Capítulo 15

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Sentada em uma sala espaçosa e clara, no meio de silenciosa platéia, Olívia
esperava a sessão começar. Diante deles, uma mesa com alguns livros, uma
bandeja com jarra de água, copos, um vaso com flores. Amaro e outros
freqüentadores do Centro haviam se sentado ao redor dela.
Ele a apresentara a uma jovem senhora dizendo:
— Ester lhe fará companhia. Faço parte do grupo e tenho que colaborar.
Qualquer dúvida, ela está apta a esclarecer.
Olívia sorriu tentando aparentar calma. Desde que entrara ali, sentia-se
ansiosa, inquieta. Aquilo era loucura. Talvez fosse melhor ir embora. Não era
pessoa fraca nem medrosa, entretanto parecia-lhe que se ficasse ali, algo de
terrível iria acontecer. Seu impulso era de sair correndo, mas ela dominou-se
envergonhada.
Ester tomou seu braço dizendo baixinho:
— Vamos nos sentar. Agüente firme que logo tudo vai passar.
Olívia olhou-a desconfiada. Não havia dito nada. Como ela podia saber que
não estava se sentindo bem? Teria deixado transparecer?
— É a primeira vez que venho a um Centro Espírita — disse tentando parecer
natural.
— Faz tempo que você vem aqui?
— Desde que desenvolvi mediunidade. Há mais de cinco anos.
— Ah! Você é médium...
— Sou.
— Esse é um dom.
— Não é bem assim. Mediunidade é uma condição natural humana. Todos
somos
influenciáveis e influenciamos os outros.
— Eu nunca senti nada.
— É que não percebeu.
Quem não conhece o assunto,
sente as influências, mas dá outras explicações para isso. Você está sendo
envolvida por um espírito desde que entrou aqui.
— Eu?
— Não sentiu arrepios, medo, vontade de sair correndo?
— Como sabe?
— Eu registrei isso e sei o que está acontecendo.
— Sabe?
— Tem alguém interessado em que você não fique aqui.
— Por quê?
— Isso eu não sei. Talvez seja interessante para ele que você continue
descrente, que não encontre aqui o que veio buscar.
Olívia ia responder, mas não houve tempo porque a reunião começou com o
dirigente fazendo uma prece. Depois, outro abriu um livro e leu uma mensagem
sobre a força da fé. Durante vinte minutos, eles comentaram o assunto da noite.
Depois as luzes apagaram-se ficando acesa apenas uma luz azul.
O coração de Olívia batia forte, e ela começou a suar frio, fazendo esforço
enorme para controlar-se, não levantar-se e sair. Ester percebeu e segurou sua
mão dizendo baixinho:
— Calma. Não tenha medo. Você já está sendo ajudada. Nesse momento,
uma mulher ao redor da mesa deu um
soco na mesa e gritou enraivecida:
— Soltem-me. Não me segurem. Deixem-me sair.
Um senhor levantou-se e colocando a mão sobre a cabeça dela disse calmo:
— Calma. Não tenha medo. Queremos ajudar você.
— É mentira! Vocês querem me prender. Isso sim. Estou prevenido.
— Fale a verdade. Você estava prejudicando uma pessoa. Invadiu nosso
recinto e pretendia que ela fosse embora. Do que tem medo?
— De nada. Ela não acredita. Por que perdem tempo com ela?
— Não desvie o assunto. Você a estava envolvendo, querendo controlá-la.
Pensou que não ia ser notado.
O mal-estar de Olívia desaparecera como por encanto, e ela, admirada, não
perdia uma palavra do que eles diziam.
— Você precisa de ajuda. Sua vida está mal. Por que se uniu a esse grupo?
Não vê que prejudicando os outros está atraindo sofrimento para si? Por que faz o
que eles mandam?
— Não estamos prejudicando ninguém. Ao contrário. Ajudamos que a
justiça seja feita.
Você não sabe de nada. Eu quero ir
embora. Deixe-me sair.
— Não sairá daqui, enquanto não tirar todas as energias que colocou sobre
ela.
— Não posso. Se fizer isso, serei punido.
—Se não fizer, será levado para esse local. Veja.
— Não. Por favor. Lá não!
— Então trate de cooperar. Faça a limpeza.
— Eles vão me punir! Tenho medo.
— Se fizer isso, cuidaremos de você. Nossos amigos espirituais vão levá-lo a
um local onde se sentirá bem.
Houve uma pausa. Depois ele disse:
— Está bem. Vou tirar o véu que coloquei diante dos olhos dela. Mas isso não será o bastante. Há outros cuidando do caso.
