Cartas na mesa

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Eu fiquei um tempo andando pelo apartamento, pensando no que  tinha acontecido. Mas que droga! Por que ele tinha que estar ali? E antes fosse esse o problema. Na hora que eu o vi, meu corpo todo reagiu. Eu devia odiá-lo! Não! Eu o odiava com todas as minhas forças! Ele tinha me tratado como um nada. Mas por que, santo Deus, ele era tão bonito? Eu não sabia se estava com raiva de mim ou dele no momento.
Resolvi que naquele momento eu realmente precisava relaxar e enchi a banheira. Não sei quanto tempo fiquei lá, extasiada com a água quente, quando a campainha toca. Mas não anunciaram ninguém. Sai da banheira, coloquei um roupão e fui atender a porta. Assim que abri, meu sangue gelou. Henri estava na minha porta com o cabelo bagunçado e com uma blusa dobrada até a metade do braço. Eu estava impaciente, e por isso não medi minha raiva quando questionei.
- O que você está fazendo aqui? E como conseguiu entrar?
Ele me encarou por um momento, engolindo seco.
- Tenho meus...modos... Nós precisamos conversar.
- Não tenho nada para falar com você.
Assim que tentei fechar a porta, ele me impediu.
- Você está com alguém aqui? - Perguntou, fazendo minha raiva se elevar ainda mais. Eu o encarei abismada, perplexa com a audácia.
- Isso não é da sua conta! - Apontei na direção dele.
Seu semblante ficou sério.
- Abre essa porta, Giovanna!
Tentei forçá-la a fechar, mas ele abriu sem esforço. Começou a andar pelo apartamento, vasculhando o ambiente.
- Cadê ele?
Eu não aguentei mais e explodi.
- EU QUERO QUE VOCÊ SAIA DAQUI AGORA! NÃO TE DEVO SATISFAÇÃO DE NADA DA MINHA VIDA E VOCÊ NÃO PODE IR ENTRANDO NA CASA DOS OUTROS SEM SER CONVIDADO!
Ele me encarou espantado com minha explosão.
- Você mudou...
- Sério? Você achou que eu continuaria aquela menina ingênua que você usou?
- Eu...
Interrompi o que ele ia falar, sem paciência.
- Eu quero você longe daqui e isso inclui você sair do meu apartamento agora! Não quero ver você. Não quero ouvir sua voz e não quero saber nada que diz respeito ao todo poderoso Henri!
Ele me olhou assustado, mas eu continuei, sem dar chances para ele falar nada.
- Eu só quero viver minha vida, Henri! Estou aqui por que esse sempre foi meu sonho. Não vim atrás de você e nem sabia que iria naquele jantar! Só vai embora, por favor.
Ele me encarou por alguns instantes, e saiu em seguida. Fechei a porta e lágrimas ameaçaram cair. Eu não deixei. Tinha feito um a promessa de não chorar por qualquer pessoa, e eu ia me empenar em cumprir. Voltei para a banheira e por lá fiquei até meus dedos murcharem. Assim que sai me enrolei nas cobertas e adormeci.
Acordei com o despertador e levantei para me arrumar. Me aprontei formalmente e olhei no armário, só para constatar que estava vazio. Teria que comprar mantimentos. Fiz um registro mental de procurar um supermercado depois e sai do apartamento. Já tinha um motorista me esperando. Entrei e o cumprimentei e fomos conversando até eu perceber que estávamos entrando em estrada de terra.

