Capítulo: 10

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       Dulce acordou repentinamente no meio da noite e olhou ao redor do quarto escuro, desorientada. Como havia ido parar ali? A última coisa que se lembrava era de Alfonso massageando seus pés. A lembrança a fez espriguiçar-se. O contato daquelas mãos em sua pele foi maravilhoso. Não era dificil imaginar que ele seria igualmente habilidoso tocando outras partes ainda mais sensivéis de seu corpo.

      O pensamento errante a levou outra vez a pergunta de como havia chego até ali. Quem a cobriu com o edredom? Ela tapou o rosto com as mãos, perguntando-se exatamente o que havia feito enquanto ele estava a seu lado. Os dois tinham...?
      Estava deixando se levar demais pela imaginação quanto ao que aconteceu ou não, lembrou a si mesma, obrigando-se a avaliar a situação com a devida racionalidade. Os fatos.
      Acendendo o abajur na mesinha da cabeceira, viu que a cama ainda estava feita debaixo do edredom. Era bom sinal. Apenas um travesseiro parecia ter sido usado. A fastando a coberta, viu que ainda estava completamente vestida com a calça e o suéter que havia saido a noite de dia das Bruxas. Até a calda improvisada com as meias pretas ainda continuava no lugar, e que apenas seus pés estavam descalços. Ela relaxou, estava sendo tola. Alfonso a deixou em paz. Sua virtude continuava intacta.

       Seu alívio foi breve. Então, ele não a achava atraente. Na verdade, a achava tão sem graça que não tentou nada... Nada em absoluto.
      O que estava acontecendo ali? Desde que tinha idade o bastante, os irmãos a tinham avisado de que os homens só teriam uma coisa em mente, caso ficassem a sós com ela. Havia algo errado com ela? Talvez os irmãos tivessem apenas sido gentis quando a haviam alertado de que os homens tentariam agarra-la. Ou talvez nunca conseguisse despertar o interesse de ninguém. Jamais, talvez estivesae fadada a se tornar a sucessora de Elizabethy Gonsalez não apenas na biblioteca, mas também em termos pessoais. Acabaria se tornando uma solteirona seca, recalcada, e amarga que afugentaria as pessoas de um prédio público com seu mau humor e intransigência.

        Dulce passou alguns momentos consumindo-se em autocomiseração antes de decidir o que fazer. Onde estava o poblema se eram quatro da madrugada? Ela confrontaria Alfonso, e diria exatamente o que estava pensando.
         Colocando suas pantufas de coelho, marchou até a casa ao lado e tocou a campainha.

Não houve resposta.

     Praguejando por entre os dentes, ela tornou a tocar a campainha longamente e bateu na porta também, por via das dúvidas.

- Espere um momento sim? Já estou indo! - Exclamou Alfonso com voz sonolenta e exasperada ao mesmo tempo.

           No interior da casa, ouviu-se um baque surdo, seguido de uma serie de praguejamento abafados. A porta abriu-se, e a luz da varanda foi acesa, ofuscando os olhos de Dulce com sua súbita intensidade.
        Tão logo se recobrou, ela o fuzilou com o olhar, os punhos cerrados ao lado do corpo. O que mais gostaria era de deixá-lo com um olho roxo, mas não pararia se começasse, pensou, furiosa. E nem era do tipo agressivo, violento. Aquele homem tinha mesmo a capacidade de tirá-la dos eixos.
       Alfonso esfregou o rosto e correu as mãos pelos cabelos pretos. Lançou um olhar intrigado a ela, confuso não apenas como sua presença ali aquela hora, mas ainda mais com a expressão hostil.

- O que está fazendo? Por que esta aqui a esta hora da madrugada? Há alguma coisa errada?

      Foi dificil pensar naquele momento quando ela se viu diante do peito despido e mascúlo dele, do calor que emanava de seu corpo viril. Dulce fechou os olhos com força e usou de um tom glacial para responder:

- Eu não sei. Diga-me vc. O que há de errado comigo?

Ainda intrigado, Alfonso puxou-a para dentro da casa e fechou a porta.

Meu Irresistivél VizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora