19. Quando os anjos e as serpentes começam a falar

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Eren subiu as escadas correndo e se sentiu imensamente feliz ao ver que a porta de casa estava destrancada. Entrou na sala e todos o aguardavam lá.

Era de se esperar que estivesse com um sorriso no rosto por ter estado tão enganado quanto às palavras de Levi, mas a angústia por sua impulsividade o deixara apreensivo. Uma pergunta se formava em sua mente.

Será que Levi o perdoaria por ser inconsequente e ter se comportado como um deus, com poderes para julgá-lo?

Ignorou que estava completamente encharcado, os olhares preocupados a segui-lo, e a situação pela qual haviam passado; deixou que Hanji explicasse tudo aos outros. Tomou a mão de Rivaille, que se encontrava sentado em um sofá, sozinho e com uma expressão vazia, e o levando em direção a seu quarto, achando estranho vê-lo pegar seus pertences e trazer junto, pensando que na mesma situação, nem se lembraria do que era um casaco.

Eles entraram no quarto e Ackerman continuou sem dizer uma palavra. Eren se sentou e convidou o outro a fazer o mesmo. Lado a lado eles se olharam. Levi buscou a raiva que viu antes no olhar do jovem, porém só encontrou arrependimentos e expectativa, talvez um pouco de apreensão.

Já o mais alto não sabia distinguir muito bem o que o outro sentia, mas sabia que estava esperando por sua reação para só então manifestar-se, talvez também estivesse ansioso para saber se Hanji havia obtido sucesso em sua "missão cupido".

- Não vai dizer nada? - Perguntou o dono dos olhos verdes.

- Se Hanji lhe explicou tudo como disse que faria, honestamente não sei o que dizer além do que já sabes. Que você é um pirralho inconsequente e impulsivo e que neste momento eu deveria lhe dar uma surra para que aprenda que não é assim que as coisas acontecem. Adultos conversam, Eren, é assim que se resolvem as coisas. - Começou o baixinho vacilante.

- Eu sei. Perdoe-me. - Eren abaixou a cabeça e começou a encarar as próprias mãos. - Durante toda a minha vida, só tive demonstrações de carinho verdadeiro quando vinham dos meus amigos; as outras pessoas só se aproximavam de mim por interesse em algo de positivo que eu pudesse oferecer. No entanto, de repente você apareceu, me ofereceu tudo que tinha. Era surreal demais para que eu pudesse acreditar. Durante todo esse tempo em que estivemos juntos me senti como se flutuasse e quando te ouvir dizer aquelas coisas, me dei conta de que humanos não sabem voar. Muitas coisas passaram pela minha mente, uma delas foi que tudo que aconteceu conosco era uma mentira, que eu tinha me iludido sozinho, pois você nunca me disse nada mesmo que afirmasse um sentimento. Apenas me trouxe para a sua vida e aos poucos você se tornou a minha. - O jovem notou que o outro ficou tenso ao seu lado, mas fez questão de segurar a mão dele, lhe passando a segurança de que a explicação teria um bom desfecho. Tranquilizando-o e acariciando as juntas de seus dedos. - Hanji me explicou sim, sei que tudo que vocês conversaram não foi sobre mim, nem sobre nenhum caso que você teve com outra pessoa. - Neste momento o Capitão arqueou uma sobrancelha. - Sim, eu sei que sou um idiota por pensar nessa possibilidade, mas se coloque no meu lugar por um instante... Talvez você não tivesse agido como eu, só que com certeza iria pensar algo parecido, ainda mais quando meu nome surgiu no contexto, é claro que eu pensaria algo assim.

- Eren, eu não queria que você sentisse nada disso, foi só uma conversa normal com a Hanji, bem, nem tanto, até porque é a Hanji, nada com ela é normal.

- Eu sei, agora eu consigo entender. Eu sei que você vai ficar bravo, mas ela me contou sobre os casos em que vocês têm trabalhado. Desculpe-me por ter pressionado tanto.

- Tsc, tudo bem, todos nós temos coisas com as quais nos preocupar e é meu dever saber conciliar tudo. Só te peço que me ajude com isso. - Era visível o quanto ele estava perdido, as palavras nunca foram o forte daquele homem, era como se tateasse no escuro, escolhendo cada palavra que deveria ser dita e preparando-se para dizer o inevitável. - Eu sei que muitas vezes fui implacável com você, entretanto só julguei erroneamente que era necessário fazer tudo aquilo e penso que meu jeito de ser não mudará. Só prometo ter mais atenção ao que acontece com você também. Para isso preciso que colabore, você precisa falar! Você tem que me dizer quanto há algo errado, do contrário, nunca chegaremos num consenso. - Ackerman sabia que estava enrolando, sabia que as palavras teriam que vir, só assim aquele olhar estonteante teria um pouco mais de segurança e finalmente poderia mandar o jovem ir tomar um banho, afinal na visão dele, estavam imundos. Todavia pra quem se fecha durante toda a vida, pra quem se coloca em uma redoma de vidro, é difícil quebra-la em um único instante. É algo forte demais, resistente demais pra ser quebrado com tanta facilidade; Levi precisava de tempo.

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