Sai dessa!

206 22 0
                                    

Já era noite quando cheguei em casa e posso dizer que nunca chorei tanto na vida. Meu rosto estava todo inchado e eu sabia que precisava melhorar antes de entrar porque eles não iriam descansar enquanto não descobrissem tudo.
Nesse momento tenho tanta raiva de mim por ter me deixado iludir por alguém que não merecia metade da minha consideração. E só sinto ódio por tudo. Fui tão burra.

Antes que minhas lágrimas ameaçassem cair de novo, respirei fundo e entrei em casa. Já estavam todos reunidos na sala de jantar me encarando e nessa hora não consegui segurar e chorei, mas chorei com vontade. De repente tinham milhares de mãos tentando me confortar, todos me abraçaram, uma confusão de braços ao meu redor. É por isso que os amo tanto. Eu sei que estariam comigo em qualquer situação. Aos poucos eles foram me deixando, depois que mama interrompeu o momento.
- Vamos parar com isso? Deem espaço a sua irmã.
Ela chegou perto de mim e limpou minhas lágrimas.
- Minha bambina. O que aconteceu contigo para estar assim tão deprimida?
- Mãe, eu não quero falar disso agora.
Meu pai começou a discursar em seguida.
- Mas você vai falar sim. Filha minha não chega em casa essa hora sozinha sem um motivo.
Minha mãe o interrompeu, berrando.
- CHEGA, BENINE! Minha filha irá para o seu quarto descansar e você marido, vai ficar quieto! Se ela quiser falar e quando quiser ela vai. E não se discute isso mais.
Vi meu pai empalidecer com a atitude de minha mãe, que não é nada comum para a senhora calma que ela é. Mas antes de poder pensar, minha mãe me encorajou a subir, enquanto estavam todos tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Aproveitei para subir as escadas sem olhar para trás e me tranquei no quarto. Abri a janela e deixei a brisa entrar. Olhei o céu estrelado e pensei que talvez meu pai estivesse certo. Aquele com certeza era o meu lar e eu não seria mais nada fora dele.

Tomei um banho bem quente e percebi as marcas em meu corpo e eu tive vontade de arrancá-las dali. Era com se me lembrassem do quanto boba eu era. A pobre menina do interior.
Sai do banheiro e nem me dei ao trabalho de me vestir, me enrolei na coberta na esperança de dormir e esquecer tudo e principalmente dele. No final eu estava tão cansada que apaguei e só acordei quando a luz do sol atingiu meu rosto.

Me arrumei a contra gosto e desci para tomar café, que por sinal todos já tinham tomado. Respirei aliviada de não precisar esclarecer nada por enquanto, até porque nem tinha as palavras certas ainda. Peguei uma maçã, que é a única coisa que eu consegui engolir. Sai de casa e fui trabalhar, buscando me livrar desses pensamentos tristes. Todos falam que trabalhar distrai a cabeça e eu não queria pensar muito no buraco que se instalou dentro de mim. Peguei a cesta sem perguntar a ninguém e sem olhar para os lados para não ter que encarar nenhum dos meus irmãos. Comecei a colher as uvas porque queria produzir um vinho e para isso o tipo de uva era muito importante.

Eu sempre tive a mania de combinar sabores e criar vinhos, não tinha nem uma especialidade, mas já tinha produzido alguns para clientes especiais do meu pai. Foquei a atenção nas uvas e nem vi o tempo passado quando comecei a produzir o vinho, até a Fran abrir a porta me encarando.

- Gio. Mamãe mando te chamar para comer.
- Eu estou sem fome agora Fran. Depois eu vou lá comer algo.
- Eu notei que nem tocou no café que mamãe deixou pra você. Gio, se você não se alimentar vai adoecer.
Olhei para a minha irmã, tentando dar um sorriso sincero.
- Não precisa se preocupar com isso, tá? Depois eu vou lá comer algo. Só estou concentrada na fabricação de um vinho e não quero deixar agora.
Ele balanço a cabeça em afirmativa e fechou a porta. Voltei a me concentrar no vinho que ainda não estava como eu queria e lá eu fiquei até a noite. Voltei para casa e todos estavam jantando e pararam para me olhar eu os cumprimentei. Quando coloquei o pé no primeiro degrau, ouvi a voz da minha mãe.
- Vem comer com a gente bambina!
Eu me virei receosa, mordendo os lábios.
- Não estou muito disposta mãe. Vou tomar um banho e deitar um pouco. Depois pego algo para comer.
Reparei que uns olharam para os outros e aproveitei a distração e fui para o quarto. Assim que me encolhi na cama, Fran entrou e sentou do meu lado me incentivando a deitar no seu colo. Assim eu fiz. Ela acariciou o meu cabelo por um tempo, antes de falar algo.
- Lembra quando você era pequena e você tinha medo do escuro e corria para a minha cama?
Eu ri da lembrança.
- Lembro. Você era a única que deixava e mamãe ficava desesperada quando não me encontrava na cama.
Nós rimos um pouco da situação.
- Não gosto de te ver assim, irmã. Não quero te obrigar a me contar, mas está me matando olhar sua expressão triste.
Eu permiti algumas lágrimas descerem e acabei contando tudo para a Fran. Ela ficou nervosa e começou a xingar palavrões em italiano que eu nem conhecia.
- Que horrendo esse homem! Ele acha que é quem? Eu sei, não responde. Mas ele não tinha o direito de fazer isso! Como ele teve coragem? E te deixar vir embora sozinha!
- Eu que escolhi, Fran. Não queria ficar nem mais um minuto naquele lugar. Talvez papai tenha razão quando diz que não posso sair daqui, minha irmã! Eu só sou uma garota do interior e....
Ela me olhou chocada, me calando na hora.
- Pode ir parando por aí! Que conversa é essa? Você nunca foi somente uma garota do interior, você é aquela que quer um futuro diferente, que quer estudar e viajar! E você vai conseguir. Não é um riquinho metido a besta que vai te fazer desistir e duvidar de você!
Eu ri da minha irmã e ela me abraçou.
- Amanhã nos vamos sair e mudar esse visual. Todos dizem que isso levanta a autoestima. E é bom que você já marca para o meu casamento. Ou você esqueceu que falta apenas uma semana para acontecer? 

Bem vindo a Italia #Livro 1 (Serie De Encontro ao Amor!)Onde histórias criam vida. Descubra agora