P.V. Maven
Qual o problema deles?
Ainda é madrugada e Mare Tyton e Andrew já estão em pé mexendo em papeis e ainda por cima me obrigando a ficar junto a eles.
Mal dá para enxergar, estaríamos na completa escuridão se não fosse a pouca luz fornecida de um lampião. Claro que Mare e Tyton conseguiam iluminação a partir do próprio poder. Eu observava os dois trabalhando juntos em cima de mapas e relatórios, pelo jeito meu irmão não perdeu a Mare simplesmente pela coroa. Andrew está de frente para eles examinando outros relatórios, e se certificando que eu não faça nada. Como se eu fosse burro de começar uma briga sem meus poderes e com tanta gente armada aqui, mesmo se ganhasse, não tenho a mínima ideia de como sair deste matagal.
Olho para o fundo do lugar, o restante ainda está dormindo. Desgraçados de sorte.
Estou quase cochilando quando algo bate no meu rosto.
Jogaram uma bolinha de papel em mim? Deve ter sido Tyton, aquele cara ainda me paga. Fuzilo ele pelo olhar e o eletricon apenas dá de ombros e diz.
-Não durma, precisamos de mais informações- Filho da mãe.
Meu temperamento sempre foi controlado, nunca deixei o que pensava ou sentia transparecer no meu rosto. Fui ensinado assim pela minha mãe. Porém, desde que tudo isso começou é como se essa parede de gelo que existia no meu cérebro e na face começasse a derreter, aos poucos vou mostrando mais de mim, não consigo fingir como antes, falar que tudo está bem. Isso também aconteceu por causa de Thomas, sempre fui frio e distante como Elara me mandava ser, mas Thomas... com Thomas eu não conseguia, simplesmente não conseguia esconder nada dele, ele me via por dentro, via o que eu realmente era ou deixava de ser, mas nunca me rejeitou. Pelo contrário, ele aceitou quem eu era e ainda por cima me amou, e eu o amei.
Sinto meus olhos arderem e me forço a segura-las, por mais que meu coração esteja se despedaçando forço-me a mostrar uma expressão fria, calma e até mesmo entediada. Pelo menos isso eu ainda consigo. Mas se Mare tocar no nome de Thomas como fez aquela noite no barracão onde estávamos não sei se suportarei, ela foi a única pessoa para qual contei sobre ele. Ela me lembra ele, com sua língua afiada e o rosto inocente, mas de olhos cansados, olhos de quem já viu muito horror no pouco tempo de vida que tem.
-E então? Vão me fazer as malditas perguntas ou vão ficar apreciando minha companhia sem falar absolutamente nada até amanhecer? -Digo. Um soco poderia justificar as lagrimas que estão teimando em descer pelo meu rosto.
-Se quer falar, fale Maven. Já esperamos demais, nos comprometemos demais- Andrew diz voltando se para mim. O rapaz nem me conhecia, mas parecia nutrir um ódio gigantesco pela minha pessoa.
Eu sempre provoco o melhor nas pessoas.
Reviro os olhos e estou pronto para retrucar quando Mare se aproxima de mim e me estende a mão. Seus olhos são um misto de entendimento e pena.
Não. Não é mão que ela está me estendendo, mas um lenço branco que eu não tinha visto em sua mão. Eu a encaro pegando o pano, ela apenas da de ombros e diz:
-Ninguém merece chorar a vista de todos.
Nenhum deles parece notar e se notam fingem estar ocupados com os papeis quando ela puxa uma cadeira e se senta de frente para mim, seus joelhos quase tocando nos meus. Vejo ela serrando as mãos em punho. Ela está nervosa, está com medo de mim.
E assim o segundo de trégua da minha mente para e percebo que ela não está se sentando ali por que quer ficar perto de mim, mas por que quer respostas. Ainda lembro dos gritos dela naquela noite. De tudo que seus olhos falavam sobre mim. Mare não precisava emitir palavra alguma para que eu soubesse que ela me achava um monstro, e talvez eu seja mesmo.
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The transcendent Ray
FanfictionEla o deixou, não queria uma coroa de sangue cravada em sua cabeça. Ela precisava da liberdade, foi por isso que lutou. Agora Mare Barrow e sua família estão em Montfort a guerra não precisa mais dela mas a paz ainda não reina em Norta e nem na vida...