Capítulo 17 - Um acordo entre Damas

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TIFANY

      Uma coisa ruim sobre empregados: eles discutem sobre a vida particular de seus patrões. A coisa boa: escutei tudo que precisava sobre Bela na casa de Theo. 

      Notícias correm muito rápido por aqui e ontem, enquanto duas faxineiras limpavam meu quarto, escutei atrás da porta que a garota magrela (e admito, bonitinha) é filha da prefeita de Santa Vitória, e por algum motivo após a morte do pai, foi mantida presa em um tipo de cativeiro pela própria mãe e irmã enquanto morria de fome dia após dia. 

      Eu sabia que havia algo errado em Bela e quando ouvi a história, fiquei perplexa e um pouco satisfeita em saber que, talvez, possa ter uma aliada para ganhar Theo de volta. Se nem a família quer aquela vira latas, será muito fácil fazê-la voltar para o buraco de onde nunca deveria ter saído.

      Pego minhas malas, entro no meu carro e sigo em direção da casa da prefeita; algo fácil de achar, pois bastou uma pergunta aos frentistas no posto de gasolina com meu decote generoso à mostra.

(...)

      A casa não tão imponente como a dos Reynolds, mas bastante admirável ficava a aproximadamente 5 minutos da casa de Theo e na mesma orla, apenas em lados opostos. Com uma faixada branca e creme, parecia pertencer a uma família muito poderosa e eu esperava que a prefeita Amanda fosse o tipo de pessoa que eu precisava: ambiciosa e sem escrúpulos. Eu estava certa.

      Após alguns minutos esperando no portão, após falar pelo interfone, o mesmo foi aberto automaticamente e estacionei ao lado de duas SUV's e um sedam. Fui recebida por uma governanta mal humorada que me levou até uma sala de visitas com vista para o jardim esplêndido dos fundos, coberto de rosas e orquídeas. Como Amanda e a filha sentaram-se de costas para o jardim, imaginei que não fossem apreciadoras. E eram mulheres relativamente comuns, baixinhas e rechonchudas, com cabelos muito negros, mas opacos e sem a mesma beleza natural que tocou o membro mais jovem da família. Bela devia ter puxado o pai.

      Deixei de lado as avaliações e apressadamente relatei tudo que ouvi na casa de Theo, a respeito dele estar se preparando para garantir os direitos da menina custe o que custar. Também disse que as ajudaria sob certas condições. Queria dinheiro para me manter por alguns meses já que meu pai estava controlando meus gastos cada vez mais, além da garantia de ter Theo de volta. Então fizemos um acordo: Bela teria que desaparecer.

      Apesar de tudo eu precisava saber o motivo de Amanda não querer a própria filha, por que estava tão determinada a obter tudo que pertencia à garota, assim como a disposição para cometer um ato contra a lei. 

Elas se entreolharam e foi Beatriz que respondeu: - Ela nasceu, foi o suficiente.

Neste momento Amanda se levanta e anda pela sala. - Isso é tudo que você precisa saber no momento. E Tifany, se você nos trair, saiba que tenho muitos contatos dentro e fora do Estado e não hesitarei em te... prejudicar.

      Engulo em seco; sei que está falando a verdade porque se fez o que fez com a própria filha, posso imaginar o que faria com os outros.

- Não pretendo trair nenhuma das duas, quero o que disse: dinheiro e casar com Theo. Ele é a única chance que tenho de sair da vida modesta que meu pai nos enfiou e eu acho que por algum motivo ele interessado na menina.

- Interessado? - Beatriz franze o cenho e posso ver o desgosto, a raiva e o despeito. - Viu, mamãe? É isso que ela faz. Aquela garota está sempre  no nosso caminho. Eu devia ter cuidado dela antes de chegarmos a esse ponto e a culpa é sua!

- Beatriz, cala a boca. Eu vou cuidar de tudo. - Amanda massageia a têmpora como se sentisse dor de cabeça. - Eu vou resolver, só preciso de um plano. - Então olha pra mim.

- Você fica aqui como minha convidada até pensarmos em alguma coisa. Voltar ao Rio agora pode criar gastos desnecessários pra mim. Pode ficar no quarto de Bela, têm muitas roupas que podem servir em você.

- Trouxe minhas próprias roupas, obrigada. - De jeito nenhum usaria as roupas da puritana. - Por que não jogaram as coisas dela fora?

- Seria suspeito. - Beatriz responde já recomposta. - Várias pessoas acreditam que Bela está viajando, apesar dos rumores de a terem visto perambulando pelas ruas. Ou morta. Lógico que ninguém teria coragem de nos confrontar para saber a verdade. Foi fácil demais até a hora que seu namorado se meteu nos nossos assuntos.

(...)

      Fico impressionada com o tamanho do quarto da vira latas, assim como a decoração em tons pastéis e com o quanto tinha bom gosto para roupas. Provo várias peças, apesar de achar algumas realmente caretas, mas reconheço várias marcas famosas. Theo me veria diferente se usasse roupas assim? Com o controle atual dos meus gastos não posso mais comprar com a frequência que preciso para impressionar os homens que tenho como alvo. Vejo numa escrivaninha moderna um notebook de última geração e na mesinha de cabeceira um celular. Quero quebrar tudo, mas sei que teria problemas com Amanda.

      Deito na cama queen size adorando a sensação do colchão aderindo ao meu corpo e decido que, assim como sua mãe e irmã, quero tudo que pertence a Bela e a odeio por roubar o único homem que pode me dar a vida de riqueza que mereço.



Quando o Sol Nascer (Completo em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora