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Após a quase destruição total de Gothan e Metropolis, o governo, juntamente com a poplação destas duas cidades, achou sensato unir as duas cidades para criar a cidade de Kal – uma homenagem, um monumento gigantesco para que a humanidade lembre sempre do que ele fez por todos eles, por todos nós.

É um pouco estranho estar fora de Arkadia novamente – porque depois de eu ter terminado o Ensino Médio em Smallville, tive que dedicar o meu tempo integralmente aos treinamentos –, com o sol esquentando minha pele e com a brisa correndo ao meu redor, levando mechas do meu cabelo para dentro da minha boca de vez em quando.

Não que em Arkadia eu ficasse trancafiada dentro de um porão escuro, até porque eu tinha permissão de sair quando eu me comportava bem, mas é que esses últimos anos foram dedicados apenas e somente aos meus poderes e em como ter o total e absoluto controle sobre eles.

Bruce e Kara disseram que todo o treinamento, todo o preparo, que tive me ajudaria a enfrentar as coisas, e pessoas, aqui de fora com mais facilidade – apesar de que toda a minha vida eu estive aqui fora e junto dessas pessoas. Mas eu ainda preciso de "ajustes" em meu temperamento que é meio explosivo, às vezes.

Eu havia me esquecido de como os sons, barulhos, podem ser mais altos sem as grossas paredes, com traços de chumbo, de Arkadia ao meu redor. Porém agora eu consigo apenas escutar e deixar os sons em segundo plano, porque eu aprendi que minha super audição não pode ser desligada, apenas "abafada".

Posso dizer que por ora estou conseguindo manejar tudo com mãos firmes.

— Olha por onde anda garota! — um homem, sem gentileza alguma, esbarrou em mim. — Eu diria pra você usar óculos, mas você já usa um — e continuou seu caminho sem nem ao menos me pedir desculpas pelo esbarrão que ele me deu.

Tinha me esquecido de como a maioria deles é rude.

Fechei minhas mãos em punhos, com uma vontade enorme de socar alguma coisa, mais precisamente seguir aquele homem e socar ele. Ainda é difícil controlar a raiva que se apossa de mim em certos momentos, e é nisso que preciso de ajustes.

Porém, tudo o que fiz foi respirar fundo, não deixando que esse meu lado irracional levasse a melhor sobre mim – só Deus sabe o que eu seria capaz de fazer se isso realmente acontecesse.

Quando me senti mais composta novamente, o que foi poucos segundos após o esbarrão, continuei o meu caminho através da calçada lotada de pessoas.

De vez ou outra meus ombros se chocavam com os ombros de outras pessoas, comigo tomando o máximo de cuidado para não esbarrar com muita força nelas – a parte de ser um tanto quanto desastrada e esbarrar em todo mundo ou derrubar coisas, que faz parte deste "personagem" que criamos para mim, aprendi com Kara.

Apesar da intensidade do mundo aqui de fora, eu gosto de estar aqui respirando o ar puro e ao mesmo tempo carregado de poluição. E eu também gosto de pôr rostos às vozes que ouço.

É engraçado também ver a pressa com que todos eles se movem, mas que para mim continua sendo tão lento.

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— Bem-vinda à cidade de Kal, senhorita Kent — estendeu a mão que apertei sem medo, porque agora sei controlar a minha força nesses pequenos momentos. — Já encontrou um lugar para ficar?

— Estou resolvendo isso, senhorita White — ofereci um sorriso gentil que logo foi retribuído pela bela mulher à minha frente.

No tempo em que ficarei em Kal, é estranho dizer o nome dele como sendo o nome de uma cidade, vou morar no antigo apartamento onde minha mãe e meu pai moravam antes de tudo acontecer.

Jackie White, a pessoa com quem estou falando no momento, é a editora-chefe, e dona da metade da revista também, de uma das maiores revistas de moda da cidade e país, talvez uma das maiores do mundo até.

