P R O L O G U E

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As memórias não são apenas sobre o passado,
elas determinam o nosso futuro.

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Quando eu tinha uns sete ou oito anos, costumava me sentar ao lado da minha avó, frente a um grande piano de cauda e observá-la performar clássicos como Beethoven ou Bach enquanto eu bebia um generoso copo de leite quente com mel.

Na época eu perdia o sono fácil, mas vovó nunca se importou. No fundo, acho que ela não dormia cedo pois sabia que, quando meu medo das sombras no quarto sobrepujasse o sono eminente, eu a chamaria.

Infelizmente, quando ela faleceu, meu pai vendeu o velho sítio em Daegu e eu guardei todas minhas lembranças desse tempo dentro de um baú e tratei de escondê-lo no cantinho mais recluso da minha mente. Entretanto, existe um fragmento de memória tão ardiloso, que sempre consegue escapar.

Lembro-me bem que vovó não gostava de madrugadas e quando eu questionava o porquê do repúdio, ela dizia, sem abrir os olhos ou parar a melodia:

"Demônios se libertam e caminham entre nós durante as madrugadas... além disto, más notícias sempre chegam por essas horas."

Então eu franzia o cenho como se assimilasse a ideia, encarava seus dedos esguios passearem pelas teclas e balançava a cabeça positivamente como se tivesse entendido.

Mas não tinha.

Eu sempre gostei de madrugadas, só nunca soube se pelo leite quente e Bach, ou se pelo silêncio e calmaria.

A verdade é que eu somente entenderia o real significado daquelas palavras muitos anos depois, em uma das madrugadas das quais eu tanto apreciava.

O Silêncio dos InocentesOnde histórias criam vida. Descubra agora