W A L T Z . F O R . A . M U R D E R E R

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"Aquele que lida com monstros

Deve acautelar-se para

Não se tornar um também. "

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A música estava soando alta por aquelas paredes, eu quase podia sentir o ritmo serpenteando pelos corpos mutilados; subindo pela minha espinha até finalmente se instalar nos meus pensamentos. O som não me deixava aquietar e organizar os fatos, eu estava perdido em meio ao caos. Meus olhos buscaram novamente pelo bilhete preso entre dedos trépidos, aquela caligrafia era um presságio de que as coisas saíram completamente do controle, estaria correndo contra o tempo, agora mais do que nunca.

Meu nariz ardeu pelo cheiro intenso de sangue e carne queimada, aquele cenário pintado em carmesim estava gravado nas minhas íris de tal forma que, mesmo quando cerrava as pálpebras para fugir do terror, permanecia vendo tudo com extrema perfeição. Senti-me tonto, a ânsia aumentou a acidez da garganta e meu corpo pendulou para os cantos como se fosse cair. Meus calçados grudavam no chão conforme eu dava passos trêmulos e vagarosos.

Hoseok permanecia parado na porta, encostado no batente como um demônio que guarda minha entrada no inferno. Levei a destra até o queixo para limpar a ferida que ainda estava pingando um pouco, embora a dor tivesse sido suprimida. Acabei por sujar o pequeno papel e frustrado, deixei-o cair no chão.

O revólver vacilava como se eu tivesse sido acometido pelo Parkinson. Quem estaria tão insano a ponto de cometer tamanha atrocidade? Minha mente simplesmente não conseguia encontrar algum suspeito concreto, todos os hóspedes desse lugar pareciam estar recobertos por uma áurea puritana ou demasiadamente policial para se enquadrarem de primeira no perfil. Então quem? Quem era o dono de tal insanidade?

As perguntas iam e vinham; pesando o meu consciente, desfragmentando-me aos poucos, estilhaçando qualquer resquício lógico que me residia. Hoseok riu do meu desespero e eu o encarei enraivecido, meus olhos lacrimejando, o nariz escorrendo. Ele era o pior de todos, o mais cruel e despudorado.

— Do que você...!

— Está me ouvindo, detetive?! — A voz nos megafones interrompeu minha fala pela metade e por instinto eu olhei para cima, a procura das caixas de som. — Sabe onde eu estou?

O timbre mecanizado estava trêmulo e levemente arrastado, de modo que era deduzível que seu dono estivesse se movimentando com dificuldade ou fazendo força. Meu estômago congelou pelas hipóteses ao passo que Hoseok apenas desviou o olhar para um canto qualquer, entediado. Ao fundo da gravação havia ruídos um tanto longínquos que aos poucos iam ganhando a forma de choros e pedidos de clemência cortados por soluços aquosos. O teto parecia estar caindo sobre mim, espremendo-me conforme aqueles sons de angústia e sofrimento eram transmitidos.

O que se seguiu foi um barulho não identificado, mas que me sugeria algo rápido e talvez elétrico. Um grunhir contínuo, riscado e de repente gritos e risadas bradaram. Busquei pelo Jung imediatamente, por algo que me servisse de explicação para aquele circo de horrores, entretanto, Hoseok havia fechado os olhos, estava apreciando aquela monstruosidade como se tudo fosse uma valsa para seus ouvidos. E eu estava em completo pânico, sentia que estava enlouquecendo e por instantes cogitei usar a arma a minha frente e acabar com tudo aquilo. Dois disparos inesperados e com sorte a graça daquele espetáculo grotesco se findaria.

Mas não podia, eu havia prometido ao Jin e ao Namjoon hyung, eu os vingaria, custasse o que custasse.

— Tente... adivinhar. — A transmissão terminou com uma risada afetada e o retorno da música. As lágrimas escorreram pelo meu rosto, embaçando tudo ao redor. O ar estava preso na garganta e não importava quantas vezes eu o puxasse para dentro dos pulmões, nada vinha. Eu estava me afogando nos cacos da minha própria lucidez.

O Silêncio dos InocentesOnde histórias criam vida. Descubra agora