— Faça sua parte e deixe o resto com Deus.
Olívia sentiu novamente arrepios pelo corpo e bocejou insistentemente.
Depois sentiu sono e enquanto outros falavam, ela cochilou por algum tempo.
Levou um susto quando as luzes se acenderam. Como pudera adormecer
sentada? Isso nunca lhe acontecera.
— Desculpe, acho que cochilei... Ester sorriu:
— Isso é assim mesmo. Sente-se bem agora?
— Muito bem. Amaro aproximou-se:
— Tudo bem?
— Agora estou. Não sei se foi por estar no meio das pessoas, mas senti-me
indisposta.
Se não fosse Ester, talvez eu tivesse saído.
— Já havia sentido isso antes? — indagou Amaro.
— Às vezes sou um pouco inquieta. Não gosto de aglomeração. Parece que
falta o ar.
Tenho que sair para respirar. Mas nunca foi tão forte como hoje. Depois
peguei no sono.
Nunca me aconteceu de dormir sentada. Logo quando eu queria prestar
atenção para ver se Elisa aparecia. Ela deu algum sinal?
— Não. Hoje não.
— Preciso ir — disse Ester. — Foi um prazer conhecê-la. Volte sempre.
— Obrigada.
— Até a semana que vem e obrigado — tornou Amaro. — Vamos embora.
Estou com fome. Você não? Sei de um lugar aqui perto onde poderemos fazer
um lanche delicioso.
— Eu comeria mesmo alguma coisa. Vamos.
Foram caminhando até o restaurante. Quando estavam
devidamente acomodados, Amaro perguntou:
— E aí, o que lhe pareceu a reunião?
— Diferente do que eu imaginava. As pessoas falavam com naturalidade.
Não havia rituais nem misticismo. Não vi nada de sobrenatural.
— Não há mesmo. Tudo na vida é natural. O nascimento, a morte, a
sobrevivência do espírito, a existência de vida em outras dimensões, a
possibilidade de nos comunicarmos com eles, a reencarnação.
— Não penso assim. Essas coisas me parecem misteriosas, assustadoras.
— Tudo que desconhecemos parece misterioso. À medida em que vamos nos
tornando cientes, tornam-se naturais. Quem hoje questionaria a eletricidade, as ondas do rádio e da televisão? No entanto, até há bem pouco tempo, para muitos, elas não passavam de um sonho irrealizável. A verdade tem múltiplas facetas e nós ainda percebemos muito pouco.
— Nisso você está certo.
— Você tem mediunidade e nunca percebeu.
— Eu?! Não acredito.
— Mas é verdade. Você é forte, corajosa, firme, sabe o que quer. Mas tem
muita sensibilidade. Quando conhece uma pessoa, sente logo se pode confiar nela
ou não.
Sabe como tratá-las. Chega a perceber como elas pensam.
Olívia sorriu divertida:
— Está descrevendo minha personalidade. Sou assim mesmo. Mas isso não
significa que eu tenha mediunidade.
— Significa que tem o sexto sentido bem desenvolvido. Hoje percebi que vai
além.
Consegue captar as energias dos espíritos desencarnados também. Gostaria
de explicar-lhe o que aconteceu esta noite.
— Confesso que até agora não entendi.
— Quando você sentiu mal, não se entregou. Reagiu.
— É verdade. Não sou impressionável nem fraca. Faço isso sempre.
— Fazendo isso, conseguiu segurar um espírito.
— Como?
— Isso mesmo. Aquele espírito perturbador, que se manifestou logo que as
luzes se apagaram, estava com você. Ele pertence a um grupo interessado em
afastá-la do Centro. Quando entramos lá, ele a envolveu, tentando magnetizá-la.
— Com que fim?
— Para que você fosse embora. Mas como resistiu, não fez o que ele queria,
foi mais forte do que ele, que acabou ficando preso em sua energia e nós
pudemos atraí-lo para aquela médium e conversar com ele.
Olívia abriu a boca, fechou-a de novo, e não disse nada. Amaro prosseguiu:
— Quando ele começou a falar pela Marilda, você se sentiu melhor. Não foi?
— É verdade.
— Claro, ele foi afastado de sua aura.
— Mas depois senti sono, bocejei muito e acabei dormindo sentada. Nunca
me
aconteceu.
— Ele havia colocado energias negativas em você para dificultar sua visão, a
fim de que não percebesse o que estava acontecendo. Quando resolveu cooperar,
teve que tirar essas energias e foi nessa hora que você sentiu. Os mentores
espirituais, para ajudá-la, retiraram você do corpo, por isso dormiu. Quando
acordou, não se sentia bem?
