Capítulo 15: Chuva

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Acordei cedo mais uma vez, infelizmente. Mas desta vez, foi culpa do meu despertador felino, que ficou miando até eu acordar.

Me sentei na cama, ainda meio adormecido, e abri as cortinas da janela ao lado da minha cama. Estava chovendo. Por isso que o Bowser veio me perturbar.

Olhei de volta pra ele, que estava sentado em frente à minna cama e miando.

— Tá bem, tá bem... se você faz tanta questão.

Me levantei da cama e fui pro meu computador. E o abusado gato se espreguiçou e dormiu nela.

Liguei o ICQ e vi minhas mensagens. Primeiro, as do Dan, que foram mandadas um tanto tarde.

"Ei, vc sabe se Final Fantasy VII tem algum macete?

Marcos?

Marcos???

Vc agora tá dormindo cedo só pra me irritar, né?"

Apesar de que seria uma boa ideia, era pura coincidência. Só respondi:

"Não q eu saiba. E to dormindo cedo porque vc e Maria tem tirado todas as minhas energias"

Isso me lembrou que eu tinha acordado cedo. Ou seja, daria pra eu encontrar com a Maria no parque. Mas não  tinha nenhuma mensagem dela. Estranhei um pouco, mas de qualquer jeito, me arrumei pra sair, desci as escadas, tomei café da manhã (com dificuldade, porque graças à chuva, Dráuzio e Baunilha decidiram dormir na mesa da copa) e quando eu ia abrir a porta de casa...

— Nem pensar, mocinho! — ouvi a voz da mamãe.

— Qual ééé? — me virei e a vi.

— Tá chovendo. Ou você bota sua capa de chuva ou não sai de casa.

— Mas ela é tão feia.

— Então fique em casa.

Bufei, subi as escadas e pus minha capa de chuva, tão amarela que quase brilhava. Desci de novo as escadas e quando eu ia abrir de novo a porta...

— Não está esquecendo de nada, mocinho? — era a mamãe de novo.

— O que foi? — me virei novamente.

— Seu guarda-chuva. — estendeu o braço, me dando.

— Mas se eu tô com capa de chuva, qual o propósito do guarda-chuva?!

Depois de ter dito isso, me lembrei que se tratava da mamãe. Ou seja, não tinha muita lógica envolvida. Peguei o guarda-chuva, saí pela porta de casa e o abri.

Fui caminhando até o parque em meio à chuva típica de verão. Nem muito fraca, nem muito forte. Com aquele incrível e lindo cheiro de chuva, que me acalma.

Cheguei ao parque e não havia ninguém. Caminhei até o canteiro e nenhum sinal da Maria. Decidi então me sentar sob a árvore que no dia anterior fizemos nosso piquenique.

Me sentei apoiado na árvore e esperei. Esperei, esperei e esperei. Até que eu adormeci.

Quando acordei, parecia que já estava entardecendo. Como não vi nenhum sinal da Maria, voltei pra casa e dormi.

No dia seguinte, também choveu. Fiz a mesma coisa. Nenhum sinal dela. Só que ao menos eu tinha levado meu walkmen e meu Gameboy.

E as coisas foram assim por mais três dias. Eu sempre sentado sob aquela árvore, com meus fones de ouvido e jogando alguma coisa.

De repente, uma manhã de Sol. Mas já estava desanimado. Nenhum sinal da Maria há três dias, nem sequer no ICQ. Essa era minha última tentativa. Não sei porquê, mas acordei com um peso extra no meu corpo. Uma estranha tristeza e exaustão. Mas eu sabia que desta vez eu a veria. Eu não queria perder minhas esperanças.

Coloquei uma roupa qualquer e saí de casa sem falar com ninguém. Peguei minha bicicleta e fui pedalando bem rápido, passando por entre poças.

Cheguei ao parque e talvez por animação até demais, acabei derrapando no chão molhado e caindo da bicicleta. Ninguém 'tava lá, então não liguei. Deixei-a caída e comecei a correr, mesmo um pouco machucado, até o canteiro. Quase escorreguei algumas vezes.

Cheguei ofegante. Estava com minhas mãos em meus joelhos ralados, olhando pro concreto ainda um pouco úmido. Tinha medo de olhar pra frente e ela não estar lá.

Mas, venci meu medo e olhei.

— Marcos, o que aconteceu contigo? — ela perguntou.

— O que... O QUE ACONTECEU CONTIGO? — eu berrei, com o pouco de fôlego que eu tinha. — Você sumiu! Não veio cuidar das suas flores e nem apareceu no ICQ!

— Desculpa... é que eu... — olhou pra baixo. — Foi a chuva. Eu me isolo quando chove. Eu tenho medo dela. Eu não gosto dela... ela é fria, cinza e sem vida. Parece que tudo de ruim volta quando chove. E... — sua voz começou a ficar trêmula. — Choveu no enterro tanto da mamãe quanto da vovó. Não tem nada de bom na chuva! Me desculpa por ter te preocupado! — colocou suas mãos em seus olhos e começou a chorar.

Corri e abracei, mesmo com dor de meus braços, pernas e até um pouco do meu rosto, ralados.

— Tá tudo bem, Maria. Já parou de chover. Eu tô aqui.

— Não... a chuva não pára. Eu mesma tô chovendo agora.

A abracei mais forte.

— Shh... vai ficar tudo bem.

— Marcos! — me abraçou de volta, com força.

Um tempo passou e ela melhorou. Conversamos um pouco sobre coisas bobas, mas ela insistiu que eu fosse pra casa, já que eu estava machucado.

Eu fui, com receio. Mas ela fez questão.

Ao chegar em casa, a mamãe ao mesmo tempo me deu um esporro e ficou preocupada. Fez uns curativos, me deu outro esporro, me deu uns remédios pra dor, mais um esporro, meu deu o almoço, outro esporro e subi as escadas pra dormir.

Me deitei, dolorido.

— Eu não sabia que a chuva significava tanto pra ela... mas eu espero que eu tenha ajudado.

A Flor Que Nos UniuOnde histórias criam vida. Descubra agora