Capítulo 34 - O inimigo à espreita

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THEO


      Bastou atravessar a rua da minha casa para chegar ao posto 7: o mais badalado e exclusivo da praia. Ver Bela usando um pequeno biquíni amarelo é enlouquecedor, tanto para meus nervos, quanto para a minha possessividade dominadora. Não passa despercebido que vários homens estão olhando-a como se quisessem devorá-la, mas como eu fico ao lado dela, ninguém atreve a se aproximar muito. Vejo que vários dos meus amigos a conhecem; era de esperar, considerando que é nascida e criada em Santa Vitória, além de ser filha dos dois últimos prefeitos. Quase uma celebridade local.

      Colocamos duas barracas de praia enormes e as quatro cadeiras reclináveis embaixo. Andrew e Íris sentaram-se lado a lado, mas Bela estava louca pra entrar no mar e fomos juntos de mãos dadas. Hoje a convenci a dispensar Marcus porque não aguento mais aquele cara colado nas costas dela, mas só de olhar para o calçadão, noto o carro preto característico da empresa de segurança estacionado. Os meus guarda costas estão de folga; depois de algumas semanas comecei a relaxar, pois se conheço um pouco Amanda, ela jamais nos atacaria com o processo correndo tão rápido e a audiência na próxima semana.

      Entramos na água gelada da primavera e o clima está tão quente que nem ligamos e passamos bons minutos nadando. Apenas quando vejo Bela muito vermelha nos ombros é que saímos para passar filtro solar. Andando de volta para a barraca, vejo algo que congela meu sangue: Beatriz está conversando animadamente com o nosso grupo de amigos e pelo olhar que ela me deu, sabe exatamente o que faz. Bela não repara imediatamente, mas quando a vê, sua mão aperta a minha e ela treme.

      Olho para Bela e não sei quem parou de andar primeiro.

- Relaxa amor, vamos pegar nossas coisas e sair. Você não precisa falar com ela. - De longe vejo Andrew e Íris cochichando no ouvido um do outro.

- Não, Theo. Vamos ficar. Estamos em frente da sua casa e ela não pode fazer nada.

      Um babaca filho de um magnata do petróleo do qual não recordo o nome está abraçado com ela pela cintura. Belo par.

- Tudo bem, mas a hora que quiser, nós saímos.

- Ok. Tudo bem - Bela me dá um sorriso apreensivo e continuamos nosso caminho até o grupo.

      Assim que chegamos na barraca, meu irmão se aproxima com Íris atrás. Faço sinal de tudo bem e tentamos relaxar, conversando banalidades. Beatriz finalmente se aproxima com o babaca no encalço.

- Olha só quem veio: minha irmãzinha. - Sem ninguém esperar, ela se aproxima de Bela e a abraça com força. Tento me aproximar, mas o babaca pega minha mão se apresentando como Romeu Anchieta Albuquerque não-sei-das-contas, agindo como um amigo íntimo e falando o quanto admira meu trabalho, que o pai dele sempre fala do meu pai, que ele quer fazer uma festa, mas não estou prestando atenção. Beatriz fica tanto tempo abraçada com Bela, que quando ela finalmente se afasta arrastando o tal Romeu, a minha namorada está pálida. Íris e eu nos aproximamos ao mesmo tempo, mas ela não diz nada, apenas olha pra longe como se estivesse refletindo algo.

- Bela, responde. O que ela disse? - Íris pergunta.

- O que? Desculpe, não prestei atenção.

- O que ela te disse amiga. Quero que me conte. E eu sei que ela falou alguma coisa, mas não consegui ouvir.

- Não... nada. Ela não disse nada demais. Só as besteiras de sempre.

- Sério que ela não te disse nada?! - Pergunto atônito. - Você está transformada! Pálida e com os olhos assustados. - Ela te ameaçou?  - Beatriz encara a irmã com superioridade uma última vez, antes de pegar a bolsa e sair.

- Ela não fez nada. Esqueçam isso por favor... - Bela esconde algo, mas não insisto. Perguntarei quando estivermos sozinhos.

(...)

      Meia hora passa e Bela não se mexe na cadeira de praia embaixo da barraca. Ela não fala, não sorri ou presta atenção na conversa. Me arrependo de ter dispensado Marcus, ele poderia ter intimidado a irmã louca, evitando sua aproximação. Se bem que Beatriz não é do tipo que se assusta fácil, principalmente quando quer alguma coisa.

      Quando chega o horário do almoço marcado na minha casa, Bela me diz que surgiu um imprevisto e que precisa voltar pra casa. Algo sobre o jornal e uma matéria de emergência. Tento convencê-la a ficar para o almoço e que depois posso acompanhá-la, mas ela nega de todas as maneiras ligando para Marcus buscá-la. Seu comportamento estranho tem a ver com a irmã, sem dúvidas. Insisto em ir com ela, mas sou impedido com mais desculpas. Decido que, mesmo assim, vou atrás dela logo após o almoço.

      Bela entra no carro escuro sem sequer me dar um beijo de despedida.


Quando o Sol Nascer (Completo em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora