Dulce María faria qualquer coisa por uma barra de chocolate. De preferência, uma bem grande, mas no momento, estava disposta a cometer até uma loucura por um simples pedacinho. Como conseguiria ficar acordada sem nutrição adequada?, perguntou-se, observando os faróis do carro lançarem uma luz de ar fantasmagórica sobre uma placa de rodovia.
Céus, ingerirá mais doces, refrigerantes, balas e salgadinhos ao longo dos dois dias anteriores do que já tivera permissão em toda sua vida. Seus dois irmãos mais velhos, e todos dois policiais, haviam controlado, ditado e governado cada aspecto da existência dela durante boa parte de seus vinte e cinco anos de idade, desde seu trabalho até sua vida amorosa por ser a caçula entre eles. Dulce raramente conseguia se manter num emprego por causa da interferência constante dos dois e quase nunca saíra com ninguém pelo mesmo motivo.
Agora, as coisas haviam mudado. Ela tinha seu diploma universitário e pós-graduação. Havia um emprego a sua espera como a bibliotecária de uma pequena cidade. Com mais de mil e seis centos quilômetros separando-a dos irmãos controladores, o som da rodovia tornou-se sua canção de liberdade.
" San Antônio, 10 quilômetros". Dulce jamais ficara tão contente em ver uma placa em sua vida. Por mais de uma hora aquela estrada de Monterrey estivera escura, desolada, vazia e bastante assustadora. Nem mesmo a musica suave do rádio ao fundo contribuira para lhe acalmar os nervos, enquanto percorria a rodovia no meio do nada.
Talvez não devesse ter lido aquele livro sobre um psicopata assassino no hotel onde havia ficado na noite anterior. Ansiosa pra chegar logo ao seu destino, que afinal não estava tão longe agora, ela pisou fundo no acelerador do seu BMW. Nem sequer percebeu que, em uma questão de segundos, ultrapassou o limite permitido de velocidade.
Quando passou pela placa onde se lia: " Bem - Vindo a San Antônio, Monterrey... Onde as Pessoas se Importam", ficou aliviada em saber que logo chegaria à casa dos tios. Fora, sem dúvida, uma viagem longa e exaustiva da capital pra cá.
Seu alívio dissipou-se com o som da sirene e as luzes piscando da viatura atrás dela. Esmurrando o volante, soltou um impropério bastante inadequado a bibliotecárias. Deu-se conta, então de que estava correndo demais e soube que, em sua ansiedade, acabou cometendo uma imprudência inaceitavél. Estava certo, e admitia aquilo. Mas era algo simplesmente inacreditável, estava a centenas de quilômetro de casa e já havia um policial interferindo em sua vida!
Ela entrou no acostamento e freou bruscamente. O imenso copo descártavel com o restante do refrigerante que comprou durante sua última parada em um posto distante, caiu derramando todo líquido no carpete do carro.
Dulce Maria soltou o cinto de segurança, apanhou um grande punhado de lenços descartáveis da caixa que havia deixado no banco detrás e inclinou-se para enxugar o carpete ensopado. O policial rodoviário bateu no vidro da janela.
Ela ficou com as mãos pegajosas, enquanto o refrigerante encharcava os lenços que iam se desintegrando, e bateu a cabeça no volante ao levantar.
O policial tornou a bater na janela, com mais força daquela vez. O tipo mandão teria que esperar, sem sequer lançar um olhar na direção dele, então ela apertou o botão do vidro elétrico.- Pode esperar um minuto?! - Perguntou sem conseguir ocultar a irritação. - A coca esparramou-se toda pelo carpete do carro e a culpa é sua.
- Coca? - Sem hesitar, o chefe de policia Alfonso Herrera meteu a mão pela janela e tirou as chaves da ignição, confiscando-as. Verificando o interior do carro com sua potente lanterna, não viu sinal algum de drogas. Tudo que pôde ver foi uma mulher que parecia totalmente despreoculpada com sua presença, o que era uma reação estranha para uma usuária de cocaína. Ela estava virada na direção oposta enquanto tentava recolher freneticamente algo do chão. De costas pra ele, pareceu-lhe bastante sexy no jeans justo que usava.
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Meu Irresistivél Vizinho
Romance👉Um emprego numa pacata cidadezinha do interior era tudo que Dulce Maria precisava para tornar-se independente e viver longe dos irmãos que , por serem mais velhos e oficiais de policia, jugavam-se o direito de controlar sua vida. Porém, quando o a...