A Troca de Pescoços

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Sexta-feira. Os quatro jovens aproveitaram a tardezinha com céu quase limpo de verão para tomarem um refresco juntos, reunidos no gramado em frente ao forno, o local onde se guardavam os vinhos e vinagres de uva depois da colheita do parreiral. Os quatro garotos riam alto lá fora, enquanto Exilei e Bettina Glume, na grande mesa da garagem, se ajudavam na troca de tipos de unhas Litruanas. Bettina estava ensinando Exilei a aplicar o esmalte que terminava com dentinhos similares aos de tubarão na ponta das unhas.

Cassio despejou mais refrigerante nos copos quase vazios de Max, Sscot, e Enrhái. Enquanto bebiam, ia mostrando os outros carros que conseguia materializar em quase todos os lugares que ia. Cassio materializou uma BMW, duas Ferraris e um 360Z.

- É como se fosse carrinho de brinquedo. – Disse Max maravilhado. – Quantos humanos gostariam de ter tudo isso.

- É que isso não é válido aos humanos. Coitados – Brincou Enrhái.

Os três riram mais um pouco. Durante os risos, Max direcionou os olhos para todos os lados enquanto tomava mais do refrigerante depositado em seu copo. Numa das direções, deparou-se com Betti Glume. A Gêmea Glume, diferente do restante do grupo, estava mais dispersa, sozinha e sentada em cima do tronco contorcido de uma das árvores nascidas bem na elevação do morrinho do cercado onde as ovelhas passavam a noite. Betti Glume parecia não parar de olhar para o céu. Max estranhou.

- O que ela tá fazendo?

Os três desconfiaram da expressão curiosa do garoto. Max não estava dando a mínima a eles direito há já um tempo.

- Não sei. – Respondeu Enrhái num tom irônico. – Desde a tarde dessa oscilação que ela tá assim. Por que não vai dar uma olhada mais... De perto, Max?

Max parecia meio avoado das ideias. Ainda meio indeciso, o Qlember ia se levantando da cadeira. Cassio deu um empurrãozinho de leve para ele se levantar por completo da cadeira. Os três continuaram abafando risos por trás do Qlember do fogo até ele ir em direção à estradinha de pedras que levaria à Betti. Max nem ouvira muito aquilo. Na verdade, no que ele estava mais concentrado era o comportamento frio que Betti Glume estava tendo sentada naquele tronco contorcido. O pôr do sol uma atração através dos parreirais que ficavam iluminados na presença dele. Max alcançou Betti.

- Betti?

Betti pareceu se assustar. Vendo de perto, a mesma parecia estar mais distraída ainda.

- Hmm... Espera... – Betti desceu do tronco da árvore. – Agora sim... O quê queria, Max?

- Hm... Bem... Estranhamos porque você tava tão... – Max tentara achar a palavra correta.

- Desligada? É que eu preciso ser assim, às vezes. Quero dizer, os Litruanos dessa geração precisam disso. – Explicou a jovem. Os dois começaram a caminhar em direção ao mesmo local onde tinham mania de treinar golpes e magnetismo. Quando Max percebeu, ambos já estavam no topo do morro do potreirinho.

- É tão engraçado. Geralmente, eu achava que os Litruanos eram mais aquáticos. Magnetizadores que conhecemos ao longo das missões sempre relatavam alguns contos místicos sobre o planeta de vocês.

- É que somos a nova geração. Somos mais humanos do que tipos de peixes, mas ainda temos manias dos nossos ancestrais. Todos nós nascemos na temporada Götan, que é o mesmo em que Ender Blackhole, o guerreiro lendário e primeiro Bufarinheiro de TriÚni, tem seu planeta nos regendo. Por isso, todos de lá só magnetizam a água, o mesmo elemento bruto do planeta. Temos quase os mesmos costumes que um humano pisciano. Somos curiosos... Gostamos de observar as coisas por bastante tempo. Muitos têm esse senso que às vezes dá a falsa impressão de que somos meio lerdinhos... Aí fazemos uma coisa grandiosa e surpreendemos todos que duvidam de nós... Se não formos mais uma moeda de Musi-Drug que os líderes de lá tentam impor a toda a população de Lolmone'trum...

- Isso é muito bom. Conseguir... Sur...Sur... Surpreender. – Max gaguejou um pouco. Não causou, no entanto, tanto incômodo para Betti Glume.

- Tudo... Ótimo! – Betti encarou Max com os mesmos olhos delirantes que a mesma jogara contra ele no Paintball de Magnetismo, e o Qlember de Veridian acabou ficando hipnotizado mais uma vez.

