U N Q U I E T

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(...) Devo morrer desta deplorável loucura.

Assim e não de outra maneira.

É como devo morrer.

Aterrando-me os acontecimentos futuros,

não por si próprios, mas por seus resultados.

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Existe uma pequena rachadura no canto esquerdo do teto, eu sei porque meus olhos passaram por ali tantas vezes que eu até mesmo guardei o formato da bizarra fissura. Um sentimento atroz estava me consumindo aos poucos. A superfície branca servia de tela para os horrores que eu havia visto em quatro dias e sem que eu percebesse me sentia como aquela pequena e solitária brecha. Meu consciente estava me alertando a todo instante que algo não estava certo, mas eu não conseguia sair do transe.

Jin não era culpado, ele não era o assassino. Eu havia matado um homem inocente? Poderia afirmar isso? Eu matei um homem que talvez estivesse tentando me avisar? O que ele diria se eu tivesse abaixado a arma?

As perguntas iam e vinham na minha mente, perturbando-me, sussurrando no meu ouvido todas ao mesmo tempo e eu queria gritar, mas a voz simplesmente se recusava a sair da garganta. E para piorar toda aquela angústia ainda havia as malditas lembranças do ato impensado de horas atrás, naquela banheira. O que eu tinha na cabeça para aceitar uma loucura daquela? Aceitar uma brincadeira proposta pelo Hoseok quando tudo naqueles orbes nefastos me indicavam o perigo? Perguntas, perguntas, perguntas!

O que o Jin sabia que não podia simplesmente me dizer? Por que eu sentia que estava colocando o primeiro pé para dentro de uma caverna escura? Como se estivesse correndo por um labirinto de espelhos? Tantas pistas, tantas coisas e ao mesmo tempo eu andava em círculos como um cão atrás do próprio rabo!

Os ponteiros do relógio estavam ecoando pelo quarto silencioso, o tempo parecia se arrastar e o meu corpo estava dolorido demais, pesado, criando raízes naquela cama. Minha respiração era quase insuficiente e meus olhos ardiam de minuto em minuto pela ânsia sufocante, gritante e aterrorizante. E se o Hoseok estivesse mentindo?

O Jin havia me dado inúmeros indícios, ele sabia sobre a charada, deixou o livro, entrou no meu quarto e estava diretamente ligado à investigação. Mas por que esses fatos me parecem tão errôneos? Alguma coisa parecia faltar, não encaixar. Um peão movido para a casa errada.

Suspirei pesado e esfreguei as mãos pelo rosto, arranhando e apertando as têmporas para logo puxar os meus fios de cabelo. O barulho do relógio estava me irritando, as vozes acusatórias me enlouquecendo, as perguntas verberando...

Sentei na cama de uma única vez, chutando os lençóis para o chão como se eles estivessem me amarrando o corpo. O tecido da minha blusa estava molhado de suor frio.

— Mas que droga!

Apoiei os cotovelos nos joelhos para poder segurar a cabeça pendida para baixo e fechei os olhos momentaneamente. Não iria conseguir dormir outra vez. Ergui lentamente a cabeça para passar os olhos pelo quarto, as coisas pareciam fora do lugar, bagunçadas. Mas eu tinha noção de que era apenas uma projeção, estava tudo perfeitamente alocado.

Meus olhos correram vagarosos e estacionaram no livro de capa vermelha que descansava no criado. Um estalo alto me fez ficar de pé e agarrar o objeto. Se o Jin se deu o trabalho de entrar no meu quarto para colocar o livro aqui, certamente tem algo nele que eu deveria ver. Certo?

O Silêncio dos InocentesOnde histórias criam vida. Descubra agora