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. . . 7 Anos De Idade . . .   

— Ela é tão estranha.

— Por que ela não brinca com a gente?

— Dizem que ela tem medo de se misturar com humanos, porque ela cresceu em uma fazenda junto com os animais. 

Esses são alguns dos comentários que eu ouvia das crianças todos os dias – e o último sempre me faz rir.

Aquele era o meu primeiro mês de aula, em uma escola de verdade, e eu tentava permanecer o mais longe possível das crianças – eu interagia com elas só quando era necessário, o que era quando os professores me obrigavam.

Eu tinha medo de perder o controle por apenas pequenos segundos e machucá-las, não com a intensão de fazer isso, mas porque apenas eu não conseguiria me controlar – não era culpa minha, eu ainda era nova nisso.

Eu sabia do que era capaz de fazer, então eu apenas ficava quieta em um canto e sozinha. Era melhor desse jeito, tanto para mim quanto para todos os que estavam ao meu redor.

As crianças, muito menos os adultos, não sabiam que eu podia ouvir tudo o que falavam, mesmo eu estando em uma mesa afastada e do outro lado da cafeteria da escola.

Antes que eu entrasse em uma escola normal e interagisse com mais crianças do que eu era acostumada – que na época eram algumas crianças, 4 ou 5 apenas, que frequentavam a mesma igreja que minha familia –, minha mãe e minha avó, mãe do meu pai, me ensinaram, ou tentaram o máximo que podiam, a me "acalmar" e a me manter sob controle.

Era tudo muito doloroso, tentar me adaptar e adaptar o meu corpo à essa atmosfera – como ele, o meu pai, também teve que se adaptar quando tinha essa mesma idade.

Isso tudo foi preciso para que não acontecesse na escola o que aconteceu em casa. Praticamente queimei o meu quarto inteiro com apenas os meus olhos, após ter acordado de um pesadelo no meio da madrugada.

Essa parte de ensinar alguém como eu a se acalmar e se controlar, demorou um bom tempo.

— Eu vou falar com ela — falou uma voz fina, mas uma voz decidida.

Franzi as sobrancelhas em confusão, olhando na direção de onde veio o som da voz.

Antes que eu pudesse ou tivesse a chance de reagir, saindo da mesa e indo para algum outro lugar, uma garotinha talvez da minha idade, de cabelos loiros e olhos em um azul-claro cristalino, já estava na minha frente.

Minhas mãos ficaram frias e suadas – o que foi uma das únicas vezes que isso aconteceu comigo –, com um nervosismo estranho crescendo pelo meu corpo.

A garotinha olhou para mim e sorriu. Alguns dentes faltavam em sua boca, mas isso não parecia impedi-la de exibir um enorme sorriso.

Essa atitude dela me surpreendeu, porque geralmente todos se afastam de mim. Está em seu instinto de sobrevivência, está na natureza deles manterem uma distância segura de mim – talvez bem no fundo, eles saibam quem eu realmente sou.

— Olá — disse ainda sorrindo. — Meu nome é Eliza Sullivan, mas você pode me chamar de Ellie — estendeu a pequena mão em minha direção. —  Qual é o seu nome?

Por um instante pensei se deveria pegar na mão de Ellie. Mas se eu pegasse na mão dela e colocasse um pouquinho só de força nesse aperto de mãos, eu poderia quebrar sua mão.

Então fiz o que sempre fazia nessas ocasiões, acenei com a cabeça.

Lara Kent — falei apenas isso.

Me surpreendendo mais uma vez, Ellie me abraçou, me trazendo para bem perto de seu pequeno e frágil corpo – para mim todos eles são pequenos, frágeis e lentos.

— Você será minha melhor amiga no mundo inteiro, Lara.

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