"Vocês estão bem agora?"Luíza me perguntou enquanto tentava alcançar alguma coisa na última prateleira do quarto. "Resolvemos ser amigos".Não falei continuar, porque não éramos amigos antes de sermos namorados. Conheci Lucas numa social da Luíza, mal ouvi seu nome e já me apaixonei. Coisa de meia hora. Meias palavras. Beijos inteiros. "Ele estava mal por você. Foi o que me disse".Ela pegou uma caixa azul e apoiou na seda do lençol em sua cama. "Ele me deu essa caixa quando vocês, você sabe, se separaram". Ela abriu a caixa e mostrou o que tinha dentro: Fotos Polaroid de nós dois juntos em Porto Seguro, andando de bicicleta à noite. Alguns Post-its com recados de Bom-Dia, da época que ele trabalhava num turno oposto ao meu. A primeira aliança que compramos juntos. Um chaveiro clichê escrito "Eu te amo", que achamos numa loja de suvenir. Eu não sabia que ele guardava todas essas coisas. Achei que tivesse jogado fora ou perdido. Era estranho, por que nem eu mesmo sabia se ainda tinha todas essas coisas."Acho que não devia te falar ou mostrar, mas ele não disse que era algum tipo de segredo, ou sei lá. Achei que seria bom se você visse".Han?"Por quê?"."Porque talvez ele ainda queira você, Nico".Ata."Duvido muito. Quando ele foi lá ontem, disse que gostava de mim. Me segurei pra não chorar"."Então! Ele disse que ainda gosta de você, tá vendo?"."Ah, Luíza, você não é idiota. Ele não disse que ainda gostava de mim. Ele disse que gostava de mim. Falou como um primo, ou um peixinho"."Que merda".* * *Voltei para casa. Pensei, por quase uma hora, o 'por que' de termos existido. Por que não fomos outras pessoas? Por que não conhecemos outras pessoas? Por que nós existimos? Por que um dia nos tornamos um? Nos tornamos um? Há um mês eu preferia morrer do que ter de me fazer essas perguntas. Afinal, quem gosta de sofrer? Nunca entendi por que tantas pessoas têm medo da morte das coisas, do fim. Não deveríamos temer a dor? Pois bem. Quando morremos, a dor acaba. Mas é tão frágil. Covardia ou coragem? Não sei. Sejamos sinceros; O que é mais fácil? Acabar com a dor num só corte, ou levantar e correr atrás da cura? Enfim, volto a pensar em nós. O que fomos afinal? Um casal? Sim, fomos um casal. E de quem fomos? Ué, ele era meu e eu dele, certo? Certo? Não, eu era das minhas paranoias. Ele era da minha tentativa de me curar das minhas próprias feridas. Ele não merecia isso. Não, não merecia.Entendo o 'por que' de não sermos mais 'agora'.
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AMNÉSIA
RomantiekEm um mundo onde os ponteiros do coração se partiram no término de seu romance com Lucas, Nicolas vagueia à beira do colapso emocional. Três anos de autodescoberta se estendem diante dele, uma jornada para costurar as lacunas abertas por essa doloro...