E o que eu, Lara Kent, entendo sobre moda?

Eu não entende basicamente nada de moda, mas tenho um ótimo "olho", digamos assim, para fotos – consigo ver detalhes que passam despercebidos por outras pessoas, detalhes pequenos, mínimos, mas que fazem a diferença para uma boa foto. Me tornei fotógrafa, porque Lois e Kara queriam que eu fosse uma jornalista também, mas eu sou péssima com palavras para ser uma jornalista.

— Mudando de assunto — ela abre uma das gavetas de sua mesa, tirando algo dali de dentro. — Eu me apaixonei pelas fotos em seu portfólio — pegou a pasta, que havia tirado de dentro da gaveta, e colocou-a em minha frente sobre a mesa. — Eu tenho esse contrato pronto desde o dia em que coloquei os meus olhos naquelas fotos. Não tenho dúvida alguma de que você é uma das mais promissoras fotógrafas que já tive o prazer de conhecer.

Agradeci com um simples 'Obrigada' – apesar de que boa parte das fotos foram feitas em um computador e a outra parte foi feita por mim em alguns lugares para onde Kara me levou quando ela tinha um tempo livre e quando eu podia sair –, pegando a pasta, tirando o contrato e o lendo.

Li o contrato em uma velocidade, humanamente, aceitável e calmamente. Afinal, quem é que lê um contrato minuciosamente e prestando atenção nas letras miúdas, de cinco páginas completamente cheias de palavras complicadas, em poucos segundos, não é mesmo?

Após reler o contrato, para parecer ser uma profissional, apesar de todas as palavras dele já estarem gravadas em meu cérebro, eu o assinei.

Não que eu precise realmente desse emprego, mas eu preciso de algo que me deixe perto de tudo e que ao mesmo tempo não chame muita atenção para mim.

Quando eu era mais nova, e até mesmo na semana passada isso acontecia, eu não conseguia medir as consequências e a extensão dos meus poderes e o quê aconteceria se eu os usasse de uma forma imprudente.

Até conhecer Kara, que é a única com quem eu posso igualar os meus poderes, eu usava meus poderes como se não existisse um amanhã. E quando Kara entrou em minha vida, ela me mostrou que devemos ter equilíbrio entre nossos poderes e entre nossa "normal" vida, para que nossas reais identidades não sejam descobertas por quem não deve saber quem somos.

— Senhorita White — uma moça, não muito mais velha do que eu, abre a porta do escritório de Jackie, com suas bochechas vermelhas e respiração ofegante. — O fotógrafo teve outro chilique e saiu sem dizer nada.

Jackie pediu licença e saiu do escritório para falar com a moça.

Não querendo ser  alguém que escuta a conversa dos otros, mas com um pouquinho de curiosidade em mim também, e culpo minha parte humana por isso, escutei a conversa entre elas. Não é como se eu não conseguisse escutá-las, porque as palavras que para ambas são sussurradas, para minha super audição são palavras praticamente gritadas.

— Como assim ele saiu sem dizer nada? — pelo tom de voz de Jackie, ela não está nada feliz com a situação. — Liga pra ele, Kate!

Kate mostra a tela do celular para Jackie.

— Eu já liguei vinte vezes e ele não atende.

Tudo bem que eles perderam um único fotógrafo, porém deve ter mais fotógrafos em uma revista deste tamanho, certo? Certo!

Jackie olhou para mim, através das paredes de vidro de seu escritório, e sorriu. Senti um frio na barriga com o sorriso que ela me deu.

— Não se preocupe mais Kate, já tenho alguém em mente. — Jackie deixou Kate sem entender nada e voltou para dentro do escritório. — Seja bem-vinda a Evoke, Lara.

Confusão percorreu o meu cérebro, até que eu percebi o que ela queria dizer.

Após ter assinado o contrato, e isso aconteceu há alguns minutos, me tornei uma fotógrafa dessa revista.

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