Capítulo 6

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— Ai, meu deus! - exclama Zada. - Mas... Isso não vai trazer nenhum efeito colateral, certo?

— Você não se lembra de nada do Manual número 13? - pergunta Ed.

— A Penny tem as memórias. Eu já disse que não sou ela. - diz Zada, com irritação.

— É pior do que eu pensava. - diz Tomica. - Ela está se rejeitando e, com isso, também as próprias memórias.

— Eu não queria descobrir que sou uma pessoa tão falsa quanto ela. - diz Zada, lhes dando as costas, emburrada.

— Eu ainda estou aqui, sabia? - diz P, ofendida.

— Ah, é mesmo. - diz Zada, percebendo que fora rude. De novo.

Ué, Josyscleiton, por que você acabou com as metáforas de futebol?

Eu... Estou com problemas pessoais.

Sei... Tem a ver com a Adriana Borges, que te criticou ontem?

Não...

Ok! Tem a ver sim!

Não fica assim, Josyscleiton. Você é um bom narrador. Com prática, pode ficar ainda melhor.

Eu não sei... Não acho que sirvo pra essa coisa de ser narrador de livros.

Mas você precisa do emprego, não é?

É. Minha família depende de mim.

Entendo... Se você se sente desconfortável, eu não vou te incomodar com isso.

.

..

...

— Vocês duas tem que ficar de acordo de novo ou vamos todos morrer aqui. - disse Tomica, irritada.

O peso em sua consciência por causa de Alex ainda estava lá, apesar de distante. Ela havia abandonado a espadachim de vermelho como certas pessoas falsas às vezes fazem e não podia culpar a tinta por seus erros. Às vezes a magia só revela o que há de podre dentro de alguém. Talvez no fundo Tomica sentisse que o que sentia por Alex era um peso, um obstáculo para seu sucesso. Ela não podia depender da outra em tudo. A vida é em dupla, você e seus problemas.

Com um suspiro, ela apertou os olhos, encarando Eric. Um dos líderes do Departamento de Resolução de Anomalias. Ele era como o Batman para Coringas como ela. Ele, assim como todos os outros, confundia a causa dos Anti-aperiums com a dos Libertadores. Por causa disso, sempre havia esses comentários maldosos e mal-informados como "Hum... Memória para Magicae? Onde já se viu isso? Você deve ser um libertário.". Libertário, caso você não saiba, era pejorativo e era a junção de "libertador" com "otário". Nenhum Magicae realmente se importava com o fato de não ter memórias, de esquecer situações ruins ou de ter sua História (no sentido da matéria mesmo) controlada e vigiada por um grupo da elite, os Escritores.

Numa sociedade baseada em livros e no poder sobre eles, ironicamente as pessoas se prendiam pouco às suas próprias histórias. Se você perguntasse a um Aperium passeando por aí "Há quanto tempo o Presidente está no poder?", ele simplesmente ia rir e sair, como se fosse impensável que houvesse outro. Em suas cabeças desmemoriadas, imaginavam que, se não estavam se lembrando do mandato anterior, era porque ele havia sido ruim. O que não deixava de ser, em parte, verdade.

Tomica fez uma careta. Por que de repente tivera todo essa explicação sobre a política dos Magicae da Sede sul-americana Prásino (porque existe uma Sede para cada território)? E agora que ela estava pensando nisso, por que conseguia ouvir uma voz na sua cabeça que contava o que ela estava fazendo?

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