Prólogo: A Flor

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Era dezembro. O natal já havia passado e a minha pacata cidadezinha estava mais quieta que o normal. Decidi ir a um parque que normalmente não ia. Era longe da minha casa, mas como estava sem nada para fazer, pensei "Por que não?" e simplesmente fui. Ao chegar no belo e quieto parque com algumas árvores, andei um pouco sem rumo, guiado apenas pelo som das cigarras. E foi assim, andando sozinho que eu a avistei.

Agachada, lá estava ela. Com uma regata feminina, fina e delicada —  assim como quem a usava — e uma saia tão graciosa quanto. As duas peças de roupa — brancas — me fizeram achar que eu estava vendo um anjo. De onde eu estava, de longe, ainda não podia ver seu rosto, pois o grande chapéu — da mesma cor — que usava, o cobria. Com certeza era para proteger-se do brutal Sol.

O que estava fazendo mostrava-se não ser adequado para a cor de suas roupas. Sem luvas, estava mexendo nas flores de uma parte especial do pequeno parque para cultivo das mesmas. Dava atenção a cada uma das flores. Fosse vermelha, rosa, laranja, azul ou amarela. Todas recebiam a devida atenção. Tendo suas ervas-daninhas removidas e sendo regadas.

Terminou sua tarefa, bateu suas mãos para tirar delas a terra, andou um pouco e foi até uma torneira que estava localizada na cerca da área de plantio de flores. A abriu, deixou a água jorrar em suas mãos, assim lavando-as e fechou.

Eu ainda não conseguia ver seu rosto, mas estava paralisado, fascinado. Ainda bem que não havia mais ninguém lá naquela ocasião, pois estranhariam o garoto parado no meio da passagem e olhando perplexo diretamente para uma garota.

Um leve vento bateu. Uma brisa típica do verão. Refrescante para todo aquele calor. E, enquanto batia o vento por suas peças de roupa, ela se virou em direção ao sopro fraco de ar, segurando seu chapéu. Sorte a minha, eu estava na direção do sopro de ar.

Com isso, pude ver seu rosto. Seus olhos castanhos claros pioraram minha já instaurada hipnose. E seus longos cabelo dourados como raios do Sol daquele dia — que eu já havia percebido, porém não ainda notado — só intensificavam sua aparência angelical.

Olhou para cima, para o expansivo céu azul. Quase infinito. Junto às nuvens, era de encher completamente os olhos e se perder. E de fato, seu olhar mostrava que havia perdido-se nele.

Depois de olhar para o céu, ela me percebeu, à distância. Percebeu o estranho garoto de cabelo desarrumado, camiseta vermelha, jeans azul e uns calçados pretos e com detalhes brancos quaisquer, em meio à passagem de concreto ao lado da grama, verde cintilante.

Demorou alguns segundos pra eu me dar conta de que ela estava olhando de volta. Quando eu percebi, me senti um pouco envergonhado de ela ter percebido, apesar de eu nem ter feito nenhum esforço pra disfarçar.

Olhei pro chão e pus-me a andar sem graça, com a mão na minha nuca, mostrando com esse gesto que claramente que eu estava envergonhado.

Não pude ver direito, por estar olhando para o chão, para o céu, para as árvores, para a grama, pra qualquer coisa que fosse disfarçar de um jeito bem mal disfarçado — tão mal disfarçado que só faltava eu começar a assobiar —, mas tenho certeza que ela saiu do pequeno cercado e caminhou na direção em que eu havia vindo, contraia à que eu estava indo.

Quando já estávamos distantes um do outro, soltei um alto:

— Droga! — resmungando. — Você é um completo idiota ou o quê?! Ela super viu que você estava encarando, seu retardado! — reclamei, esbravejando comigo mesmo. Cheio de gestos exagerados. Sorte a minha que não havia ninguém pra ver aquilo, eu acho.

Depois de ter completado o circuito da minha caminhada, cheguei de novo à porção central do parque, que é mais aberta, diferente das partes quase desertas e caminhos por entre a grama e algumas árvores.

A Flor Que Nos UniuOnde histórias criam vida. Descubra agora