14. Sucursal do Inferno Parte 1

1.9K 190 98
                                    

-Levi-

Se não fosse adepto de uma vida confortável, mas sem ostentações, eu compraria um avião, pois enfrentar um trânsito infernal em plena terça feira não era meu forte. As ruas estavam apinhadas com carros de vários portes e os xingamentos faziam parte do som ambiente. Ficar trancado dentro do veículo só me fazia pensar em coisas que não me eram convenientes no momento, visto que a situação física já me causava estresse.

Quando finalmente cheguei à Base, estacionei o carro e fui diretamente para o consultório de Hanji. Passei alguns minutos a bater na porta, sem obter uma resposta, mas os ruídos indicavam que havia alguém no interior da sala. Num misto de preocupação e raiva, resolvi entrar sem esperar uma resposta prévia às minhas batidas, pois parecia que estas não viriam.

- Hanji!? - Praticamente berrei com ela. A louca estava sentada em sua poltrona branca com os fones de ouvido, ouvia música num altura absurda, me escandalizei ao constatar que podia distinguir qual era a música, mesmo estando em pé na entrada do consultório. - Está doida quatro-olhos? Quer ficar surda? - Gritei outra vez, logo depois de arrancar um dos fones de sua orelha.

- Levizinho! - Ela saiu de trás da mesa e veio em minha direção. - Eu sei que você me adora e quer cuidar de mim, mas não precisa gritar, tá? - Ela parecia falar com uma criança.

- Cuidar? Vá a merda, Hanji. Estou batendo na porta há minutos. O que porcaria você estava fazendo aqui com a música tão alta?

- Estava tentando me distrair. - O tom brincalhão perdeu um pouco de espaço, mas apenas um pouco.

- Se distraísse de outra maneira. Foi você quem me chamou aqui e justo no horário que sabia que eu viria, você inventa de usar fones de ouvido numa altura descomunal! - Meu tom de bronca a fez emburrar-se.

- Sim, eu sei, mas é que eu queria me distrair e se eu não escutasse música eu nã...

- Tá, tá, Hanji, deixa de enrolação e desembucha logo o que você queria me dizer ontem, parecia sério. Você usou um código. - Procurei transmitir toda a minha paciência, já que para mim, nunca havia tempo a se perder.

- Sim, eu usei. - De repente, a graça havia desaparecido completamente.

- O que está havendo? - Ela nunca ficava tão séria, exceto em momentos que envolviam o trabalho. - Algum problema aqui na Base?

- Mais ou menos. Levi, você anda muito perguntador. - Apesar do tom risonho, o riso não apareceu e percebi que ela só queria desviar do assunto e eu tinha alguma ideia do motivo.

Hanji sempre fora muito alegre e descontraída. Desde que a conheci, no ano seguinte ao meu ingresso na vida militar, nunca a via triste ou falando sério. Não costumava ser direta, mas quando perguntada sobre algo pessoal ou sobre outros, se apressava em contar os acontecimentos. Era uma narradora nata. Todavia, os momentos em que mudava de personalidade eram raros, mas sempre que apareciam era porque o assunto girava em torno de trabalho ou de algo que a magoasse. Por conta disso, considerei que naquele momento, era capaz de se tratar duma junção desses dois tipos de "anti-animação-Hanji".

- Anda, diz logo, não tenho o dia todo. - Se eu não a incentivasse, ela nunca falaria. Sentei-me numa das poltronas à frente de sua mesa e cruzei os braços.

- É o Irwin. - Finalmente ela foi direta. Mas o Irwin? Então tinha me ligado com todo aquele mistério pra falar dos problemas no namoro? "Calma Levi... Não a mate ainda.... Ainda."

- Hanji, não brinque comigo... - Avisei, num tom arrojado, esperando que ela entendesse a sinalização de perigo implícito em minha voz.

- Calma, é sério. Olha, já faz quase três semanas que tenho me deparado com atitudes estranhas por parte dele. Mais precisamente, ouço partes soltas de conversas que não fazem o menor sentido, mas que são muito estranhas. Mas o pior de tudo é que ontem ele saiu daqui sem avisar e quando voltou, mentiu pra mim. Ele se comportou como se nada estivesse acontecendo e como se tivesse estado no quarto o tempo todo, sendo que não estava.

Sob Seu Controle • EreriOnde histórias criam vida. Descubra agora