Capítulo VIII

73 5 0
                                    


Para um bando de soldados, o salão estava muito bem decorado, havia vermelho por toda parte, mas eles faziam questão de se mostrarem imparciais, pois as mesas e o palco eram revestido com panos pratas, simbolizando os dois sangues. Ali claramente era um baile, mas conseguia se diferenciar muito de Norta, simplesmente por que não tinha uma barreira entre casas aliadas ou não, claro que aquilo existia principalmente pós revolução, mas pelo menos eu não consegui ver pessoas em grupos, cochichando a quem se aliar ou a quem declarar inimigo, eles estavam puramente se divertindo com a ocasião, aquilo sim era uma festa. 

Uma coisa que nunca tinha percebido era o quanto sentia falta das festas em Palafitas, nós eramos todos pobres, mas quando queríamos comemorar alguma coisa como a passagem de ano fazíamos uma grande festa, todos chamavam de Festa Vermelha ou Dia do Sangue, esse era o único dia em que eu tirava os olhos do bolso das pessoas, colocava uma roupa "bonita para ocasião" (quase sempre um vestido, por obrigação de Gisa e mamãe), e ia para a festa com meus amigos e irmãos, dançava a noite toda com eles, e aquilo passava longe do baile real, por que nele eu tinha que saber os passos, como me comportar e me preocupar em não morrer, e as Festas de Sangue eram bem diferentes, eu apenas precisava me soltar, o que quase nunca acontecia, eu amava aquelas festas e esse baile hoje está tão parecido que quase me esqueço que estou em Montfort e acho que se sair pela porta vou ver a floresta onde acontecia a comemoração, o rio de água quase congelada por causa do inverno e a alegria no rosto de cada pessoa.

Sou tirada das minhas lembranças, por um cutucão da minha irmã, ela aponta para o outro lado do salão, onde consigo ver toda a família real de Norta, quase tropeço quando percebo que eles estavam me encarando e sinto uma amargura ao ver que além de Cal, a rainha Anabel Lerolan, Julian e Sarah, Evangeline e sua família estavam lá também, eu sabia que estariam, já que Evangeline é a noiva dele, mas ainda sim era difícil vê-los juntos. Julian sorri para mim e vem em minha direção com Sarah, o restante fica apenas encarando, mas consigo perceber mesmo estando longe que a família Samos se prende ao vestido, e Lerolan também não é diferente, provavelmente sabem de quem ele é, e realmente não dou a minima para eles.

-Mare! Ah como é bom vê-la garota!- Julian me abraça apertado, retribuo o abraço com um pouco menos de força, pois tenho medo dele quebrar. Julian sempre foi franzino fisicamente, mas é por causa dele que eu descobri todos os rubros existentes em Norta, sua inteligencia era tão grande que podia ser muito perigosa- Já sabe? Eu e Sarah vamos nos mudar aqui para Montfort, então espero que esteja pronta pois voltará a treinar comigo também.

-Eu soube, estou feliz por ter você por perto novamente, e Sarah também, precisamos muito da sua ajuda com Cameron...

- Esta garota está aqui? Ela era teimosa como você Mare, mas a diferença era que as vezes você escutava, ela não!- Pelo jeito Julian não era muito fã dela, mas com aquele gênio quem poderia.

-Julian, não vejo nada disso em Cameron, ela apenas precisa que alguém a guie e por favor, solte Mare e deixe-me abraça-la!- Era verdade quando disseram que a voz de Sarah era linda, ela era quase parecida com a de um prateado Cantor, assim ele deu espaço para que Sarah se aproxima-se, não tinha muito contato com Sarah, mesmo assim parece que a conhecia a anos.

-Como vai, querida?- Ela diz, me abraçando forte como Julian- É bom ver que está bem, depois de tudo é difícil não ter nenhuma sequela- Talvez eu não tivesse no corpo além das cicatrizes de Maven, mas minha alma estava repleta de machucados que provavelmente demorariam para passarem se um dia passasse.

-Estou bem, Sarah, você também, mesmo estando com um ranzinza ao seu lado- Nós duas rimos, e Julian apenas bufa,mas no fundo ele está pulando de alegria.

The transcendent RayOnde histórias criam vida. Descubra agora