W E L C O M E

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"Era noite, e a chuva caiu

E caindo, era chuva, mas

Tendo caído, era sangue. "

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Minhas palavras deram um nó na garganta e eu fiquei estático na cadeira. Esfreguei uma mão na outra, apenas para confirmar que o nervosismo já estava me fazendo suar frio. Um desconforto na boca do estômago parecia ter me acorrentado e aos poucos o silêncio pesou naquela sala.

Todos os participantes da reunião ficaram mudos, a quietude do ambiente era tanta, que eu conseguia ouvir cada batida dos corações desritmados.

As arestas da sala pareciam querer sufocar-nos ali dentro e de repente tudo se encolhia, esmagava e estrangulava sob o olhar sério do delegado; causando-me uma sensação claustrofóbica tão intensa, que precisei erguer a cabeça em direção ao teto para encher os pulmões com o ar que parecia rarefeito.

A postura de Yoongi não vacilou por um segundo sequer, ele mantinha o corpo ereto e as mãos espalmadas sobre a mesa. A aparência quase irredutível que ele impunha só desviou-se quando um riso anasalado e trêmulo ecoou, aumentando ainda mais a atmosfera carregada.

— Você sabe bem como ele é, Yoongi. Não vai funcionar. – Todos os olhares voltaram-se para o homem sentado em uma das extremidades. Ele tinha feições tranquilas, os ombros largos estavam cobertos por um jaleco impecavelmente branco e os fios castanhos do cabelo erguiam-se num topete discreto.

— Além disso, não sabemos se o garoto quer ser jogado na jaula do leão.

Apesar do timbre suave, era perceptível que havia um cinismo gritante na fala do médico. A própria postura dele me dizia: o tronco alçado, os cotovelos apoiados sobre a mesa, os dedos entrelaçados, o queixo que descansava nas falanges e até mesmo o pequeno inclinar da cabeça quando ele finalmente terminou de se pronunciar.

Entretanto, o que mais prendeu-me a atenção, de certo foram os olhares trocados entre ele e o delegado, eles pareciam soltar faíscas com apenas um vislumbre. Era como uma guerra fria.

Engoli seco.

— Você tem uma alternativa melhor, Seokjin?

O loiro ergueu uma sobrancelha e aguardou uma resposta.

— Faça o que bem entender então, mas pergunte ao garoto primeiro. Você, mais do que todos, deveria saber que não se trata de um assassino qualquer. É o J-Hope que está naquela cela.

— Eu sei quem está lá Jin, mas obrigado.

Tudo tão insolente, que doeu em mim a acidez da conversa. A verdade mesmo era que Yoongi estava desafiando o homem a contradizer suas ordens e eu nem quero saber o que aconteceria se Jin usasse as palavras erradas. Afinal, nas minhas poucas horas de observação, ficou bastante claro que o loiro não admitia ter sua palavra desacatada.

Fui tirado dos meus pensamentos pela voz autoritária de Yoongi me chamando a atenção.

— Taehyung, você aceitaria uma conversa com o pior assassino da Coreia? – Outra pergunta que pareceu-me retórica.

Encarei as expressões aflitas a minha volta. Quem diria que eu estava prestes a ganhar uma oportunidade dessas? Eu conseguia sentir a ansiedade explodir e alastrar-se no meu peito, fazendo-me travar o rosto para segurar um sorriso quilométrico.

— Aceito sim, claro. – Tentei não responder muito rápido ou demonstrar minha animação, mas pelo pequeno sorriso que se formou no rosto do delegado, acho que fracassei miseravelmente.

O Silêncio dos InocentesOnde histórias criam vida. Descubra agora