Capítulo 4

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(14 de agosto, quinta-feira)

Luke teve que apoiar a pesada caixa que carregava num joelho para poder apertar o botão do sexto andar no elevador.

-Vamos, vamos, vamos – Ele murmurava entredentes para as portas do elevador enquanto dava um sorrisinho sem graça para o porteiro. Não fora nada fácil convencê-lo de que não precisava subir pelas escadas, pois não atrapalharia ninguém no elevador. 'Veja só, ainda sobrou um espação!', ele argumentava em pensamento enquanto se encolhia o máximo possível num canto. O porteiro ficou encarando até as portas do elevador se fecharem por completo, e só então Luke relaxou uma pequena fração, pois a alça da mala que carregava num dos ombros estava ameaçando escorregar a qualquer momento. Fixou os olhos no mostrador logo acima e começou a murmurar um mantra.

-Por favor, não pare, por favor, não pare... Ah, qual é? – Luke praguejou quando o elevador desacelerou no quarto andar. Sorriu para a garota que esperava para entrar, porém recebeu um olhar tão carregado de desdém que quase voltou a xingar. Era de se esperar que o prédio onde Clifford morasse fosse habitado por pessoas mesquinhas e esnobes como ele.

Para não contrariar a maré de azar na qual Luke se encontrava, o elevador também parou no quinto andar, apesar de não haver ninguém esperando para entrar. Quando finalmente atingiu o sexto andar, Luke quase tropeçou na pressa de chegar logo em seu destino. Praticamente jogou a caixa na porta do apartamento 63 e deixou a mala escorregar para o chão com um gemido, ajeitando a alça torcida da mochila.

Hesitou antes de tocar a campainha, mas já havia chegado longe demais para desistir, e empurrou o botão com determinação. A porta parecia reforçada o suficiente para não deixar passar nenhum som, mas Luke apertou uma segunda vez quando se passaram alguns longos segundos sem resposta. E outra vez. A quarta foi praticamente uma agressão ao botão, junto com algumas pancadas nada gentis.

-Merda, Clifford, eu que você está aí! O porteiro já me anunciou seu filho de uma...

A porta do elevador se abriu e Luke engoliu o resto da sentença. Um senhor muito bem vestido e encarou de maneira desconfiada enquanto rumava para o apartamento vizinho.

-Boa noite. – Luke cumprimentou, porém só recebeu um grunhido de volta antes que a porta fechasse em sua cara.

-Só pode ser brincadeira. – Luke exclamou incrédulo, antes de atacar o botão novamente e segurá-lo por um longo período. Aquilo teria sido mais assegurador se Luke ouvisse algum barulhinho irritante do lado de dentro, mas não conseguia ouvir nada, mesmo encostando o ouvido na porta. – Merda.

Luke deu um último soco na madeira trabalhada e lustrosa da porta e escorregou para o chão, sentando-se com as pernas esticadas de exaustão. Arrependeu-se profundamente dos acontecimentos dos últimos dias e, mais recentemente, de não ter pedido ajuda a Calum e Ashton. Sabia que seus amigos não teriam medido esforços para ajuda-lo, mas não sem antes perguntarem se ele tinha certeza do que estava fazendo, ou se aquilo tudo valia a pena. Mais do que evitar aborrecimentos, Luke estava determinado a seguir adiante com aquilo e não queria correr o risco de ter sua resolução abalada. Arrependeu-se também de não ter pedido o número do telefone de Clifford, nem que fosse para deixar uma mensagem nada educada sobre como ele era um bastardo mesquinho e metido à besta...

-Opa! – Luke exclamou quando a porta se abriu de repente, fazendo com que caísse para trás e desse com a cara no roupão de Clifford.

-Ei! – Exclamou Clifford, dando um passo para trás e apertando o tecido atoalhado junto ao corpo. – Não tão rápido, Hemmings.

-Idiota. – Luke se levantou, mostrando os punhos ameaçadoramente para o outro. – Achou que eu ia desistir só porque você demorou meia hora pra me atender?

Apostando alto | Muke VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora