D E A D L Y . A G R E E M E N T

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" Não há na natureza paixão mais diabolicamente impaciente

Como a daquele que, tremendo à beira dum precipício,

Pensa dessa forma em nele se lançar. "

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Não foi difícil descobrir a razão pela qual Jung Hoseok recebia uma atenção especial de todo o presídio e, também não demorou muito para eu entender o porquê de tantos avisos e precauções. O poder daquele homem estava mascarado, quase imperceptível.

Ele era bonito, detinha um rosto anguloso muito peculiar, o maxilar era perfeitamente delineado. O cabelo era de um preto puro e pesado. Brilhosos como verniz. A pele não tinha sequer um arranhão. Os lábios eram rosados, delicados e deles ecoava uma voz melodiosa, rítmica embora entediada.

Os olhos, parcialmente cobertos por alguns fios, tinham uma cor intensa e quente, algo como avelã e conhaque. Mas eu não saberia explicar de forma poética o que aqueles orbes representavam: eles te deixavam a vontade, como se você estivesse sendo acolhido, embalado pelo calor de uma fogueira. E ao mesmo tempo, exerciam uma força sufocante, enclausurando-te dentro daquele mar turvo e agitado. Era como se você estivesse no alto de um penhasco observando a imensidão de águas profundas... O vento sussurrando ao pé do teu ouvido, influenciando-te a querer saltar. Não para a liberdade e sim para o abraço das sombras que puxam-te.

Era um olhar silencioso. Paradoxal.

Absurdamente, inexplicavelmente e perigosamente... magnético.

E foi ao notar tal ameaça que pisquei severas vezes para sair do transe, porém cometi o erro que creio eu, todos cometeram. Desviei o olhar para baixo e Hoseok percebeu. O resto aconteceu no decorrer de no máximo três segundos, mas o tempo parecia ter parado. Estava escorregando, vagaroso e sem pressa, tornando cada movimento daquele homem motivo de holofotes.

Hoseok aos poucos desmanchou o sorriso no canto da boca, alongando-o mais e dando-me uma visão dos dentes perfeitamente alinhados e brancos. Eu suspirei. O maldito sorriso parecia, à primeira vista, muito simpático. Quem olhasse sem atenção total não notaria a malícia por trás daquele ato singelo. Era uma armadilha, o sorriso dele.

A função do olhar era justamente te fazer tentar desviar e assim tendo feito, você cai nas garras daquele riso que esconde no âmago toda uma alma cruel, depravada e sádica.

Era um sorriso, acima de tudo, manipulador.

Tudo em Jung Hoseok era tentador. A imagem dos pés à cabeça era de um rapaz na aurora da vida em quem você pode confiar. Ele era a personificação de Leviatã: o homem que é o lobo do homem.

Notei que assim como eu, o anfitrião parecia despir-me, avaliar, apontar e analisar minuciosamente. Permaneci tão parado quanto ele. O oxigênio estava preso na minha caixa torácica fazendo uma pressão insuportável. Eu abria a boca para tentar pegar ar e desafogar, mas era impossível. Sequer sentia que ainda respirava.

Com um arranhar na garganta eu arranjei forças do além para abaixar a cabeça e então ergue-la para o teto pegando todo fôlego que fosse possível. Então eu dei um passo à frente e olhei dentro daquele mar.

— Olá, senhor Jung, eu sou o detetive Kim Taehyung.

Surpreendi-me por ter dito tudo de uma única vez sem gaguejar e Hoseok me mediu de cima a baixo como se duvidasse das minhas palavras. Ele me devolveu o olhar e fechou o sorriso. Ficou sério. E eu senti como se o teto tivesse abaixado, quase dobrei os joelhos com medo de ser esmagado.

O Silêncio dos InocentesOnde histórias criam vida. Descubra agora