Prólogo

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A lua estava alta no céu. O vento frio da noite entrava pela janela, esvoaçando as cortinas florais. Um único som preenchia a sala. Era o plec-plec insistente das teclas da máquina de escrever. Mãos hábeis digitavam com uma velocidade incrível sob a parca luz das velas sobre a mesa. Sua pressa era explicada pelo medo das sombras que rodeavam sua casa. Ela podia não vê-los, mas sabia que estavam ali, à espreita, prestes a capturá-la. Ela tinha medo, mas acima de tudo, tinha determinação. Ouviu uma batida na porta. O plec-plec melodioso foi interrompido e ela virou-se para a porta da sala de estar.

Eles estavam ali. Iriam pegá-la. Ela sabia da verdade. Por instantes, o medo a paralisou. Mas quando um vulto passou pela janela, bloqueando momentaneamente a luz da lua, ela percebeu que tinha que agir. Correu e fechou a janela e a porta. Se eles iam captura-la por ela saber demais, pelo menos o livro iria ficar pronto. Suas informações não iam desaparecer com ela. Um dia alguém descobriria toda a história e faria justiça. Retirou a última folha e ia guarda-la com as outras. Mas então a porta se abriu bruscamente assim como a janela e a brisa noturna apagou a chama da vela. Eles tinham entrado. Na escuridão, ela ainda conseguiu se mover e esconder sob o chão as páginas recém-escritas.

Então levou uma pancada na cabeça e desmaiou.

[...]

Era uma vez...

Em um reino cheio de beleza e magia, assim como de ganância e egoísmo, já que nada é perfeito, havia um jovem príncipe que logo se tornaria rei. Porém ele tinha três terríveis defeitos: uma fúria explosiva, um coração frio e uma inveja corrosiva. Por causa disso, ele era temido e odiado por todos, o que era terrível se ele quisesse se tornar um bom rei...

— Wilbur, você já organizou os livros que chegaram? – disse uma voz cansada e apressada.

— Já comecei a fazer isso! – respondeu o jovem Wilbur, fechando seu livro.

— Você se distraiu de novo? – perguntou o velhinho, reaparecendo entre as estantes com um livro grande nas mãos. Wilbur deixou o livro que estava lendo sobre a mesa e correu até onde estava o velhinho.

— Não, eu só... Ahn... Estava pensando. Quando vou poder cuidar da minha primeira história? – perguntou ele, ansioso. O velhinho encarou o jovem com seus olhos severos e suas sobrancelhas brancas e macias.

— Tenha calma, meu jovem. A pressa é inimiga da perfeição, sabia? – o jovem suspirou, triste. – Você ainda é um aprendiz de escritor. Quando estiver pronto para algo tão desafiador, cuidará de uma história. Mas apenas quando estiver pronto. – o velhinho pegou seu cachecol e enrolou-o em seu pescoço.

— Quando estarei pronto? – perguntou o jovem Wilbur, seguindo o escritor.

— Em breve. – falou sorrindo o velhinho. O velho escritor pegou seu guarda-chuva e seu caderno.

— Já vai viajar novamente? – perguntou o jovem, meio preocupado.

— Mais uma história chegou esta manhã. Preciso cuidar disso. – falou o velhinho com seu ar enigmático e que ao mesmo tempo mostrava que ele estava com pressa.

— É a Lisa Cortez novamente? – perguntou o jovem, pegando outro livro de cima da mesa e colocando-o cuidadosamente na estante.

— É. Essa jovem não para. Já é a décima história só esse mês! Ela precisará de um descanso em breve. – falou o velhinho, rindo. – Voltarei logo. – então ele adquiriu um ar sério. - Você sabe as regras...

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