M I N D . G A M E S

6.2K 839 2K
                                    


É verdade que se mente com a boca;

mas a expressão que se faz ao mesmo tempo diz,

apesar de tudo,

a verdade.

___________________________

Acordei com uma barulheira infernal no hotel. Eu estava um pouco zonzo e parecia que um pelotão do exército marchava pelos corredores. Minha porta estava quase sendo posta abaixo por batidas violentas e incansáveis enquanto eu ainda me sentia alheio a tudo, naquele estado letárgico de quem acaba de despertar. A voz do delegado irrompeu o quarto me assustando, quase engasguei com a minha própria saliva e saí correndo, tropeçando nos meus pés para poder atendê-lo.

— A bela adormecida acordou finalmente! — Yoongi disse em um tom bem mais alto que o necessário e eu inclinei a cabeça detendo o impulso de tapar os ouvidos — Se troque rápido, detetive, temos um N-13 na praça. Você estava certo, o desgraçado está copiando o Hoseok.

Minha mente juntou toda aquela informação muito rapidamente, fazendo-me bater aquele pedaço de madeira na cara do loiro e voltar desesperado para poder encontrar minhas roupas. Vesti tudo de qualquer jeito, torto e amassado. Indo até o banheiro para jogar um pouco de água gelada no rosto e escovar os dentes.

Eu estava uma completa bagunça, por dentro e por fora. Meu coração já estava acelerado só de pensar no tipo de atrocidade que me esperava, aquela tão familiar ansiedade subindo pelo corpo e fazendo com que as paredes ameaçassem me espremer. Só havia passado um único dia, mas as minhas olheiras já eram profundas e azuladas.

Saí pelo cômodo caçando meu celular e tentando limpar a mancha branca de creme dental do moletom. Avistei o aparelho sobre o criado ao lado da cama, apanhei-o para olhar as horas, eram quase seis. Enfiei no bolso da calça e já estava pra tomar rumo quando algo me chamou a atenção: Ao lado do abajur havia um pequeno livro de capa vermelha, objeto que eu claramente lembrava de não me pertencer. Ele não estava ali quando me deitei... pelo menos eu não havia reparado em nada do tipo.

A obra tinha o título em letras prateadas muito bonitas, mas não tive tempo de ler, pois o delegado colocou a cabeça para dentro do quarto, gritando alto e irritado que as viaturas já estavam em posição, forçando-me a abandonar a curiosidade para segui-lo.

Acompanhei o loiro até a garagem onde eu encontrei, bem mais rápido do que gostaria de admitir, os olhos analíticos e desafiadores do Jung. Ele estava encostado em uma das viaturas, olhando diretamente na minha direção como se esperasse algo, um sorriso enorme brincava naquela boca pecaminosa. Eu franzi o cenho e imediatamente tracei uma rota de fuga, indo de encontro ao Yoongi que me aguardava para entrar em outro carro.

O percurso foi breve, o crime havia acontecido aos moldes do segundo registro do Caso 10, ou seja, bem no meio da praça matriz de Seoul, uma das mais movimentadas. O delegado me disse que ligaram na central avisando sobre o acontecido e que ele estava surpreso, pois as rondas chegaram a passar por aquela instância horas antes, mas não viram nada de anormal nas redondezas.

Eu apenas concordei, o assassino estava cometendo os crimes de maneira acelerada, um atrás do outro, numa diferença de vinte e quatro horas apenas. Esse era o fator de vantagem ao meu ver, cedo ou tarde ele cometeria alguma falha por pressão ou nervosismo e quando isso ocorrer eu estarei o esperando.

— Droga! Que merda! — Yoongi reclamou assim que chegamos ao local, desceu do carro batendo a porta irritado, gritando xingamentos para os outros policiais. Eu só entendi o que diabos estava acontecendo quando coloquei o primeiro pé para fora e sete homens, com câmeras nas mãos, me abordaram cheios de perguntas e flashes.

O Silêncio dos InocentesOnde histórias criam vida. Descubra agora