Olhei as muitas videiras e meu coração apertou de saudade de casa. Entramos em uma estradinha e chegamos em um galpão enorme. Parecia ter dois andares e eu já estava impressionada com tudo, quando o James surgiu e veio até mim, me cumprimentando e me guiando para dentro. Ele me mostrou todos os compartimentos e me apresentou a muitas pessoas. Chegamos a uma porta de madeira. Ele abriu, anunciando.
- Essa é a sua sala. Seja bem-vinda, Giovanna!
Eu olhei tudo maravilhada. Era um lugar amplo com um mini laboratório e uma vista incrível! Enquanto admirava o lugar, uma mulher entrou na sala, com o olhar baixo, completamente tímida.
- Oi. Meu nome é Mônica e eu serei sua secretária. - Apressou-se em dizer.
Aquilo é novo pra mim. Nunca tive uma secretária antes. Olhei para ela que estava amedrontada comigo e tratei de tranquilizá-la.
- Não precisa ficar nervosa.
- Desculpa, senhora. É que comecei hoje e não conheço muita coisa.
- Primeiro sem senhora. Meu nome é Giovanna, mas pode me chamar de Gio e é minha primeira vez aqui também. - Eu estendo a mão, e ela retribui o cumprimento.
- Posso trazer um café? - Mônica questiona.
- Que tal dois? Um para você e  outro pra mim. E se tiver algo para comer seria bom. Estou morrendo de fome.
Ela sorriu animada e saiu com sua agenda a tiracolo. Aproveitei e fui nas videiras matar um pouco de saudade. Olhei se não tinha ninguém observando e tirei o sapato para sentir a textura da grama. Andei pelas videiras, observando tudo, quando um homem passa a cavalo e percebe minha presença.
- Senhorita, é perigoso andar por essas bandas sem companhia. Você pode se perder.
Assim que o sol deixou eu repara melhor no homem a minha frente, pensei comigo "Que homem!". Ele era alto, cheio de músculos que apareciam por causa da camiseta apertada que usava. Estava com luvas de couro na mão.
- Bom dia. Fui criada em um lugar assim, sei a artimanhas para sair. - Respondo.
- Você é nova aqui. - Ele responde com um sorriso.
- Sou sim. Na verdade comecei hoje.
Ele estendeu a mão e eu aperto.
- Prazer! Eu sou o Guilherme.
- Prazer. Giovanna.
- Italiana?
Eu ri.
-Sim. Estou trabalhando com o James na produção de vinhos.
-E me conta como você está aguentando meu irmão? - Guilherme questiona, sorrindo.
- Irmão?
- Sim.
Fiquei olhando ele para encontrar traços e realmente eles se pareciam. E ele era lindo! Dio mio. Que genes eram esses? 
- Bom... Tenho que voltar ao trabalho. Só estou procurando um tipo de uva.
- Talvez eu possa te ajudar. Essa parte é minha responsabilidade.
- Preciso de uma uva ácida, sem muito doce e um outro tipo bem doce.
Nós andamos pelas videiras conversando e ele parou em uma delas e arrancou um cacho. Experimentei uma.
- Não. Não é essa. Precisa ser mais ácida.
Ele se espantou e disse algo sobre meu paladar. Andou mais um pouco e me entregou outro que experimentei.
- Vou levar uma dessa e daquela doce ali.
- Como você sabe que é doce?
- Trabalhei com isso a minha vida toda, esqueceu?
Ele riu e me acompanhou até o galpão. Assim que entrei a Mônica me entregou o café e pedi ela para sentar tomar o lanche comigo. Ela sentou e conversamos bastante, até eu ter que voltar ao trabalho. Fiquei um tempo estudando o que fazer. Quando o James entrou e disse:
- Como está indo?
- Bem. Comecei a criar algo, mas ainda está no começo.
- Meu irmão disse que esteve nas videiras hoje.
- Sim. Senti saudades de casa.
- Entendo. Eu passei mesmo para avisá-la que hoje começa seu curso que é noturno.
Eu sorri.
- Ansiosa para começar. - Comentei.
Ele me deu algumas direções e voltei ao trabalho. Antes de dar a hora de ir embora, perguntei a Mônica onde podia achar um supermercado ou armazém ali perto do meu apartamento. Ela disse que no outro dia iria comigo me mostrar um lugar e agradeci pela ajuda. Não daria tempo de mudar a roupa ou nada do tipo. Corri para fora e lá estava o motorista de James. Fiz outra nota mental de alugar um carro nesse meio tempo.


Bem vindo a Italia #Livro 1 (Serie De Encontro ao Amor!)Onde histórias criam vida. Descubra agora