Capítulo XIX

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-Bom dia- Tyton me cumprimenta quando entro na cozinha. Antes de responde-lo olho todo o lugar onde estávamos hospedados, lembro de Tyton dizer no telefone que era um hotel de beira de estrada. Era um lugar pequeno, e tudo parecia precisar ser trocado desde o piso de madeira até os parapeitos das janelas, porem era um lugar seguro, provavelmente ninguém pensaria em me procurar aqui, após um tempo percebo que Tyton me observava e olho para ele que estava com um vinco enrugado na testa, parecia intrigado comigo, mas quando percebe que o encaro de volta ele desfaz a expressão e me pergunta- Está tudo bem?

Poderia mentir dizer que estava ótima, e que ele não tinha nada a ver com isso e também que poderíamos continuar a missão. Mas, não seria certo, não queria mais mentir (por mais que minha nova vida seria embasada nisso) não queria enganar a unica pessoa que provavelmente está bem ferrado com o Imperador por minha culpa, ele havia de certa forma me entendido, entendido meu desespero. O minimo que poderia fazer era ser honesta com ele, então digo.

-Não, não está- Sento numa cadeira de frente para ele- Aquilo... Aquilo que aconteceu na ilha, eu não esperava, e, então vi Xavier, quem me trouxe, daquele... Daquele jeito, e não suportei- Me lembrar da cena era horrível, mais pior seria se ele fizesse as perguntas.

-Sei que não gosta de falar sobre essas coisas, sobre mortes e culpas, mas eu sei o que é isso, essa raiva de si mesma por não ser capaz e fazer nada para mudar aquela realidade. Mas também sei que ficar quieta, se enjaular na própria dor e culpa só piora as coisas, você tem uma ideia distorcida de tudo que fez, acha que é um erro, mas não é, tenha certeza disso. E se quiser desabafar, sou bom ouvinte- Eu repasso tudo que passei desde que que Kilorn apareceu desesperado na minha casa dizendo que seu instrutor tinha morrido e que iria para guerra. Ali meu destino, ou qualquer coisa que coordene nossos caminhos tinha sido trassado. Como já fazia algum tempo que estava quieta, Tyton entendeu meu silencio como um fim de papo e começou a se levantar quando disse para mim- Bom, estarei no meu quarto, se precisar de alguma coisa me diga. Partiremos hoje no começo da noite para Sunshine Town la te passarei as instruções. Descanse mais um pouco.

Ele já estava na porta do quarto quando tomei coragem e perguntei:

-Ela um um dia vai embora?- Ele olha para mim, não entendendo- A culpa, algum dia vou poder olhar para tudo isso e não sentir... Nada? Nem raiva, ou nojo de mim, por... por tudo que aconteceu?

-Sinceramente , não Mare, está culpa vai morrer com você. Você sentirá constantemente raiva de si. Ela não vai embora pelo simples motivo desses sentimentos virem de você, se qualquer outra pessoa dissesse ter ódio de você, isso doeria, mas passaria com o tempo, porem quando é a nossa consciência que nos julga fica muito mais difícil de tirar esse fardo das costas, mas quando se toma as rédias de novo você consegue não só sobreviver com esses fantasmas mas realmente viver, se divertir, para de se culpar por simplesmente respirar enquanto outros...Não tiveram a mesma sorte- Ele apenas me encara, e percebo que ele falava aquilo não como um espectador como quando minha família dizia que eu não era um monstro e que tudo se resumiu a salvar,tudo por um bem maior, ele falava como se soubesse como era se sentir daquela forma. Tyton já tinha passado por isso.

- Quando diz essas coisas, você não esta falando de mim e meus fantasmas, mas dos seus não é?- A confirmação vem com o silencio dele- Seu pai?- Insisto por mais que saiba que ele não vai falar sobre esse assunto, já tinha desistido quando ele me surpreende voltando à mesa e se sentando a minha frente.

-Sim, são os meus fantasmas que me fizeram entender o que se passa com você Mare. E o maior deles é meu pai, não pude salva-lo, não consigo salvar nem a mim mesmo, então...- Tyton parecia uma versão um pouco mais serena de mim, porem seus olhos o traiam, mostravam que por trás daquela fachada de homem responsável, paciente e responsável, havia um menino, atormentado até o fundo da mente, que tudo o que queria era poder se soltar, ser livre, como os raios que continha.

The transcendent RayOnde histórias criam vida. Descubra agora