Capítulo 14

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Poucos minutos depois, Stratford já estava acomodada no seu lugar de sempre, com uma xícara na mão e um sorriso arrepiante no rosto, encarando seus dois anfitriões sentadas lado a lado no sofá oposto. Clifford tinha uma expressão confiante, mas algo no sorriso da mulher dizia que a situação não estava nada boa para o lado deles.

-Então, espero que vocês tenham descoberto coisas interessantes a respeito um do outro, porque eu certamente descobri. – Ela deu sua risadinha infantil antes de bebericar alegremente seu chá.

-Bem, eu descobri que meu esposo pode ser bastante persuasivo quando quer. – Clifford começou. – Ele até conseguiu me convencer a fazer academia com ele, como você já deve ter ficado sabendo, claro.

-Sim, sim. – Stratford fez um gesto entediado. – Academia às terças e quintas, duas idas ao cinema com direito a jantar fora. – Ela suspirou. – Sinceramente, espero que vocês tenham cartas melhores na manga do que essas.

-E suponho que sua carta tenha a ver com o meu ex-namorado perseguidor, que Luke majestosamente colocou para correr, aliás?

O sorriso de Stratford vacilou por uma fração de segundo antes que ela se recuperasse.

-Se fosse, certamente não seria a única, Sr. Clifford. Mais alguma cosia?

-Nós contamos a todos em nossos respectivos trabalhos. – Luke comentou, procurando o olhar de Clifford para confirmação do que dizia.

-Sim, Luke chegou até mesmo a me incluir em seu seguro. Não acho que haja maior prova de amor que essa, se é que minha opinião conta para alguma coisa. – Clifford acrescentou, sarcástico.

-Infelizmente, para os senhores, é a minha opinião que conta para o juiz. – Stratford deu outra de suas risadinhas e ajeitou o pesado medalhão em seu colo, a única peça destoante de seus tons avermelhados. – Algo mais? – Ela esperou e Clifford bufou.

-Bem, imagino que você não espere que eu conte detalhes da nossa vida sexual, espera? Porque eu certamente poderia falar por horas e horas, não é mesmo, querido?

Luke limpou a garganta, sentindo o sangue se acumular no rosto e no pescoço.

-Claro. – Falou, verdadeiramente encabulado.

Os olhos de Stratford se estreitaram por um instante, passando de um para o outro de maneira desconfiada antes de fazer uma careta de descaso.

-Infelizmente não tenho como tirar prova da intimidade sexual de vocês dois, mas posso provar que vocês deixam muito a desejar nos demais aspectos da intimidade, como contar um ao outro sobre seus segredos mais bem-guardados. Por exemplo, Sr. Hemmings, seu esposo já comentou com você o motivo de não ter se tornado um advogado, não?

-Bem, ele disse que optou por isso porque... – Luke começou, mas Clifford desviou os olhos. Luke não precisava ser nenhum gênio para saber que não era porque as pessoas se estapeariam para contratá-lo, como ele certa vez justificara.

-Foi o que eu imaginei. – Stratford atalhou, adivinhando corretamente. – Na verdade, o Sr. Clifford não escolheu passar a vida como um pseudo-consultor jurídico numa empresa imobiliária por vocação. Ele simplesmente falhou no teste da Ordem.

-E como você pode ter tanta certeza disso? – Clifford devolveu. – Quem garante que eu não falhei no teste de propósito para não ter que advogar?

-Ora, você vai ter que fazer melhor do que isso se quiser me passar a perna, Sr. Clifford. Aliás, você saberia dizer se o seu esposo foi vítima de algum tipo de abuso durante sua infância?

Apostando alto | Muke VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora