B R O K E N . L I N E S

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As pessoas graves e sombrias tornam-se mais leves

precisamente através daquilo que torna outras pessoas graves.

Através do ódio e do amor, e chegam assim por um momento

à própria superfície.

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Jimin adentrou o quarto por completo e fechou a porta com o peso do próprio corpo, a expressão no rosto dele estava incrivelmente séria e os olhos afiados mantinham foco na figura de jaleco ao lado do delegado. Eu o observava atentamente, tentando pegar qualquer passo em falso que pudesse me revelar o porquê daquele comportamento, daquela tensão tão evidente que chegava a irradiar pelas arestas. Entretanto, assim que o barulho do trinco soou pelo quarto, como em um passe de mágica, um amplo sorriso rasgou aquela face um tanto infantil, dando a todos nós uma bela visão dos dentes branquinhos. O ruivo engoliu o que quer que fosse que estava travado em seu âmago e deu início aquilo que para mim, era um verdadeiro teatro.

Desviei o olhar para o enfermeiro, buscando analisá-lo de igual maneira. O rapaz permanecia ao lado da maca, parecia concentrado em calcular o gotejamento do soro, mas eu podia ver que os olhos dele estavam constantemente se desviando para o meu lado, acompanhado de um sorriso mínimo no canto dos lábios. Eu ergui uma sobrancelha para ele, consciente de que veria minha atitude questionadora, entretanto não consegui captar sua reação pois fui pego de surpresa por uma exclamação estridente que desviou minha atenção por completo.

Jimin estava todo risonho em frente a maca, segurando-a com uma das mãos, com o corpo um tanto inclinado para frente. Era uma atitude exagerada, notavelmente.

— Hyung, você é mesmo forte, hein! Já está quase cem por cento! — Comentou em meio a uma grande empolgação, ainda com os lábios bem esticados e sua expressão cativante. Mas não eram esses os detalhes que eu observava. Meus olhos estavam pregados nas mãos cujos nós dos dedos já estavam brancos, tamanha a força que o baixinho apertava a superfície metálica. Não me passou despercebido seu tom de voz trêmulo, nem tampouco o quanto ele parecia se esforçar para manter uma expressão facial tranquila, apesar dos músculos me indicarem o quão desconfortável ele estava.

— Chegou em péssima hora, Jimin. — O delegado falou e a respiração dele estava muito ruidosa e forçada, como se ele estivesse lutando com o próprio pulmão para não acelerar o ritmo. O olhar dele caiu frívolo sobre mim e eu não consegui sustentar a acusação que estava contida ali, desviando a visão para baixo.

— Você está me expulsando assim, hyung, na cara dura? Eu mal che...

— Sai. — O loiro interrompeu bruscamente a fala de Jimin, fazendo com que todos ficassem assustados com a atitude rude. Olhei para o enfermeiro e ele mordia o lábio inferior, mas devido ao ângulo não pude saber se era um tique nervoso ou se tentava conter alguma risada. O clima no quarto ficou sufocante em milésimos de segundos, o delegado estava bufando, completamente estático na cama, e a forma rápida como o ar saía pela sua boca fazia meu coração entrar em disritmia.

O suposto Jeon retirou as luvas, jogando-as no pequeno lixo e caminhou em passos contidos para fazer o contorno na maca em direção à porta. Meus olhos seguindo-o involuntariamente. Ele passou por trás do Jimin e eu pude ver com clareza o quanto o ruivo se encolheu pela proximidade. Entretanto, em total desacordo com a sua postura, a destra soltou o ferro da cama e pousou ao lado do corpo, um tanto aberta, virada e eu só entendi aquele comportamento quando o enfermeiro tocou com o dedo indicador aquela região. Nenhum dos dois desviou o olhar ou demonstrou reação ao toque sutil e secreto, mas eu sabia que aquilo era um sinal, e se meus palpites estivessem certos, eles iriam se encontrar outra vez.

O Silêncio dos InocentesOnde histórias criam vida. Descubra agora