Capítulo: 4

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    Pelo que Dulce podia dizer, Elizabethy Gonsalez que acabará de se aposentar, dirigirá a biblioteca de San Antônio com pulso de ferro. Ela tornara o lugar uma espécie de quartel militar, onde o que mais importava, acima de tudo, era se as pessoas  cumpriam o prazo de devolução dos livros. Com falta de formação acadêmica, ela criou seu próprio sistema de organização e não restava dúvida de que adorava livros, mas o seu era um modelo antiquado, conservador demais, a biblioteca parecendo ter parado no tempo, umas três ou quatro décadas antes.

      Elizabethy lançou-lhe um olhar desconfiado.

- Ouvi dizer que vc já conheceu Alfonso Herrera.

- Falei com ele uma vez ou duas e apenas por alguns minutos. - Dulce sentiu-se ridicula explicando suas atitudes, mas rumores tinham tendência de viajar mais depressa do que a velocidade da luz naquela cidadezinha.

    Esperava que Elizabethy não tivesse lido a coluna de mexericos do Santenela daquela manhã.

Ora, nossa nova bibliotecária foi vista deixando a casa de nosso
Estimado chefe de policia tarde da noite usando apenas um robe? Vamos esperar que ela tenha ido buscar apenas uma xicara de açucar emprestada, não tem problemas...

"Assuntos da Cidade."

       Dulce María mal pudera crer quando encontrou o jornal na sua varanda pela manhã. Aqueles mexeriqueiros não tinham mais o que fazer? E como tinham sido tendenciosos e maldosos. Ninguém se lembrará de mencionar o apuro que ela passou com toda aquela água inundando sua casa, quando já estivera exausta e só ansiando por um banho relaxante e um merecido descanso.

    Bem, na verdade, não sabia o que era pior, o que fora publicado ou o fato de que ela nem sequer pensará em fechar um simples registro de água para evitar a confusão toda.

  Elizabethy observou-a longamente por sobre os óculos de leitura persistindo no assunto:

- Vc fará bem se não mantiver quase contato com Alfonso Herrera, mesmo em se tratando do chefe de policia. Nunca confiei naquele homem de qualquer modo. Jamais devolve seus livros no prazo.

     Ela tirou os óculos para dar a Dulce o impacto de seu olhar reprovador.

- Ensinaram a vc naquela sofisticada escola de bibliotecárias que cursou que não se pode confiar em pessoas que tem o hábito de não cumprir prazos, não é mesmo? - Sem querer uma resposta, prosseguiu. - Só não entendo por que a cidade o tornou o chefe de policia. Como afinal ele pode manter a lei e a ordem se não consegue seguir uma simples norma de biblioteca?

    Dulce perguntou-se o que Elizabethy faria se soubesse que o hábito de devolver livros com atrasos da nova bibliotecária era provavelmente ainda pior do que o de Alfonso.

   Ela tratou de afastar os pensamentos em torno dele e concentrou-se nas palavras de Elizabethy, enquanto ia lhe mostrando cada setor da biblioteca e explicando-lhe sobre o sistema adotado ali. Para sua consternação, comprovou que o lugar parara mesmo no tempo. Não havia materiais, nem recursos audiovisuais. Nada de CDs, fitas cassete ou video e nem mesmo sequer discos de vinil. DVDs então, deviam ser considerados objetos de outro mundo. E o pior de tudo era que não havia um simples computador, nem mesmo para o trabalho do dia -a- dia. Na verdade, exceto pelas luminárias fluorescentes, não havia quase mais nada eletrico em todo prédio. Dulce sentiu seu desapontamento aumentando cada vez mais ao longo da visita, que começara tão logo a biblioteca fechada para o dia.

Meu Irresistivél VizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora