1- I Was Born

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"Don't need a map

I can't be directed

I've got a madness

Don't need the method..."

A maioria dos adolescentes da minha idade ainda não sabe muito bem o que quer. Mudam de opinião a cada 15 segundos. Mas esse não era o meu caso. Eu sabia exatamente o que queria.

Às vezes me pegava pensando em como a minha vida seria se tivesse feito escolhas diferentes. Observava de longe uma rodinha com pessoas da minha idade... rindo, se divertindo. Mas logo era chamada à realidade com algum flash no meu rosto, me fazendo quase perder a visão. Meu segurança me puxando pelo braço, fazendo com que eu andasse mais rápido.

- Caminha olhando para baixo, Mia – ouvi quando meu empresário gritou um pouco atrás de mim.

Abaixei meu rosto e caminhava com dificuldade, pois havia muita gente aglomerada naquele lugar. Era assim toda vez que chegava a algum aeroporto de qualquer cidade que passava ultimamente.

Chegamos finalmente em uma sala reservada do aeroporto e eu pude respirar. Mike se afastou de mim. Ele era meu segurança pessoal. Eu estava sempre rodeada desses homens enormes que mais pareciam armários de tão grandes. Mas o Mike era o único que eu conhecia e confiava. Os outros iam e vinham sem eu nem ter a oportunidade de saber seus nomes. Hugo achava melhor assim.

Hugo Guerrato era o meu empresário. O responsável por tudo o que estava acontecendo na minha vida. A parte boa e a ruim também. Foi ele que me descobriu ainda pequena no teatro da cidade em que nasci, no interior de São Paulo. Sempre gostei de atuar, desde bem pequena.  Hugo já era muito conhecido nesse meio. E quando me viu atuando, parece que já traçou naquela cabeça dura todo o meu destino. Ele tinha um plano pra mim. E até agora estava tudo dando muito certo. Comecei atuando em novelas e logo consegui um contrato na maior emissora do país. 

No começo, não entendia muito bem o que estava acontecendo, porque não podia mais sair na rua sem um monte de gente vir em cima de mim e da minha família. Tinha apenas 9 anos. Com o tempo fui me acostumando.

O último ano tinha sido crucial pra minha carreira. Produtores americanos procuravam por uma adolescente latina para integrar o elenco de um filme em um grande estúdio. Como Hugo tinha milhões de contatos, conseguiu que o pessoal da produção visse meu material de trabalho. Me chamaram para um teste e eu passei. Realmente tinha uma facilidade enorme para atuar. Para mim, parecia tão natural como respirar.

Eu fiz o filme e fui inacreditavelmente elogiada pela crítica. Parecia um sonho. Mas também junto com esse sonho, muitos pesadelos. Não tinha mais privacidade. Precisei me afastar da minha família e viajava o tempo todo para divulgar o filme. Eu tinha 16 anos, mas me sentia com 30.

Hugo se preocupava com tudo, desde minha aparência, até em como e no que eu poderia falar nas entrevistas. Tinha uma equipe inteira trabalhando a minha imagem. Ele dizia que essa era a minha chance e não havia espaços para erros ou escândalos. Toda a minha vida era vigiada 24 horas.

Eu amava atuar, mas às vezes pensava que esse era um preço muito alto a se pagar. Sei que não deveria pensar assim, porque milhões de pessoas dariam tudo para estar no meu lugar agora. A fama e o dinheiro são duas das coisas mais cobiçadas nesse mundo. E eu tinha as duas. E pensar nisso era loucura. Tudo isso era loucura.

- Mia, você está tão calada que estou começando a ficar preocupado. Está tudo bem? – Hugo perguntou me arrancando dos meus pensamentos.

- Está sim. Só estou cansada. – respondi esperando que ele não começasse nenhum tipo de interrogatório.

- Ainda bem, pois temos que estudar o roteiro antes do teste. Eu preciso que você se concentre. Temos pouco tempo!

Só de pensar nesse teste me dava arrepios. Se a minha vida já estava uma loucura depois daquele filme, imagine se eu conseguisse outro papel em outro filme americano.

Mas a verdade é que estava cansada. Realmente cansada. Não queria preocupar o Hugo com meus pensamentos. Acho que ele teria um ataque se percebesse que não estava tão certa assim sobre a carreira internacional. Mas eu realmente precisava de um tempo pra mim. Pra fazer qualquer coisa que não fosse ficar 24 horas por dia me preparando para 250 entrevistas e todas aquelas coisas.

Andava pensativa: não tinha amigos, nunca fazia nada que não fosse relacionado ao trabalho. Nunca tinha beijado de verdade ou me apaixonado. Minha vida parecia ser bem mais interessante na pele das personagens que eu interpretava.


Se eu pudesse te esquecer... (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora