Capítulo 1

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(Las Vegas, 9 de agosto de 2023)

Luke hesitou na porta da boate por um momento. Nunca fora adepto às noitadas, nem mesmo quando ainda era um adolescente, muito menos agora que já estava perto dos trinta anos. Aquela multidão de pessoas cheirando a álcool e suor se acotovelando enquanto diziam estar dançando, todas aquelas luzes, as palavras sem importância gritadas ao pé do ouvido... Momentos como aquele o faziam se perguntar por que diabos estava em Las Vegas.

Ah, certo, porque eu não tive muita escolha, disse a si mesmo com resignação. É só um fim de semana, repetiu a si mesmo como um mantra. Afinal, fins de semana costumavam passar voando para a maioria das pessoas, certo?

Certo, respondeu sarcasticamente para si mesmo.

Ao seu lado, seus melhores amigos – e atuais carrascos – Calum e Ashton, não pareciam compartilhar seus pensamentos, a julgar pela maneira como olhavam para a mesma cena.

- Parece animado! – exclamou Ashton, esticando o pescoço para tentar enxergar por cima da multidão. A mão no braço do marido se movia ao ritmo da batida.

- Nem pense em desistir, cara – Cal gritou próximo ao seu ouvido. Sua cabeça também se balançava num movimento aparentemente inconsciente. – Se bem que... eu bem que trocaria a balada por umas apostas – Seu olhar se desviou languidamente para a sala adjacente à da boate, onde se podia ouvir o barulho das roletas e o som estridente de campainhas.

-Você se lembra do que nós conversamos sobre os jogos, não é mesmo, Cal? – Ashton o cutucou severamente.

Calum revirou os olhos de modo que apenas Luke visse.

- Sim, sim, não gastar mais dinheiro que o combinado, lembrar que as probabilidades estão a favor do próprio cassino, blá-blá-blá... – Calum abaixou o tom de voz para que o marido não pudesse ouvi-lo. – Ele me deu uma aula sobre porque os jogos de azar são proibidos em muitos países.

- E você prestou atenção em alguma coisa? – Luke perguntou sarcasticamente.

- Claro! O suficiente para poder fazer comentários como o que acabei de fazer. Ele suspeitaria se eu ouvisse menos do que isso. Casamento é assim, cara. Com o tempo a gente vai pegando as manhas. – Calum deu tapinhas nas costas do amigo – Agora siga em frente. O bar fica a uns cinco metros à direita, caso isso sirva de consolo.

- Obrigado.

- Vá com calma, hein?

Luke fingiu não ter ouvido e se enfiou por entre a multidão sem se preocupar se estava sendo seguido. Na verdade, estava torcendo para que seus amigos fossem para qualquer outra direção. Não estava no melhor dos humores. Se parasse para pensar, não culparia os amigos, afinal, eles só estavam tentando ajudá-lo, mas Luke se sentia no direito de culpá-los pela própria frustração, nem que fosse por apenas alguns minutos.

Luke teve a sorte de se aproximar bem no momento em que um casal deixava o bar, o que permitiu que ele conseguisse um dos lugares para se sentar, enquanto o outro foi rapidamente engolido pelo traseiro avantajado de um senhor que se vestira como um elegante executivo numa provável tentativa de arrumar companhia. Um homem que chegara meio segundo depois fuzilou-o com os olhos, mas Luke o ignorou e fez sinal para o barman mais próximo.

- Boa noite, um Dry Martini, por favor.

Luke percebeu que era atentamente observado pelo rapaz ao seu lado, cuja única característica que sua visão periférica permitia reparar era o cabelo vermelho bagunçado em contraste com a camisa preta. Luke ficaria feliz em ignorá-lo também, não fosse o fato de seu observador ter lhe dirigido a palavra.

Apostando alto | Muke VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora