Ela ficou me encarando em pé, de braços cruzados com uma cara de desconfiança e preocupação.
— Tem certeza que é bom mesmo chamá-lo? Seria melhor você ir pra casa.
— Se eu for, a mamãe me mata.
— Mas, o que ele pode fazer, Marcos?
— Bom, primeiro eu quero contar pra vocês uma novidade. E segundo, ele vai trazer comida.
— Como tem tanta certeza disso?
— Ele é o Dan, oras. Não vai me deixar nessa situação. — sorri e coloquei as mãos na minha nuca. — E ainda mais, ele adora esfregar na minha cara que sou irresponsável. Certeza que ele não vai querer perder essa chance.
— Certo... — bufou. — Então, tô indo. — começou a andar, mas eu gritei:
— PERA!
— O que foi? — se virou.
— Se você ligar pra casa dele, é provável que os pais dele ouçam e acabem falando isso pra mamãe e pro papai!
— Então o que você sugere, senhor desmaio? — cruzou novamente os braços.
— Ele tem um telefone no quarto dele, se lembra? E a linha é diferente da linha da casa dele. Então, não tem como os pais dele ouvirem.
— Bom, mas eu não tenho o telefone...
— Eu sei de cabeça! Você tá com o seu caderninho de anotações?
— Eu sempre tô com o meu caderninho.
— Então, pode me dar pra eu anotar?
— P-posso, mas...
Ela corou, pegou o caderno de anotações, rasgou uma folha e me deu a caneta rosa que ela usa para escrever nele.
Escrevi rapidamente o número no papel.
— Aqui. — entreguei na mão dela.
— Okay. — ela encarou o papel. — Mas... nossa.
— O que foi?
— Eu esperava que você tivesse uma letra feia. É estranhamente muito bonita.
— Ei!
— Bom, você é uma bagunça, né.
— Pior que eu sou... ah... err... você tem cartão pra usar no orelhão? Eu meio que esqueci o meu em casa, nessa correria. Desculpa...
— Tenho sim, não tem problema. Já volto. Fique aí. E NEM PENSE EM LEVANTAR.
— Certo, certo.
Vi ela se distanciando e sumindo por entre as árvores. O parque sempre deu uma sensação de calmaria, e essa não foi uma exceção. Olhei pro canteiro de flores e cada uma estava linda. Aos poucos, minha respiração foi ficando mais lenta, minhas pálpebras ficaram pesadas e resolvi descansar um pouco.
Mas, como sempre, ficar em paz dormindo ou sequer dando um cochilo é algo impossível pra mim. Cutuques e empurros me perturbaram.
— Marcos. Marcos! Você dorme com tanta facilidade assim?!
Acabei tomando um susto, caí de lado e acabei falando com medo:
— M-mamãe, por favor, só não tira meu computador!
Ao perceber a cena ridícula que eu acabei de passar, já era tarde demais. Ela já estava com uma de suas mãos cobrindo sua boca e dando risadas. Como caí de lado, aproveitei e me deitei no chão gramado.
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A Flor Que Nos Uniu
RomanceNo final de dezembro de 1996, sob um Sol infernal e o canto das cigarras, dois jovens - Marcos e Maria - se encontram. Com esse fatídico encontro em uma calma tarde, grandes tremores viriam. Felizes céus azuis, tempestades de prantos, confusões...