Capítulo 63 - Então é natal...

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BELA

      24 de dezembro chegou e o calor está mais forte do que nunca. A imagem de natais frios, todos recolhidos na sala com uma imensa árvore de natal, tomando chocolate quente enquanto assistem a neve cair... é irônica. No Brasil costuma fazer muito calor e raramente chove. Hoje mesmo o céu está estrelado e de uma beleza ímpar. A lua iluminando o mar dá um toque romântico.

      E a mesa está tão cheia de comida! Seria possível alimentar um batalhão. Frango, peru, chester, tender, saladas, sobremesas perfeitas. Odeio desperdícios, mas Andy brincou comigo que no dia seguinte eles costumam comer aquilo tudo de novo e o dia inteiro. Acho graça, afinal não estou acostumada.  

      Pelo menos a árvore Theo faz questão de manter. Sempre sonhei com uma família grande, árvores de natal e todos trocando presentes à meia noite após uma ceia maravilhosa. Papai sempre me dava um presente em segredo pois minha mãe odiava natal, apesar de sempre exigir um (ou vários) presente caro. Ela e minha irmã sempre viajavam na época, normalmente para a Europa. Regina sempre fazia - também em segredo - uma ceia mais simples para meu pai e eu celebrarmos e esse momento se tornou um dos mais especiais para mim. Principalmente porque não precisava aturar as grosserias ou agressividades delas. 

      Meu último natal passei com Dido no nosso quartinho escuro. O céu estava tão lindo como essa noite e não fosse a fome que eu sentia, não teria sido de todo mal. Quando penso em tudo que Dido sofreu comigo meu coração se aperta e alegra ao mesmo tempo. Sei que Deus colocou aquele pequeno animal indefeso comigo para que eu não me sentisse tão triste ou sozinha. Em agradecimento enchi meu vira latas de abraço e presentes hoje. Cacá e Sebastião também ganharam e estavam até agora a pouco radiantes brincando no quintal dos fundos.

      Comprei presentes para uma lista extensa esse ano. A casa de Theo está cheia de pessoas queridas incluindo Jane, Charlote, Maria e Regina. Essas mulheres fazem parte da minha vida e Theo me disse que assim que casarmos, Maria e Regina serão bem-vindas aqui também.

      Hoje eu não me vejo mais vivendo em minha antiga casa e até penso em vendê-la. Tenho boas memórias ao lado do meu pai, mas o restante é dor, tristeza ou mentiras. Aquela foi minha casa, mas nunca foi meu lar. Nem quando ganhei a casa em herança, me sentir realmente bem. É como se o tempo todo alguém estivesse me vigiando... sei que é impressão minha afinal meus seguranças vasculharam a casa inteira, mas sinto algo ruim; minha terapeuta afirma que é por causa de tudo que vivi lá e eu acredito nela. Talvez outra família possa ser muito feliz vivendo naquela casa um dia.

- Amor... Bela? - Vejo Theo me chamando ao meu lado e percebo que estive tão envolta nos meus pensamentos que esqueci de todos na sala.

- Oi amor. Desculpe, estava viajando aqui. - Dou um sorriso amarelo. Odeio ficar ressentida ou nostálgica.

- Não se preocupe. Já é quase meia noite, vamos nos reunir na árvore?- Vejo no relógio e me surpreendo com a velocidade do tempo. Quando estamos nos divertindo é assim mesmo e eu só queri eternizar essas memórias. Claro que tirei inúmeras fotos de todos. Meu álbum está cada vez mais cheio de momentos únicos.

- Claro, vamos. - Vejo Íris atacada com uma torta de framboesa. - Vamos gata, finalmente passamos um natal juntas, estou doida pra te agarrar meia noite.

      Todos caem na gargalhada quando Íris revira os olhos e corre para me abraçar e beijar com a boca toda suja de torta.

- Minha irmãzinha linda! Finalmente, né? Depois de tantos anos implorando à vaca da sua mãe.

- Íris! Olha os modos menina. - Márcia mãe de Íris chama a atenção da filha, mas rio assim mesmo.

- Tudo bem tia, já estou acostumada com a sinceridade da minha amiga. Até gosto!

Quando o Sol Nascer (Completo em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora