Capítulo: 14

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     Após várias horas deitado de costas, Alfonso sentia-se desconfortável. Totalmente disconfortável. Dulce agia como se não houvesse nada de estranho no fato de ter um homem em sua cama. Presumia que, se a cabeça dele doia, o resto de seu corpo parava de funcionar?
       Embora agora ela tivesse ido até a cozinha para abrir e esquentar uma lata de canja de galinha, ele continuava cercado pela fragrância dela. Maçã Verde. O quarto todo tinha a fragrância única de Dulce.
        Ele tocou os delicados babados de renda na beirada do lençol. Nunca vira um lençol enfeitado com rendas antes. Aquilo o fez pensar em lingerie  e começou a se perguntar o tipo que ela usava. E a cor. Branca? Preta? Vermelha? Ele gostava de vermelho.
       Perguntou-se também se ela fazia idéia de como aquilo tudo o estava afetando. Esperava que estivesse tão frustada quanto ele. Mas não parecia estar.
       E os filmes que levara ao quarto pra assistirem juntos não tinham ajudado. Todos românticos. Não houve um único e bom filme de ação ou terror em meio aos demais.
        Sentando-se na cama, ele pegou um livro da pilha alta perto da cama. Talvez a leitura o ajudasse a desviar seus pensamentos dela. Mas quando abriu o livro Promessas Eternas de Amor, um romance de época, e começou a ler, o efeito logo se mostrou o contrário.
        Dulce entrou no quarto quando ele acabava de ler a passagem que descrevia o que o héroi e a heroina fizeram três vezes em seguida durante uma inesquecível noite de paixão.
  
- Desculpe-me por mim ter demorado tanto. Cerca de uma dúzia de pessoas já me ligaram pra saber por que o chefe de policia está aqui. Céus não existem mesmo segredos nessa cidade! Espero que sua sopa não tenha esfriado. - Ela colocou uma bandeja com um prato de sopa e torradas no colo dele. - Vejo que encontrou um livro pra mantê-lo ocupado.

- Apesar de romântico como seus filmes, até que é interessante.

- Não há nada errado em ser romântico. - Assegurou ela, pegando o livro. - Vou continuar lendo pra vc enquanto come, está bem?

      Ele deu um tapinha convidativo na cama a seu lado em resposta.
    Ela começou a ler e, só bem mais tarde, fez uma pausa para acender as doze ou mais de velas aromáticas de maçã verde no quarto, um ritual noturno que se recusava a deixa, embora Alfonso estivesse ali.
      Deitou-se, então na cama ao lado dele para deixá-lo ler sua parte em voz alta. Mal podia acreditar que já havia anoitecido e o domingo chegou ao fim. Os primeiros capitulos tinham passado tão depressa e foi tão divertido com ambos se reversando na leitura.

- Agora é sua vez.

- Está pronta? - Perguntou ele, posicionando o livro.

- Estou. Apenas a luz das velas é o bastante pra vc enxergar?

- Sim claro.

- Eu adoro luz de velas. É algo que dá a tudo um ar tão... Mágico.

- Vamos continuar.

       Aninhando-se mais junto a Ele, Dulce deitou a cabeça no ombro dele, adorando a aproximidade.

- "Minha adorada". - disse ele em sua melhor imitação do sotaque de um lorde inglês. - " agora que é definitivamente minha, permita-me livrá-la de todas essas peças de roupa incômodas e eu lhe mostrarei mais uma vez todos os prazeres que uma mulher deve conhecer. Eu a tenho desejando tanto desde aquela..."

       A intima leitura foi interrompida pelo que pareceu dois soldados corpulentos invadindo o quarto.

- Parado ai mesmo, miserável! - Esbravejou o primeiro intruso, um cara alto com ar de poucos amigos.

     Enquanto outro entrava em seguida gritando sua exigência.

- Afaste-se da nossa irmã, seu pervertido!

Meu Irresistivél VizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora