Capítulo 2 - O Livro

219 29 245
                                    

Havia apenas o escuro e o silêncio. Ela abriu os olhos lentamente. Seus olhos não reconheceram o lugar em que estava inicialmente. Mas então sua mente voltou a funcionar normalmente e ela percebeu que estava em um quarto de hospital. Havia um gosto amargo em sua boca e seus olhos estavam inchados de tanto dormir. Ela virou-se para o lado e viu Lynn dormindo numa cadeira. Zada sentou-se na cama com dificuldade, sentindo pontadas na cintura. Ela gemeu de dor e acabou acordando sua melhor amiga, que tinha sono leve.

— Hum... Ah, oi, Zada... – ela bocejou ainda atordoada pelo sono. – Você... Finalmente acordou. – disse a ruiva, coçando os olhos e entortando seus óculos.

— Por quanto tempo eu dormi? – perguntou Zada, apreensiva.

— Deixe-me ver... – Lynn pegou seu celular e ligou-o. – São duas da manhã, então você ficou apagada por dois dias, aproximadamente.

— Dois dias?! – exclamou Zada. Ela respirou fundo, meio nervosa. – O que exatamente aconteceu?

Houve um momento de silêncio, como se Lynn estivesse pensando o que deveria falar.

— Eu não estava lá na hora. Só cheguei quando você estava caída no chão, inconsciente, em frente à minha porta. – disse, como se estivesse se justificando – Mas disseram que do nada você tentou atacar um garoto...

— Fred... – murmurou Zada.

— Com uma cadeira. Aí um dos homens que estava na biblioteca, e que era policial, tentou te imobilizar, mas você corria muito rápido, derrubando mesas, livros e as pessoas que estavam lá. Aí começou um alvoroço e você caiu perto da porta onde eu tinha te deixado. Eu te vi, chamei uma ambulância e foi isso. – disse Lynn, contando rapidamente, como se, mesmo depois disso, a história ainda fosse meio inacreditável. – Eu não acreditaria em nada se não tivesse visto o estrago que você fez na biblioteca.

— Olha, Lynn...

— Sua mãe está morta de preocupação com você! Até vai mudar sua psiquiatra! – falou a ruiva, com um tom cada vez mais alto. – Eu quase fui demitida por ter levado você lá. – disse ela, com um tom subitamente de aborrecimento.

— Desculpe...

— Onde você estava com a cabeça, Z?! – gritou Lynn. Ela suspirou, liberando toda a sua raiva. – O que realmente aconteceu lá? – perguntou com um tom mais calmo. - Nós nos conhecemos há dois anos. Eu acompanho seu tratamento por tempo suficiente para saber que aquilo não foi por causa de bibliofobia. Me conta o que houve.

— Eu não sei se devo... – murmurou Zada.

— Por favor! Talvez eu possa ajudar. – insistiu Lynn, olhando nos olhos da amiga. Mas Zada desviou o olhar. – Entendi. – ela disse, ficando com uma expressão séria e magoada. – Você não quer me contar. Você não confia em mim.

— Lynn, não é isso. É que... – tentou dizer Zada, mas Lynn já tinha saído pela porta.

Zada ficou lá, sozinha. Ela viu sua bolsa sobre a cadeira. Esticou-se e pegou-a. Estava exatamente como se lembrava. Abriu-a e começou a procurar seu celular. Mas ela viu algo que não devia estar lá. Seu sangue gelou. Era um livro.

Num acesso de raiva e medo, Zada jogou o pequeno livro branco no chão com força.

Por instantes, nada aconteceu. Então o livro começou a tremer e se abriu. As suas páginas começaram a passar rapidamente como se um vento furioso estivesse ali. Repentinamente ele parou. Só havia o silêncio tenso da expectativa. Então uma mão saiu de dentro do livro seguida por outra. Zada estava paralisada de pânico. Ela via com pavor seus pesadelos se tornarem realidade diante de seus olhos com dois braços magros saindo de dentro do livro. Alguma coisa estava querendo sair de lá. Ela ouviu um gemido de dificuldade e frustração vindo do livro.

Apenas uma história...Onde histórias criam vida. Descubra agora