e eventual felicidade que por ventura conquistasse?

Havia apenas uma pessoa que conseguiria ouvir naquele momento sobre aquele assunto.

. . .

Daniel Milles vestia um suéter de gola v slim marrom com as mangas recolhidas expondo braços masculinos morenos cobertos por finos pelos escuros e um relógio de ouro em um dos pulsos. Com as mãos de dedos longos unidas sobre a mesa e o cavanhaque escuro circundando os lábios cheios e carnudos ele era a imagem de um jornalista atraente e compenetrado.

— Obrigada por me encontrar. – agradeceu e ele lhe ofereceu um sorriso misterioso repousando o livro que lia sobre a mesa e lhe apontou a cadeira a sua frente na cantina italiana distante da boate.

Série Os irmãos Backar - Amor por preconceito (Victor Ruiz) - livro 4.1Onde histórias criam vida. Descubra agora