— Muito bem.
— E agora, como se sente?
— Ótima. Mas eu sempre estive bem. Não fui pedir nada para mim. Só queria me comunicar com Elisa, saber como ela está, ter notícias.
— Há alguém interessado que você não entre em contato com ela.
— Não creio. Quem poderia fazer isso e por quê? Sempre nos relacionamos
bem com as pessoas. Nunca tivemos inimizades. Cuidamos de nossa vida. Eu
ainda sou mais exigente, mas Elisa era cordata e bondosa.
— Sei disso. Mas aquele espírito estava tentando tirá-la do Centro. Pertencia a
uma falange organizada do astral que não tem ainda muito conhecimento e
estava ali para impedi-la de falar com Elisa.
Olívia assustou-se:
— O que isso significa? Elisa não está bem?
— Não sei. Ainda não tivemos nenhuma notícia.
— Terá sofrido com o acidente? Os espíritos sentem dor?
— Com o acidente, não creio. Ela morreu na hora. Pelo que sei, quando isso
acontece, eles não sentem nada. Sequer se recordam como foi. Quanto a sentir
dor, sentem sim.
As emoções no astral são muito mais fortes do que aqui. As impressões
dolorosas provocam dor e sofrimento.
— Elisa estará sofrendo?
— Não da forma como você pensa. Se ela não aceitou os fatos, se deseja
continuar envolvida com os que ficaram na Terra, pode ter muitos problemas.
— Que tipo de problemas?
— Envolver-se com espíritos ignorantes.
— Elisa sempre foi muito boa. Isso não lhe garante proteção?
— Ela teria proteção ainda que houvesse sido ruim. A ajuda espiritual existe
para todos.
Ninguém está desprotegido. O que acontece é que quando a pessoa não aceita
a orientação, se revolta, age como lhe parece melhor, os mentores espirituais não
interferem. Sabem que ela vai aprender pela experiência. Mandam vibrações de
amor e esperam que ela amadureça.
Olívia ficou pensativa por alguns instantes. Depois disse:
— Isso me preocupa. Elisa sempre foi muito boa, mas teimosa. Se lhe
pediram para se afastar da família, receio que ela não tenha obedecido.
— Nesse caso, ao invés de ir para as colônias de ajuda, onde iria recuperar-
se, ela pode ter decidido ficar em volta de vocês, na tentativa de ajudá-los.
— Isso é ruim? Ela nos ama. Só pode nos ajudar.
— A intenção dela pode ser essa, mas estará em condições de fazê-lo? Como
ficará revivendo seus problemas familiares sem poder dizer nada? Depois, na
crosta da Terra, perambulando entre nós, há espíritos de todos os níveis. Ela não
tem experiência de conviver com eles. No desejo de ajudá-los, ela pode ter se
envolvido com grupos perigosos.
— Você pensa que esteja acontecendo isso? Elisa era mesmo muito ingênua. Acredita em tudo quanto lhe dizem. É um traço dela que sempre me preocupou.
Nesse caso, como poderemos ajudar?
— Não posso afirmar nada ainda. O que sei é que alguém tem interesse que
você não vá ao Centro e fale com ela. O que será que temem?
— Isso é o que não consigo entender.
— Podem estar armando alguma trama e não querem ser descobertos.
— Pensei que nunca mais Elisa iria me preocupar. Quando poderia imaginar
que ela o faria até depois de morta? Essa é uma idéia louca, mas me deixa muito
inquieta. Se seu espírito continua vivo depois da morte, se ela anda solta por aí,
não é difícil que tenha se metido em confusão. Ela era tão passiva, tão ingênua...
— Preocupar-se não vai ajudar. Nós precisamos conservar a calma e a fé.
Não cai uma folha da árvore sem a vontade de Deus. Quando pensar nela, reze,
visualize-a bem e entregue tudo nas mãos de Deus. Quando nós não podemos
fazer, ele pode. Nesta noite, nossos amigos espirituais começaram o atendimento
a Elisa, através de você.
— Mas ela nem apareceu...
— Isso não importa. Vamos nos manter firmes e com fé.
— Você acha mesmo?
— Tenho certeza. Na semana que vem, voltaremos à reunião.
— Teremos que esperar uma semana? Não pode ser antes?
— Não. Vamos aguardar com serenidade e alegria. Evite qualquer
pensamento de angústia e tristeza.
— Farei um esforço. Estou ansiosa para que esse dia chegue.
