Quando o Sol Nascer (Completo em Revisão)

Capítulo 4 - O espião

THEO

      Não foi difícil achar o local onde Bela vive com a ajuda do Google Maps, então 15 minutos depois de sair do escritório, eu achei. De início fiquei em dúvida, considerando que a casa - se é que posso chamar assim - fica num terreno num bairro novo recém planejado e ainda inabitado. São vários terremos numa área 100% plana, alguns murados, outros com cercas para delimitação e vários simplesmente intactos. Mas quase todos são cobertos por grama alta, árvores e pequenos poços artesianos. 

      Santa Vitória é uma cidade onde a água mina onde quer que você cave, sem falar das nascentes que ficam mais acima. Eu mesmo sou sócio da maior empresa de água mineral do estado. Posso admitir que essa região foi abençoada de várias formas diferentes.

      Por ser uma cidade com praias e cachoeira, é muito procurada por turistas e praticantes de esportes diversos, como surf, hiking, ciclismo, escalada, kitesurf, entre outros. Me lembro da breve conversa que tive com Bela e ela me disse que o que mais amava fazer, quando não estava estudando, era hiking; e passar horas nadando nas praias mais calmas. Isso explicava seu bronzeado incrível.

      A "casa" fica num dos terremos com cerca baixa, mas com muitas árvores, o que tornou fácil de observar de dentro do carro a uma certa distância sem ser identificado. Vejo que a chuva parou e o sol surge tímido iluminando entre as árvores, as telhas de amianto que cobrem a construção e a grama alta. Alguns minutos depois sai de dentro da casa um cachorrinho maltrapilho, tão peludo que é impossível definir a raça, rolando na grama claramente feliz com a mudança do tempo. Ele foi seguido por uma jovem de gorro vermelho, cabelo loiro escuro e e roupas largas protegendo um corpo muito magro e desnutrindo, pelo que pude perceber de manhã quando a ajudei a se livrar do vereador.

      Bela brinca com o cãozinho na grama sem se importar com a sujeira, joga gravetos e caminha ao redor do terreno e entre as árvores. Fico com medo dela ver meu carro, mas está tão absorta em seus próprios pensamentos, com aquele pobre animal correndo entre suas pernas, que não percebe outro veículo se aproximando do outro lado da estrada, na direção oposta da minha. Travo a respiração porque reconheço o carro da prefeita.

(...)

      A mulher desce do carro rapidamente, seguida pela filha que usa um vestido lilás curto. O motorista também desce e aguarda ao lado do carro displicentemente. Bela nota que tem visita e faz sinal para o animal correr, mas esse só se prosta nos pés de sua companheira e aguarda. Bom cachorro.

      As duas mulheres se aproximam da jovem claramente assustada e sem esperar Beatriz a lança ao chão com um tapa no rosto tão forte quanto inesperado. Antes que me dê conta do que estou fazendo, ligo o carro e acelero para o terreno onde Bela está.