A realidade

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É difícil entender a vida. Em um momento você está vivendo o seu melhor momento, em êxtase e pura felicidade. E no outro tudo desanda.
Já se passaram três dias e eu não durmo direito. Trabalho até tarde, saio para as baladas, levo mulheres para a cama e não sinto nada. Simplesmente nada. Eu sempre tive tudo nas minhas mãos e não me faltava nada. Mas agora parece que sempre falta algo. Nunca tive insônia e agora ela é minha única companheira. Esses dias sai com algumas mulheres e os assuntos era sempre elas mesmas, dinheiro e moda. Tudo muito entediante.

Não podia reclamar dos negócios pois estava indo muito bem. Por isso estranhei quando minha irmã veio até a minha sala. Quase nunca Ari vinha em minha sala. Falei para a secretária deixar ela entrar e assim que ela fechou a porta, encostou na parede e cruzou os braços, com o semblante sério.

- Você está péssimo!
- Estou com problemas para dormir. - Respondi superficialmente.
- Não acho que esse seja realmente o problema.
- Ari. O que você quer?
- O tio marcou um almoço para o final de semana e tia Maria disse que vai arrancar suas orelhas se não for. E, bom, eu não duvido disso.
- Eu não sei se vou poder. Estou cheio de trabalho.
Ela suspirou, e eu sabia que Ari não iria desistir fácil.
- Faz meses que você não aparece lá, Henri.
- É porque não dá. Não tenho tempo, já disse.
Ela respirou fundo, caminhando e se sentando na minha frente.
- Mas tempo pra ir em boates e "comer" mulheres você tem, né? - Disse, o tom de voz ácido.
- O QUE VOCÊ DISSE? - Disse, sobressaltado.
- Isso que você ouviu, ou você acha que não vejo TV e leio revistas? - Ari respondeu no mesmo tom.
Passei as mãos pelo cabelo, nervoso.
- Você não tem nada com isso. - Apontei na direção dela.
Dessa vez ela não se controlou.
- Acho que você está precisando de um choque de realidade Henri! Até quando você vai ficar preso nesse mundinho?
- Eu estou aqui ralando pra ajudar vocês a ter uma vida boa. Então não venha me dar lição de moral.
- Nós não pedimos sua ajuda, Henri. Se você não sabe, nós também sofremos pela ausência do nosso pai, nós nos perguntamos, por quê?  Mas nós tínhamos uns aos outros! Agora você acha que tudo se resume a dinheiro e não é!
- É o que sustenta vocês.
- Nunca foi e nunca será. Não queremos o seu dinheiro, queremos ter você por perto. Você sabia que o Miguel esteve preso? Que o Rodrigo quebrou a perna em um acidente? Que o tio não está bem? Não! Você não sabe, porque nunca esteve presente. Sempre preocupado com futilidades e esquecendo da família! E eu estou cansada disso tudo.
- Eu...
- Eu estou grávida Henri!
- Você o quê? Como?
- Não vou discutir isso agora, só vim te comunicar sobre o almoço. Tenho trabalho a fazer e muita coisa pra pensar. Se me der licença.

Ela sai do escritório e eu fiquei estático no lugar. Assim que deixei meu corpo cair na cadeira minha cabeça estava a mil. Minha família estava desmoronando e eu não sabia. Eu estava em choque com tudo. Minha menininha que ficava agarrada em mim esta grávida e eu nem sabia que ela tinha um namorado. Se a cadeira não me apoiasse eu teria caído no chão, tamanho espanto. Como tudo isso aconteceu? Eu só queria protegê-los, mas tudo que consegui foi afastar eles ainda mais.

Me lembrei da família da Giovanna, da alegria e proteção. O que eu fiz? Eu não conseguia raciocinar direito quando o Michel entrou na sala falando algo que eu não conseguia escutar. Eu estava em outra realidade.
- Henri? - A voz dele me traz de volta.
- Oi. O que você disse ?
- Onde você está com a cabeça, cara? Estou tentando te dizer que a Jessica está aí fora tendo um ataque porque você não ligou para ela.
- Ela o que?
A Jessica é uma modelo que estava a um tempo dando em cima de mim. Mas como ela tem fama de ser louca me mantive longe. Até que eu fui a uma boate há dois dias e bebi demais. Só lembro de ter acordado com ela em cima de mim. Me xinguei bastante por ter cometido tal loucura.

Sai da minha sala já sem paciência nenhuma e encontrei a modelo discutindo com minha secretária. Assim que me viu, começou a sua encenação.
- Oi, meu amor.
- Jessica, o que você está fazendo aqui?
- Vim ver você. Já que não me ligou, resolvi vir aqui matar a saudade.
- Escuta uma coisa. Nós não temos nada e para de me chamar de amor porque isso não funciona comigo.
Ela fingiu cara de choro, e eu tive que me segurar para não revirar os olhos.
- Como você pode falar assim comigo? Depois de tudo que aconteceu.
- Esse é o problema! Não devia ter acontecido.
- Você acha que pode fazer isso comigo? Está muito enganado, Henri. Vou fazer da sua vida um inferno.
Antes dela sair pisando duro eu respondi.
- Não vai precisar fazer nada. A minha vida já está um inferno!
Entrei na minha sala e bati a porta. Não devia ter levantado da cama hoje. Parece que o dia está predestinado a ser ruim e olha que era meio dia ainda. Sentei na minha cadeira, fechei os olhos e lá estava ela sorrindo pra mim. 

Mas que droga! ! Por mais que eu quisesse, aquela mulher não saia de mim e é por causa dela que eu não conseguia dormir. Só de pensar nela, meu corpo reagia como não reagia com ninguém mais. Isso estava me corroendo por dentro.

Bem vindo a Italia #Livro 1 (Serie De Encontro ao Amor!)Onde histórias criam vida. Descubra agora