Amaro sorriu. Ele sabia que cada coisa tinha sua hora e o momento adequado
para acontecer.
Elisa, sentada em uma poltrona no quarto de Inês, não via a hora que o tempo
passasse e pudesse ir ao encontro de Jairo. Ele lhe prometera acompanhar Olívia
ao tal Centro Espírita e contar-lhe os resultados. Ela estava curiosa. Bem que
gostaria de ver como era essa história de se comunicar com as pessoas. Mas,
tinha que ficar ali, no posto que lhe fora destinado.
Era madrugada e Carlos ainda não chegara. Inês remexia-se na cama,
insone. Recebera um telefonema anônimo. Uma voz de mulher informava que,
enquanto ela estava em casa com os filhos, Carlos estava ao lado de uma jovem
e bela mulher. Abatida, triste, deprimida, Inês, num acesso de desespero, pensou
em suicidar-se. Foi até o banheiro e apanhou o vidro de calmantes que o médico
receitara e pensou:
— Se eu tomar tudo isso, nunca mais vou acordar.
Elisa ficou apavorada. Precisava fazer alguma coisa. Estava ali para ajudar
Inês e não podia permitir. Suicídio era tornar a situação pior. Inês continuaria
vivendo, sofrendo, arrependida, tendo deixado seus filhos órfãos e sem poder
fazer nada. Os problemas ainda seriam os mesmos, mas a situação, mais grave.
Aproximou-se dela procurando transmitir-lhe pensamentos de ânimo e
fazendo-a lembrar-se dos filhos. Pensando neles, Inês recolocou o vidro de
calmantes no lugar.
Elisa respirou aliviada.
Ainda bem. Mas com a mente cheia de pensamentos dolorosos, Inês sofria, e
Elisa, assistindo seu tormento, sentia aumentar sua raiva contra Carlos.
Aproximou-se de Inês dizendo-lhe ao ouvido:
— Por que continua vivendo com Carlos? Ele não presta. Quanto antes se
libertar dele melhor. Está aqui sofrendo, perdendo sua mocidade, ficando feia,
velha, enquanto que ele está com outra mais jovem, mais bonita. Até quando vai
tolerar essa situação? Reaja.
Hoje, quando ele chegar, diga que quer a separação. Mande-o embora de
casa.
Inês pensava:
— Preciso reagir. Me separar. Ele não me ama mais, se é que me amou
algum dia.
Estou me consumindo, tornando a vida dos meus filhos um inferno. Eles não
têm paz, vivem apavorados com as brigas. Não é justo.
Remexia-se no leito, aflita.
— Se ele for embora, vou ficar só. Tenho horror à solidão. Não quero ficar
só. Não vai aparecer outro que me queira. Estou tão acabada! Depois, e se eu
arranjar outro pior?
Nunca tive sorte na vida. Tudo sempre foi difícil para mim. Há mulheres
para quem tudo dá certo. Os maridos são fiéis, andam sempre atrás delas e elas
nem ligam. Acho que os homens gostam das que são malvadas. Quem é bondosa
não é valorizada. Mas que fazer? Eu sou assim. Não gosto de brigas nem de
discussões. Faço tudo para viver em paz. Por que será que não consigo?
Percebendo seus pensamentos, Elisa pensava:
— Como ela é boba. Tão boba e ingênua como eu. Ah! Se fosse hoje, com o
que sei, faria tudo diferente. O Geninho ia cortar uma volta comigo. Teria que
fazer tudo quanto eu desejasse. — E aproximando-se de Inês, disse-lhe:
— Abra os olhos. Não seja tão idiota. Não tenha medo de brigar. Se não
reagir, ele nunca vai respeitar. Não tenha medo. Nós estamos aqui e não vamos
deixar acontecer nada a você. Quando ele chegar, não o deixe dormir em sua
cama. Ele vem dos braços de outra e você vai agüentar isso?
Inês decidiu:
— Vou pôr o pijama dele no quarto de hóspedes e fechar a porta do quarto.
Nesta noite ele não vai dormir comigo. Chega de ser resto das outras. Ele precisa
aprender a me respeitar.
Levantou-se e levou tudo para o outro quarto, voltou, fechou a porta à chave e deitou-se novamente. Elisa olhou satisfeita. Agora, era vigiar para que ela não se arrependesse.
Precisavam dar uma lição naquele desavergonhado.
Quase uma hora depois, Carlos chegou e vendo a porta fechada, bateu várias
vezes chamando por Inês, ordenando-lhe que abrisse. Ela, trêmula, não
obedeceu. Elisa a seu lado dizia-lhe firme:
— Isso mesmo. Não abra. Não tenha medo.
