Família

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O almoço com meus tios estava marcado para uma da tarde, e passei  no apartamento para trocar de roupa e colocar uma que me fizesse suportar o calor daquele lugar. Sim, depois que meu tio aposentou e passou a empresa para mim ele resolveu que queria paz e se mudou para Oxford.
Assim que me aproximei da casa percebi que nada havia mudado. Ainda havia uma cerca enorme em volta da casa lembrando uma fazenda. Sorri com as recordações. Era um lugar tranquilo e eu sempre vinha aqui, até perceber a proporção da responsabilidade que teria que ter com uma empresa. Sai do carro e entrei na casa sendo recebido por expressões surpresas e um abraço apertado da minha tia.
- Que bom que você veio, meu amor. Que saudade de você!  Você emagreceu! - Ela desandou a falar.
Percebi que minha tia não tinha mudado nada. Meu tio veio me cumprimentar em seguida.
- Quem é vivo sempre aparece. - Disse em tom brincalhão.
Ele me abraçou e me guiou para a sala de estar. Assim que atravessamos a porta lá estavam meus irmãos sentados e conversando algo engraçado. Eles pararam quando eu cheguei e as reações foram diferentes. Minha irmã parecia orgulhosa por eu ter vindo. Meu irmão Rodrigo estava com a perna engessada e só balançou a cabeça e o Miguel me ignorou por completo. Falei o famoso "Boa tarde" e eles me responderam em grupo. Minha tia sentiu a tensão que estava instalando e buscou uma distração.
- Vamos comer meninos.
Minha irmã saiu para ajudar minha tia e comecei a conversar com o Rodrigo.
- O que aconteceu com sua perna?
Ele apontou para a perna, antes de responder.
- Isso? Não foi nada! Você sabe que ser bombeiro tem seus altos e baixos.
- Sei... Mas o que aconteceu?
Ele me explicou da casa em chamas e da garota e de uma menininha que ele socorreu. Da escada que quebrou e ele caiu e acabou quebrando a perna. 
- E a moça e a menininha? - Eu perguntei.
Miguel entrou no assunto nesse momento.
- Elas estão indo vê-lo quase todo dia. Mais o retardado aí não dá moral para elas.
Rodrigo jogou o guardanapo nele, com a expressão de raiva.
- Não posso me envolver com as pessoas salvas, idiota!
Aproveitei e olhei para o Miguel que desviou os olhos.
- Não vem com lição de moral agora, né? - Disse, já prevendo a repreensão.
- Preso, Miguel?
- Você não está podendo julgar ninguém aqui Sr. sabe tudo!
Passei as mãos pelo meu cabelo nervoso.
- Você tem noção da sua irresponsabilidade?
- E você tem noção de que não sabe nada de mim? Só pensa no seu dinheiro e não aparece por anos. Sabia que o tio foi parar no hospital essa semana?
Olhei para o meu tio, que balançou a cabeça em negação.
- Tio, por que não me contou?
Miguel me encarou rindo de forma irônica.
- Deve ser porque você estava em uma festa enquanto tentamos te ligar? Ah é! Me esqueci você tem que dar conta da empresa.
Me levantei da mesa irritado com o tom dele.
- É esse dinheiro que paga suas contas, moleque!
Ele me encarou ironicamente por alguns instantes.
- Qual? O que você deposita todo mês e eu envio para uma instituição de caridade?
- VOCÊ O QUÊ?
Ele se manteve calmo a todo momento.
- Nunca precisei do seu dinheiro, Henri! E acho que ninguém aqui, mas você adora dar essa desculpa para justificar sua omissão em relação a todos!
Encarei meu irmão que se levantou da mesa.
- Perdi a fome! - E saiu batendo a porta me deixando em pé sem reação.
Minha tia chegou com minha irmã, cheia de travessas e olhou espantada com a cena.
- O que aconteceu aqui? - Indagou.
Rodrigo que até então estava calado, foi quem respondeu.
- Casos de família!
Minha tia olhou de mim para Rodrigo.
- Cadê o Miguel?
Todos ficaram em silêncio, até a Ariana se intrometer.
- Calma, tia. Você sabe como é o Miguel, ele deve ter ido esfriar a cabeça.
No final das contas acabamos almoçando calados
- Será que podemos fingir ser uma família normal de vez em quando? Não quero um bebê presenciando tantas brigas. - Ari disse depois de um tempo, o tom de voz triste.
Nesse momento meu tio engasgou, Rodrigo parou a comida no ar e minha tia olhou para a Ariana com os olhos arregalados. Pensei comigo "pelo menos dessa vez eu não fui o último a saber.".
Minha tia começou a chorar, lágrimas rolando em torrentes pelo rosto marcado de rugas.
- Aí meu Deus! Você está grávida? Uma criança nessa casa?
O Rodrigo, que parecia se recuperar do choque, disse.
- Grávida?? Ariana, quem é o pai dessa criança?
De todos nós, Rodrigo sempre foi o mais ciumento e possessivo e ali estava ele como eu me lembrava.
-Isso não importa! - Ariana respondeu.
- Como não importa? Esse filho da mãe tem que assumir a responsabilidade. - Rodrigo continuou.
- Rodrigo, eu sou adulta, ok? Vou cuidar dessa criança sozinha!
Meu tio, que estava em silêncio até o momento, virou-se para ela, e segurou as mãos de Ari.
- Sozinha nunca! Sempre estaremos aqui.
- Ariana! Precisamos saber quem é o pai dessa criança! - Rodrigo parecia não querer ceder.
- Eu já disse que isso não importa! Ele não sabe de qualquer forma.
-COMO? ELE NÃO SABE?
- Rodrigo, para de gritar. Ele não é o tipo de homem que quer um filho.
-Quem é ele, Ariana? - Meu irmão parecia esforçar muito para se controlar.
Ariana parou um tempo para pensar, e quando respondeu, seu tom de voz era quase um sussurro.
- É o Mateus.
Eu engasguei com a comida e resolvi me intrometer.
- Mateus? Dono do pub? 
Ela encarou mais corajosa, empinando o queixo.
- Ele mesmo! E não quero que isso saia daqui. Ouviram?
- Mas...Eu vou matar ele! - Meu irmão berrou.
- Mas nada, Rodrigo. Eu decidi isso, e espero que respeite minha decisão!
Meu tio foi quem deu o veredito.
- Vamos parar de discutir! É uma criança e devemos estar feliz porque uma criança é sempre uma bênção. E Rodrigo, você não vai fazer nada, ok? A vida é da sua irmã e quando ela achar melhor e se ela achar ela conta.
Era sempre assim com meu tio. O que ele falava no final prevalecia. Apesar do Rodrigo ficar emburrado o restante do almoço. Houve algumas conversas banais e quando minha tia começou a retirar a comida, Miguel chegou e foi para o quarto se olhar para ninguém. Eu não sabia muito bem como reagir a tudo que ele falou e achei melhor ir conversar com meu tio sobre o episódio dele. Eu estava bem chateado por não ter estado do lado do único homem que foi um pai para mim.

Bem vindo a Italia #Livro 1 (Serie De Encontro ao Amor!)Onde histórias criam vida. Descubra agora