Parte 4

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Na manhã seguinte, eu me sentia completamente vazio.
Tão vazio quanto um saco plástico esquecido no meio-fio.
Tão vazio quanto quando acordei com Ana ao meu lado no dia anterior.
24 horas perdidas.
Só você me completava. Via essa certeza crescer em mim junto à minha saudade.Minha expectativa ao acordar era a de ver Arthur me encarando com aquele jeito doce. Esperanças são dispersas. Normal. Ele já tinha ido embora quando acordei.
Na verdade, eu tinha ouvido o barulho da porta se fechar por sobre os três lençóis brancos que cobriam a cama. "Deveria trocar eles", penso. Não me desespero nem fico triste. Eu realmente queria ter sentido alguma coisa com os beijos desesperados de Arthur e com os claros recados que eles deixavam. "Eu te quis desde a primeira vez que te vi". Mas não me importava dele ir embora. Talvez ele tenha percebido isso. Talvez seja esse o motivo dele ter se esforçado como um ninja para sair da cama sem fazer barulho. Me convenço do 'não foi dessa vez' quando me pego mais preocupado com o 'dia da faxina' do que com a noite que tive. Às vezes as coisas tendem a dar errado. Essa foi uma dessas coisas. Não fiquei surpreso. Começamos errado. As estatísticas eram de 99,9% de terminar assim também. Só dormi com Arthur aquela noite por carência. E certeza. Era certo que ele me queria. Isso me passava segurança. E ele era lindo, doce. Só que não era pra mim. E não foi difícil entender isso. Lucas era certo em mim. Tão certo quanto à flecha do cupido escroto que me atingiu na primeira vez que o vi. Droga. Pare de pensar nele, Nicolas.Naquele mesmo dia, já pela tarde, enquanto as portas se abriam à minha frente, formava-se a imagem de um cara usando chinelos azuis, bermuda branca de taquetel e blusa rosa-salmão. "Arthur". Ele olhava fixamente nos meus olhos, enquanto eu dava passos curtos na direção do espelho. "Desculpe por hoje. Não sei o que deu em mim". "Esquece". Eu não sentia raiva dele, não me importava. Mas isso não justifica o que ele fez. "Mas o erro é meu. Sou sem rumo. Não posso culpar quem passar pela minha vida". "Estou perdido. Ah, todos estamos". Penso. Você tem um problema agora? Duvido que não. Eu tinha. Daqueles que cegam, deixam sem bússola pessoal. "Tchau, Nicolas". "Tchau Arthur". Norte, Sul, Leste, Oeste. Ele era minha rosa dos ventos. Sentia-me perdido. Estava perdido. Eu era perdido.Desci do elevador, cumprimentei o porteiro e fui pegar as contas na caixa do correio. Subi de volta. Tédio. O que se faz quando se sai do fundo do poço? Não sou a Samara. "Ah, preciso avisar as pessoas. Luíza vai ser a primeira". Ela e Lucas eram bem amigos. Ainda deviam ser. Não falava com ela há, an, muito tempo. "Oi, Luíza? Tudo bom?".

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