Carlos começou a gritar dizendo que ia arrebentar a porta. Inês fez menção
de levantar-se. Não queria assustar as crianças. Elisa tentou detê-la, mas estava
difícil. Quando ela pretendia ir até a porta, Carlos se calou. Coração batendo
forte, ela esperou. Mas ele não disse mais nada.
Adalberto entrou no quarto, e Elisa, vendo-o, disse com satisfação:
— Logo vi que o silêncio dele tinha uma causa. Você o obrigou a se calar.
— Isso mesmo. Ele se sentiu mal e foi para o outro quarto. Acha que foi da
bebida.
Gostei de ver. Inês está reagindo. Como conseguiu isso?
Elisa contou tudo e finalizou:
— Precisamos ter cuidado. Ela pensou em suicídio. Não será perigoso?
— Pobre Inês. É o desespero que faz isso. Falarei com Sabino. Precisamos
ultimar a execução de Carlos.
— Execução? — estranhou Elisa.
— Temos que tirá-lo do caminho de Inês. Ele está acabando com ela e com
os filhos.
Não fizemos antes, pois ela não estava preparada. Agora, creio que está
chegando a hora.
— O que vão fazer com ele? — indagou Elisa, assustada.
— Não se preocupe com isso. Nada que não seja justo. Ele já foi julgado e
condenado.
Terá que cumprir a sentença.
— De que forma?
— Esses detalhes não devem preocupá-la. Você tem feito um bom trabalho.
Vou recomendá-la a Sabino. Sou-lhe muito grato.
— Faço isso também pela felicidade de Inês. Ela é muito boa e merece.
— Obrigado.
— Espero que amanhã cedo Carlos não brigue com Inês por causa da porta fechada.
— Vai tentar, mas estarei por perto.
O dia já havia clareado quando o substituto de Elisa chegou e ela pôde ir embora.
Resolveu procurar Jairo para se informar sobre os acontecimentos da
véspera. Quando o encontrou, foi logo dizendo:
— E então? Como foi ontem com Olívia no Centro?
— Ainda bem que você não foi. não lhe disse que aquele lugar era uma
armadilha? Pois foi.
— Como assim? O que aconteceu? Você foi até lá?
— Eu? Não. Sabino mandou o Solon acompanhá-la e fazê-la não se sentir
bem lá dentro e sair.
— Olhe lá o que vocês vão fazer com Olívia. Não quero que nada de mal lhe aconteça.
— Não é nada disso. O Solom só ia fazê-la se sentir abafada e ter vontade de sair dali.
Mas a coisa não funcionou.
— Como assim?
— Ele é um bom magnetizador, mas ela não atendeu o que ele queria. Esse é sempre um risco quando vamos magnetizar alguém. Sua irmã é um osso duro de roer. Não esperávamos por isso.
— Ela é durona mesmo, não é boba como eu. Mas conta... o que foi?
— Ela não fez o que ele queria, segurou o Solom e ele acabou sendo
apanhado por eles.
Ficou lá, prisioneiro.
— Que horror! Eles o prenderam?
— Prenderam. Não disse que era perigoso? Aconteceu isso com ele que é tão experiente! Já pensou o que aconteceria com você se estivesse lá? Eles a prenderiam e nunca mais sairia.
— Que tristeza! Isso nunca acontecerá. E agora, o Sabino não vai libertá-lo?
— No momento, não. Acha melhor não intervir. Por isso, eu digo: cuide-se bem. Não se deixe apanhar. Não vá lá de forma alguma.
— Fique sossegado. Não irei mesmo.
— Antes assim. É para seu próprio bem.
— Eu sei — concordou Elisa, confortada.
Por mais que desejasse conversar com Olívia, ela não iria. Deveria haver
outras formas de fazer contato com ela. Não era só através daquele lugar tão perigoso que ela poderia fazer isso. Quando descobrisse, teria a alegria de dizer-lhe que estava bem e que sabia de tudo quanto acontecera na vida da família:.
Diria também o quanto se sentia saudosa.
Continuava a mesma, amando a todos como sempre. Olívia gostaria de saber que ela mudara, não era mais a boba de sempre. Agora, era o Eugênio que
estava em suas mãos.
Ela é quem dava as cartas na vida de ambos.
A esse pensamento, sorriu alegre. Um dia ainda teria a satisfação de dizer isso não só à irmã, como também ao marido. Ela agora era outra mulher, mais vivida, experiente, mais ativa.. Um dia eles saberiam disso.

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