Capítulo 11: Eureka!

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Depois de uma noite de acordar de pesadelos e voltar a dormir, senti me cutucarem na cama. Nem abri meus olhos.

— Filho, preciso saber se eu jogo fora uma coisa.

— Hm? Joga nada fora não. — respondi logo pra voltar a dormir.

— Mas são tantos papéis. Vai precisar mesmo?

— VOU! — acordei num instante, abri os olhos e me sentei na cama. Vi que era a mamãe me cutucando. Ela até se assustou e chegou para trás. — SÃO MEUS DESENHOS, MAMÃE!

— Nossa, calma. Só queria arrumar seu quarto. Então posso colocar num outro cômodo? Eles já não estão cabendo mais nas gavetas da sua escrivaninha.

— Promete não jogar fora?

— Claro que eu não vou, filho. — suspirou. — Mas sabe... — olhou para alguns dos papéis acumulados na escrivaninha. — Seus desenhos são bonitos.

— Mamãe! — acabei corando. Me dá incomodo verem meus desenhos. — S-são só rascunhos!

— Bom, ainda sim, são bonitos. Você poderia investir mais seu tempo nisso. Ah, a propósito, por que você dormiu com as suas roupas de sair?

"Você poderia investir mais seu tempo nisso." Aquela frase foi como um "Eureka!" na minha cabeça, apesar de demorar pra ficha cair. Esfreguei minha mão direita no meu olho pra acordar. E a ficha caiu.

— É ISSO! — gritei e mamãe ficou com medo.

— O que foi, Marcos?

Me joguei da cama e a abracei.

— Obrigado, mamãe! — disse e desfiz rapidamente o abraço.

— O que foi, filho? E você ainda não conversou comigo e com o seu pai sobre o que anda acontecend—

— Eu vou contar depois. Mas eu já achei a solução! — me sentei na minha cama e comecei a pôr de volta meus tênis.

— Solução pra quê? — ficou confusa.

Assim que terminei de pôr o par de tênis, olhei pra ela feliz como nunca antes e falei:

— Pro céu infinito que eu quero alcançar!

— Filho... você andou tomando alguma coisa? — sua cara de confusa só piorou.

— Depois eu explico. São que horas?

— Hum... uma e meia, por aí.

— Ainda dá tempo! — pulei da cama e corri em direção à porta do quarto.

— Do que diabos você tá... MOCINHO, VOCÊ NÃO VAI SAIR COM ESSE BAFO HORROROSO!

— Mas...

— Não!

Corri pro meu banheiro, bochechei com antisséptico bocal e saí correndo do banheiro do meu quarto.

— Volto antes de anoitecer, mamãe! — gritei, descendo as escadas.

— Isso não é escovar os dentes! — ouvi a voz dela vindo do meu quarto. — E você nem comeu!

— Eu vou ficar bem! Pode me deixar de castigo quando eu voltar! Mas tem uma coisa que eu tenho que fazer! — já fui abrindo a porta de casa.

Ao abrir, vi a Rebeca no quintal de casa, deitada numa cadeira de praia, pegando sol. Toda se achando com seus óculos escuros e biquíni de cor rosa fortíssima.

A ignorei e procurei a minha bicicleta, mas não conseguia achar.

— Rebeca, sabe onde tá minha bicicleta? — tive que perguntar.

— Ah, o papai 'tava entediado e disse que ia mexer nas nossas bicicletas pra ver se estão direitas e seguras. Por quê?

— O quê?! Logo hoje?!

— O que tem demais hoje, pirralho? — disse, tirando seus óculos de Sol.

— Não é nada. — suspirei e abri o portão do quintal de casa. — Até de noite, monstro rosa!

— EI! Se você não sabe o que é estilo, a culpa não é minha! Pirralho com cabelo desarrumado!

Bati o portão e nem respondi. Comecei a correr com toda a minha velocidade.

Correndo pelas ruas de maneira completamente perigosa e despreocupada, eu sorria. Eu senti como se eu pudesse voar. Como se eu pudesse pegar uma das várias brisas passageiras e simplesmente seguir o vento. Voar, flutuar pelo céu e o alcançar.

Minutos depois, quando cheguei ao parque, já estava completamente ensopado. Minha camisa escarlate tinha virado vinho, devido ao suor.

Ofegante, descansei um pouco num banco na parte central do parque e depois segui correndo pro canteiro de flores.

Comecei a chegar e a vi de longe. Ela estava usando a mesma roupa do dia em que a conheci. Toda de branco, parecendo um anjo.

Fiquei em frente ao canteiro e exclamei:

— Maria!

Ela se assustou, perdeu o equilíbrio e quase caiu nas flores, mas conseguiu se equilibrar antes dessa possível tragédia acontecer. Olhou pra mim, assustada.

— Ah, Marcos! Desculpa por ontem. Você tá bem? É que eu—

— Eu! — fiz uma pausa, porque estava muito ofegante. — Eu já sei a minha resposta! — apontei pra ela.

— Huh? Resposta? Sobre o quê?

— Heh! — sorri e apontei pro céu. — Pra qual céu infinito eu quero agarrar! Já sei quais são meus sonhos!

A cara de confusão dela se tornou um enorme sorriso.

— Que bom que você—

Não consegui ouvir mais nada e mal ver. Pontos brancos começaram a aparecer na minha visão e um chiado começou a soar dentro da minha cabeça. Fui perdendo minha força e caí de costas. A última coisa que eu ouvi além do chiado na minha cabeça antes de perder a consciência foi ela gritando meu nome.

A Flor Que Nos UniuOnde histórias criam vida. Descubra agora