Capítulo 7: Plásticos cinzas // Pássaros azuis

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Como ontem foi primeiro de janeiro, tive que esperar hoje pra poder comprar as minhas coisas.

Coloco meu casaco preto e meus jeans cinzas usuais e desço de elevador. Caminho um pouco pela rua e a quietude me faz estranhar as coisas. Normalmente tudo é bem mais agitado por aqui.

Sigo andando pelas ruas da selva de pedra como qualquer um. Se não tivessem acabado, eu estaria fumando um cigarro.

Quando chego à esquina do supermercado, olho pra cima. Pro céu aberto, mas ao mesmo tempo tão fechado. E vejo um saco plástico sendo carregado pelo vento por entre os prédios. Acho que só sacos plásticos voam por aqui.

...

Quatro de janeiro e ela ainda não tinha voltado ao parque. Fui todo dia lá pra cuidar das flores dela. A Pan estava linda, como sempre.

No meio da tarde, quando eu estava quase voltando pra casa e saindo do parque um tanto frustrado, eu a vi.

Estava correndo com pressa em minha direção. Se jogou em mim em um abraço.

— Quanto tempo, Marcos! — ela disse, ainda abraçada em mim.

— M-mas foram só quatro dias! — desfiz o abraço, por estar corado com tanta afeição. — E eu cuidei das flores pra você. Depois do que você me disse dia trinta e um... eu estou determinado a te ajudar a cuidar das flores!

— Sério?! Obrigada! — ela me abraçou de novo.

— De onde vieram tantos abraços de repente?

— Ah, desculpa... — me soltou. — É que as coisas na casa dos meus tios são bem chatas. E você é legal.

— E-eu não quis te magoar, desculpa! Eu só estranhei porque você do nada começou a me abraçar mais.

— Não foi do nada. Somos melhores amigos, não? — ela sorriu. Com isso, mais uma brisa do verão bateu em nós.

Eu pensei "Mas já tão rápido?", só que não quis questionar. Acho que nós dois sentíamos que já nos conhecíamos há anos.

— Sim. — balancei a cabeça pra cima e pra baixo. — Somos sim.

Mais uma vez, um sorriso dela.

— M-mas, o quer conversar o resto da tarde? — perguntei. — Afinal, eu já cuidei das suas flores.

— Claro! Mas eu quero matar a saudade e vê-las, se você não se importar.

— Ah, claro que não.

Começamos a andar pelo caminho e ela estava estranhamente mais feliz do que o normal. Saltitando e assobiando no meio do caminho.

Quando chegamos ao canteiro...

— Uau! Elas estão lindas!

Eu pensei "Mas elas não mudaram nada nesses quatro dias. Será que ela tá bem?", mas não quis questionar.

— Bom... eu me esforcei. — falei todo orgulhoso.

— Foi um ótimo esfor— quando ela ia terminar a frase, do nada ouvimos barulhos de bater de asas entre as árvores.

Um pequeno pássaro azul junto de um outro verde, azul e preto e outros menores ainda azuis e pretos que pareciam ser filhotes voaram de rasante por entre nós.

Como foi de repente, eu abracei a Maria pra tentar protegê-la de sei lá o que fosse. Mas aí vimos que eram só passarinhos pequenos.

Depois do voo rasante, decidiram voar alto e nós os perdemos de vista, em meio ao céu azul que chegava a cegar.

Percebi que eu e Maria ainda estávamos abraçados, olhando pro céu e me separei dela.

— D-desculpa. É que eu não sabia o que era. Podia ser um pássaro grande e mau, né... — eu tentei me explicar com a mão direita na minha nuca, porque eu 'tava muito envergonhado.

— Tudo bem. — riu um pouco. — Não foi nada demais. E pelo visto era só uma família de passarinhos.

— Bom, eles nos assustaram pra caramba! Mas eram bonitos.

— Bastante! Eu vou pesquisar pra ver se acho o nome da espécie.

— Hum... por que fazer tanta questão?

— Ah, eu gosto de saber dos nomes das coisas que eu acho bonitas. — riu de novo.

Com isso, voltamos à parte principal do parque e conversamos o resto da tarde.

Quando cheguei em casa, combinei com ela e com o Dan pelo ICQ de eles virem de novo aqui em casa.

Eu tinha apenas uma certeza: que eu queria passar o máximo de tempo com a Maria e com Dan pra aproveitar o que restavam das férias.

A Flor Que Nos UniuOnde histórias criam vida. Descubra agora