Eu e Dan estávamos dentro da escola. Perto da porta e sob um Sol forte, com nossos uniformes brancos com detalhes lilases e extremamente abafados.
— Essas aulas já são um inferno no começo do ano. — reclamei, com cabeça baixa.
— Não vejo problema. Só detesto não poder usar meu boné. — Dan respondeu.
— Claro. Você é o senhor certinho.
— Tsc. Como tá a Maria?
— Acho que está igual você. Conseguindo acompanhar o ritmo. Não reclamou de nada nas nossas últimas conversas, né.
— Casalzinhoooo... — me provocou, olhando pra cima e deixando o Sol bater em seu rosto.
— P-para com isso! Achei que ia parar depois daquele "Com quem será?" no meu aniversário.
— É só brincadeira. Eu sei que vocês são só grandes amigos. Né?
— É...
— E o aniversário dela é em menos de um mês. Algum ideia pra presente?
— Tenho sim! Eu falei com meus pais e a gente vai dar um Nintendo 64 pra ela.
— Um... O QUÊ?
— Impressionante, não? Eles disseram que não tinha problema algum. — me gabei.
— Eu não esperava por isso. — começou a dar uma risada maléfica. — Eu vou dar um Playstation pra ela!
— QUÊ?! Qual é?! Não vale! Vai diminuir a importância do meu presente!
— A intenção era o meu presente ser o melhor, mas pelo visto deixaremos ela decidir.
— Desgraçado...
Ouvimos uma buzina vindo do lado de fora da escola. Era a buzina do carro dos pais do Dan.
— Opa, tô indo. — se levantou e pôs sua mochila nas costas. — Até amanhã, Marcos.
— Até.
Relaxei e respirei um pouco. Mas me perguntei por que o Dan não iria pra casa de bicicleta comigo. Esse rápido questionamento saiu da minha cabeça quando pedalei em direção ao parque, sentindo o vento no cabelo e no estranhamente confortável uniforme, junto da leveza típica de mochilas no começo do ano. Os barulhos metálicos da bicicleta me acalmavam, tanto quanto o barulho das folhas daquela distante e especial parte do parque que em poucos momentos já ouviria.
Fiquei sentado apoiado no tronco da já minha amiga árvore em frente ao canteiro, esperando de olhos fechados apenas o som daquela familiar voz.
— Marcos? — ouvi de longe a fina voz. Logo depois, passos se aproximando de mim com uma certa cautela. Ela estava vindo de fininho. Os passos da passarela de concreto viraram passos na grama e quando eu senti a presença dela perto de mim, não consegui conter o riso. Sorri e falei:
— Buu! — a assustei, ao menos um pouco. Apenas se moveu pra trás de maneira quase imperceptível.
— 'Tava na cara que você não 'tava dormindo, bobão.
— Qual é, eu sou um bom ator.
— Neeem um pouco.
— Exigente demais você. — fiz uma cara emburrada.
— Como foi a semana? Apesar de não ter acabado ainda.
— Uma droga. Segunda semana de aula já tem matéria mesmo. Gosto é da preguiça da primeira semana.
— Reclamando de barriga cheia! Semana que vem é carnaval.
— Tá parecendo minha mãe!
— "Mãe" ou "Mamãe"? Hehe. — deu um sorriso maléfico.
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A Flor Que Nos Uniu
RomanceNo final de dezembro de 1996, sob um Sol infernal e o canto das cigarras, dois jovens - Marcos e Maria - se encontram. Com esse fatídico encontro em uma calma tarde, grandes tremores viriam. Felizes céus azuis, tempestades de prantos, confusões...