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Eles me mantêm sobre constante treinamento aqui em Arkadia – pelo menos após os horários de aula

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Eles me mantêm sobre constante treinamento aqui em Arkadia – pelo menos após os horários de aula. Eles dizem que é necessário para que eu tenha absoluto controle sobre o meu corpo e sobre o que ele é capaz de fazer – e à cada dia que passa descubro coisas novas sobre mim mesma.

Tenho todas essas pessoas – muitas delas sem saberem quem eu sou realmente, apenas sabem que sou "diferente", que sou como os outros – ao meu lado para me ajudar a manter os meus poderes fortes, porém controlados – o que não é tão fácil quando se é uma adolescente regida por seus hormônios e quando um desses poderes se manifesta quando certos pensamentos invadem sua cabeça.

Em momentos como esse, quando eu vejo tanta gente dando o seu máximo para me ajudar, eu penso em meu pai. Ele não tinha ninguém que o ajudasse, ou que o entendesse, a descobrir e conter tudo isso quando ele tinha minha idade, ou até quando ele era mais novo – naquela época ele era o único aqui e ainda não sabia de onde havia vindo.

Com minha mente muito longe do que acontecia ao meu redor, fui atingida no peito e arremessada no ar, parando, com as costas contra o chão, alguns bons metros longe de onde eu estava anteriormente – é isso o que acontece quando você se distrai com tanta facilidade.

Sinto uma dor lancinante no ombro esquerdo como se algo tivesse sido esmagado – ou é apenas a minha mente me fazendo pensar isso. E se eu não fosse quem sou, acharia que havia quebrado alguma coisa, porque essa deve ser a mesma sensação.

Se eu não usasse esse anel, que adorna o meu dedo anelar da mão esquerda, tenho certeza que não sentiria dor alguma ou me machucaria fácil. Mas eu tenho que usar esse anel, pelo menos apenas nos treinamentos, para levar os meus poderes, e para levar ela, ao seu extremo.

Mas com essa queda de agora, aposto que vai ter um hematoma em algum lugar das minhas costas amanhã de manhã – comparada com a minha prima, eu sou fraca ainda e é por isso que minha pele consegue formar hematomas, mas um dia vou ser tão forte quanto ela é.

O que um pequeno mineral radioativo, de um certo e especifico planeta extinto, não faz com o nosso corpo, não é mesmo?

Ainda que o anel que uso tenha apenas uma pequena amostra desse mineral o enfeitando, mas é o suficiente para nos afetar em termos moleculares, nos tornando tão frágeis quanto qualquer humano.

Quando a dor passou, pelo menos uma parte dela, ou talvez nem tivesse doendo tanto assim, me coloquei de pé em um único e rápido movimento.

— Você não deveria mexer com fogo, Kara — falei entre dentes para a loira, porque dessa vez doeu.

Essa não foi a primeira vez que isso aconteceu hoje, dela me acertar, eu ser arremessada pelo ar e parar no chão em uma queda forte.

Kara diz que faz isso para ver até onde eu posso ir – do jeito que as coisas estão indo, só me vejo em uma cama de hospital e em um futuro bem próximo. Mas eu entendo, sei que ela está me treinando mais duro para que eu não precise depender somente dos meus poderes para deter alguém.

Em um movimento tão rápido que me fez dar um ou dois passos para trás – sinceramente, ela tem mais experiência e controle no quesito poderes do que eu, sem dizer que Kara é uma pura –, Kara estava frente a frente comigo.

Só que o anel que uso, mesmo tendo apenas uma pequena fração daquele mineral radioativo – e mesmo nós duas treinando há algumas horas já – tem um efeito bem maior nela do que tem em mim.

Em mim, apenas afeta o meu corpo e uma pequena parte dos meus poderes – eu não entendo porque não me afeta inteiramente, deve ser porque não sou uma pura como Kara é –, em Kara esse mineral afeta tudo em um nível gigantesco e completo.

Kara começa a suar, mesmo sendo apenas uma fina camada de suor formada em sua testa.

Uma gota de suor desce pela lateral de seu rosto e se não fosse por meus reflexos rápidos e por meus braços segurarem firme em sua cintura, ela cairia de joelhos na minha frente.

O que eu faço agora? 

Se a Kara não pode ficar perto de mim enquanto uso o anel, que também serve para que ela de algum jeito consiga "bloquear" esse efeito que a pedra tem sobre si – Kara faz questão de deixar isso bem claro e me obrigando à usar o anel também –, então...

Tendo absoluta certeza de que Kara não cairia se eu soltasse sua cintura, me afastei o mais rápido que pude dela e fui para o outro lado da Sala de Treinamento – como o Galpão ainda não está pronto, então é aqui que Kara e eu treinamos por enquanto –, onde eu deixei a caixinha onde guardo o anel.

Tirei o anel do dedo e o coloquei dentro da caixinha de chumbo – porque o chumbo é a única coisa que pode nos "proteger" do efeito desse mineral radioativo.

Após ter tirado o anel, o ter colocado seguramente dentro da caixinha e tê-la fechado, até eu me senti mais leve. Até parece que um peso enorme foi retirado de cima de mim.

— Me desculpe, Kara — falo olhando para ela com, tenho certeza, culpa estampada nos olhos. — Você não deveria me obrigar à usar o anel quando estou com você — Kara iria falar algo, mas eu não deixei. — Eu sei que você vai dizer que está tudo bem, que você está costumada com o efeito que a pedra tem em você — volto para perto dela. — Mas eu não gosto de ver você sofrer. Você também é minha familia, Kara.

Espero que ela entenda que o que aconteceu não foi minha culpa, apesar de eu sentir como se fosse, ou culpa dela. Kara é a única familia de sangue que sobrou do lado do meu pai, e quando ela sente dor, eu também sinto.

Antes que Kara pudesse dizer algo, uma voz grossa vem da porta da sala, nos fazendo olhar para essa direção.

— Garotas, o treinamento acabou por hoje. Lara, nós precisamos conversar — ele falou seriamente.

Apenas concordo com um aceno de cabeça e, dando um último olhar de desculpas para Kara, o sigo para fora da Sala de Treinamento.

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