- Litruanos instigam os outros a ficar com eles. É como uma hipnotização temporal. – Cassio comentava com Sscot e Enrhái lá em baixo, enquanto isso.

Max e Betti se aproximaram mais entre si.

- Eles se jogam... Depois... Eles soltam, como se fosse qualquer coisa. – Continuou Enrhái.

- É... Mas quando é pra ser sentimental, os Litruanos podem ser os mais bondosos... Como também os piores seres de várias Galáxias comparadas. – Cassio disse com um tom de voz de arrepiar.

Betti Glume, quebrando as expectativas do Qlember, desviou a boca da de Max. Diferente do que o jovem esperava, ela foi jogando seu pescoço para mais perto do pescoço dele.

- Não se preocupe... Não vai doer. – Tranquilizou Betti Glume com seu pescoço já encostado no do jovem.

- E a ficada de um Litruano é a coisa mais estranha que eu já senti. Pior até que uma musi-drug superpotente que você está escutando pela primeira vez na sua vida metabólica. – Cassio narrava filosoficamente. - É como você sair do seu corpo, mas ao mesmo tempo ainda estar lá. É como... Como... Ah, não sei explicar direito, mas simplesmente é o prazer mais requisitado que um ser das Galáxias gostaria de ter. Nenhuma substância é tão forte quanto uma... Troca de pescoços a la Litruana.

Os pescoços de Betti e Max finalmente se encostaram. Max teve certo arrepio de primeira. O pescoço dos Litruanos era composto de um tipo de pele em escama diferente da pele dos E-xens e Triuanos. Era uma pele mais cartilaginosa que fazia um barulho de borracha ao toque. Para Max, foi como se estivesse esfregando um lambari no seu pescoço. De repente, o pescoço de Betti Glume preso ao de Max começara a fazer diferentes elevações. Fitas da pele do pescoço começaram a se elevar e se separar uma da outra, formando um tipo de brânquia laminada de peixe em volta do pescoço tocado. Betti tentou tranquilizá-lo mais uma vez, embora Max não estivesse nem mais conseguindo dar atenção ao resto das frequências sonoras ao seu redor. O contorno das fitas de pele do pescoço de Betti Glume começara a cortar o pescoço do Qlember, até que as mesmas se conectassem completamente por dentro do pescoço do jovem. Max começara a sentir um monte de aromas, e uma orquestra alucinógena de musi-drugs. Sentiu-se flutuando. Ele mesmo parecia ter saído da atmosfera da Terra e agora estava num balanço alto no meio do espaço. Uma sensação de conforto e gravidade zero começou a ser sentida por ele.

Betti, lentamente, foi distanciando seu pescoço do de Max, e a orquestra rítmica de musi-drugs, os cheiros de todos os tipos, e a água fresca parecendo molhá-lo por inteiro num clima caloroso começara a sumir. Max voltou ao seu corpo e, nisso, retornara a realidade dos seus próprios olhos. Voltou a sentir a ponta dos pés pisando na trilha pedrosa.

- Uau!... Que... Incrível!

- Deve ter gostado mesmo, porque ficamos um tempo desse jeito.

- Não, ficamos segundos só.

- Não, Max. – Quando ela disse isso, Max olhou para o céu. O manto azul estava completamente diferente agora. As nuvens haviam tomado novas posições, e uma camada de nuvens pesadas vinha cobrindo o céu lá adiante. – Fazem mais de dez minutos que estamos conectados.

- Uau! – Max suspirou de novo. – Uau?!

O último "uau" de Max saiu um tanto diferente e de forma inesperada. Foi dito na hora que o mesmo enxergou o que não queria além dos morros. Uma nuvem negra colidir em alguma coisa invisível e causar raios. Max logo soube por si só que era a proteção de magnetismo do vale lá adiante sendo bombardeada por aquelas nuvens.

- O que é aquilo, Max? – Perguntou Betti ao ser levada com os olhos a mesma direção da visão do Qlember do lado.

- Uma coisa nada boa. – Max sem desgrudar os olhos da nuvem rebelde adiante. – O cerco... Se fechando outra vez.

Max sabia o que era. Veridian já se encontrava no início do vale TriÚni. Suas nuvens deveriam ter feito uma grande viagem em busca do Qlember e no tempo presente acertara na mosca.

M.S.E. Series - Lawn Xavier, O Universo Submerso, O Final de EraOnde histórias criam vida. Descubra agora