— Você está querendo me dizer que a sua chefe contratou você hoje e já colocou você pra trabalhar? — a voz dela atravessa a porta fechada do banheiro do meu quarto, e não é como se ela tivesse que fazer muito esforço para que eu à escutasse. — Como assim, Lara?
Coloco o último detalhe do meu "traje" de trabalho, o óculos, que foi um presente especial da Kara, e pronto.
Abro a porta do banheiro e vejo Kara esparramada em minha cama, como se ela fosse a dona do lugar. Mas eu nunca vou reclamar disso, porque Kara é minha familia de sangue, a única da parte paterna que me restou.
Kara está com o cabelo loiro solto, sem o óculos, com a camisa de botões toda aberta, mostrando seu traje azul por baixo, e com uma calça social de cor verde musgo – juro que não entendo qual é o estilo dela.
Sempre me perguntei onde Kara coloca a capa e as botas quando usa roupas normais – e eu acho que são segredos dos quais eu nunca vou saber.
De vez em quando, quando Kara resolve voar em um ônibus por essas bandas de cá, ela vem até aqui para ver como eu estou levando as coisas. Podemos não morar na mesma cidade, mas quando eu preciso dela, Kara sempre está ao meu lado.
Kara é uma das pessoas mais importante em minha vida, junto da minha mãe Lois, tia materna Lucy e avó paterna Martha.
Ela me ensinou tudo o que sei sobre os meus poderes e como eu poderia os controlar. Kara também me ensinou muita coisa sobre o lugar de onde ela e o meu pai vieram.
— Eu não estou reclamando, você é que tá toda estressada com isso, Kara — arrumo todo o equipamento que preciso para tirar as fotos. — E honestamente, não sei por que você tá assim.
E não é como se essa fosse minha primeira vez fazendo algo desse tipo, apesar de que estou nervosa e sentindo um turbilhão de sensações ao mesmo tempo. Mas isso eu consigo controlar bem.
Kara levanta da cama e vem até mim, ajeitando a gola da minha jaqueta e evitando olhar diretamente em meus olhos. Assim como eu, os olhos de Kara transmitem tudo o que se passa na linda cabeça dela.
Com esse pequeno gesto cuidadoso dela, posso dizer que há algo que está à incomodando. Mas conhecendo ela como eu conheço nem se eu me ajoelhar na frente dela e fizer o nosso famoso beicinho, Kara iria me dizer o que estava errado.
— Só estou preocupada com aquele bando de pessoas ao seu redor — com tanto tempo convivendo com ela, sei que o quê Kara disse não é verdade.
Quando Kara mente – ou quando ela fica concentrada, ou confusa –, se forma uma pequena ruga entre suas sobrancelhas, sem dizer que ela é péssima com mentiras – quem é que voa em um ônibus? Não sei como o mundo até hoje não sabe quem Kara Danvers é, porque até eu sei mentir melhor que ela.
Dou as costas para Kara, suspirando de frustração por ela pensar algo assim de mim.
Não preciso ser uma telepata para saber que Bruce, Kara, Lois e até mesmo Martha esperam pelo dia em que eu perda o controle e extermine toda a vida na face da Terra.
Me olho no espelho de corpo inteiro, para ver se eu não me esqueci de colocar uma calça – já tive sonhos onde eu estava sem calças e em público, e acredite, não é legal.
— Eu não vou machucar ninguém — falei, passando as mãos pela parte da frente da minha camisa, tão baixo que minhas palavras não passaram de um sopro de vento, se misturando com a brisa leve que entra pela janela aberta da sacada.
— Oh meu... — Kara escutou o que eu disse, é claro. — Não, eu não quis dizer isso Lara — me abraçou por trás, pousando o queixo em meu ombro e me olhando, desta vez nos olhos, pelo reflexo do espelho. — Eu estou preocupada com você cercada por pessoas que...
— Eu entendi. Não se preocupe Kara, eu vou ficar bem, eu prometo.

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S De Esperança
Fanfiction- Mesmo tendo toda a velocidade do mundo, você não vai conseguir salvar todos eles. - Mas eu posso tentar. (Esse livro só foi publicado no Wattpad por mim, Sweetiescape. Se está lendo ele em algum outro lugar, certamente não fui eu que publiquei.)