Capítulo 22 (parte I)

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(Las Vegas, 9 de agosto de 2023)

-Então. – Michael sentou-se ao lado de Hemmings novamente, guardou seus dólares no bolso do casaco e alcançou sua bebida no balcão com tranquilidade. – O que você tem feito desde...o colegial, Hemmings?

Hemmings fez sinal para o barman, que chegou todo solícito, lançando olhares de esguelha para o casaco de Michael.

-Mais uma dose, por favor. – Luke pediu.

-Duas. – Michael esvaziou seu copo rapidamente e empurrou-o através do balcão até a mão ágil do barman. Ele até que não era feio, mas não parecia ser gay. – Então? – Michael pressionou, voltando toda sua atenção para seu acompanhante enquanto suas bebidas eram servidas.

Hemmings rolou os olhos.

-Eu me formei e tenho um emprego. E você? – Ele devolveu a pergunta, fazendo questão de não parecer interessado.

-O mesmo. – Michael deu de ombros. – Em que você se formou?

-Tecnologia da Informação. Pós-graduação na área também. Você?

-Não, nada de pós-graduação para mim. – Clifford falou, esperando que Hemmings percebesse que se eximira de dizer em que se graduara, porém ele não parecia estar prestando muita atenção àquela conversa. Estava olhando por trás de seu ombro, para a pista de dança, provavelmente procurando seu amigo para lembra-lo de quão infeliz estava por causa dele. Michael respirou fundo e molhou a boca na própria bebida, como vinha fazendo a maior parte da noite. O segredo era fazer com que as pessoas pensassem que tinha bebido tanto quanto ou mais do que elas. Aprendera aquilo com seu pai.

O pensamento fez com que seu rosto se contorcesse involuntariamente numa careta e Michael girou o próprio corpo em seu banquinho para disfarçar, ficando de frente para a pista de dança, com os cotovelos apoiados no balcão. Hemmings hesitou um pouco antes de beber sua dose de um único gole e imitar sua posição. Michael sorriu, satisfeito.

-Você ainda está morando em Sydney? – Perguntou, quando ficou claro que Hemmings não colaboraria com sua causa. Normalmente, Michael ficaria satisfeito em evitar jogar conversa fora, mas tinha que entreter Hemmings se pretendia ganhar aquela aposta. E a perspectiva de arrancar duzentos dólares de Hood era motivação suficiente para ele.

-Sim. Você?

-Já pensei em me mudar, mas vivi minha vida toda lá. Não é fácil abandonar uma vida toda.

Hemmings deu um risinho cínico e Michael pensou por um momento se os papéis não haviam se invertido sem que ele percebesse.

-Pensei que você diria que não é fácil abandonar a casa dos pais.

Aquelas palavras foram como um tapa em sua cara, porém Clifford não estava disposto a deixar aquilo transparecer e disfarçou o ímpeto de emoção levantando-se de repente e fazendo um gesto convidativo.

-Que tal dançarmos um pouco?

-Eu não danço. – Hemmings falou, ainda evitando encará-lo. – Mas fique à vontade para ir, se quiser.

Michael respirou profundamente para conter a raiva, voltando a se sentar antes que alguém roubasse o seu lugar. Talvez houvesse subestimado seu desafio da noite, mas logo veriam quem era o mais teimoso dos dois.

-Para o seu governo, moro sozinho há cinco anos. – Falou, com calculada despretensiosidade, ao que Hemmings deu de ombros novamente.

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